Não sei dessas situações, qual é a mais ridícula: tomar banho de cócoras, em escassos litros de água, porque a cidade toda já vai em não sei quantos dias sem água na rede; não trabalhar, ver a televisão ou qualquer coisa que seja eléctrico, porque já conhecemos a essa estória de cor e salteado; ou se é essa sociedade bundona, apática e ridícula, perfeitamente silenciosa a suportar esses estado de coisas, num país com as mais avançadas tecnologias de informação, onde o parque automóvel do Estado é invejável, não se dispensando os banquetes nos hotéis caros da cidade, nas dezenas de eventos que se fazem por mês neste país.
Já estou a ficar pelos cabelos de fóruns e galas em salas climatizadas, ornamentadas e chiques, para tratar de assuntos graves que acontecem na aspereza do terreno. Já estou a ficar perfeitamente indignado com esse exército de técnicos que mal conhecem os caminhos de Safende, Latada, Monte Agarro, Calabaceira, Ponta Água e dezenas de outras zonas que vão nascendo por esta cidade, que por falta de presença institucional, vão-se intitulando de "Jamaica", "Tchetchénia", "Kobom", etc., onde a realidade, garanto-vos, é bem mais dura que em páginas de relatório, mas, ao mesmo tempo, é menos apática que essa pequena burguesia administrativa. Existem umas tantas iniciativas comunitárias, que me parecem a nadar num rio seco.
...Sinceramente não sei se estaremos de verdade comprometidos com o desenvolvimento do nosso país. Ou se saberemos como nos comprometer.
3 comentários:
Que tal dares a tua contribuição, destacando aqui no blog algumas dessas iniciativas comunitárias?
Por que não fazer visitas guiadas a esses bairros mais pobres e com fama de mais violentos, não só para os técnicos que mencionas, mas para toda a gente? Um pouco à semelhança do que se faz às favelas do Rio de Janeiro, às townships da África do Sul, aos slums da Índia, aos bairros de gangs em Los Angeles e à Cova da Moura em Lisboa. Chama-lhe voyerismo, chama-lhe exploração da miséria alheia. Mas acho importante essa chamada de atenção para a pobreza, num país dopado pela entrada na OMC, pela ascensão a PRM, etc.
E é por isso falas de sociedade como falaria qualquer um com segundo ano de escolaridade, e depois fazer constatações do género "tomar banho de cócoras" e comentários de dondoca "Já estou a ficar pelos cabelos"
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