27.7.10

Grito

A propósito do comentário de Houss no post "silêncio", sobre a ausência de Amílcar Cabral nas nossas notas (dinheiro) e sobre a sensação do desvanecimento da figura deste líder maior, do nosso dia-a-dia, das nossas conversas.

Eu tive a "obrigação" de ler muito sobre Cabral, para um trabalho que fiz e foi lendo que descobri o quanto nós somos ignorantes do seu percurso, importância para o pensamento nacionalista africano, influência para os nossos primeiros dirigentes e figura de destaque no mundo. Os suecos devem admirar Amílcar Cabral mais do que nós próprios. Parece-me que é mesmo da humanidade, não conseguir valorizar o que está perto demais, o que nos parece demasiado vulgar para ser elevado.

Bem, como isso não quero dizer que as figuras da história devam ser mitificadas. Não, mais simples que isso; temos unicamente que continuar o trabalho que eles começaram. Amílcar Cabral fez um grande esforço para a definição de uma série de condutas, para que os povos africanos pudessem se emancipar e trilhar o seu próprio caminho. É verdade que boa parte da sua moral está vinculada ao contexto da guerra, mas é verdade também que ele professava essencialmente a valorização do homem; por exemplo, acho de um romantismo insuperável, que ele tenha insistido em ter escolas para todos, em plena guerra. Ele era um idealista, mas ao mesmo tempo um pragmático.

A minha posição em relação a Cabral, não é de endeusificação; é de aprender a ter respeito pela história e a admirar um homem de obra. Uma inspiração, no fundo.

Nós aqui, não é só Amílcar Cabral que não valorizamos; estudamos muitos dos grandes filósofos, mas são poucos os que conseguem identificar as suas condutas ao que aprenderam na escola. Somos imediatistas, fingimos que os problemas são só dos outros, somos ligeiros e vaidosos. É de contar nos dedos os homens deste Cabo Verde da actualidade, que inspira uma real admiração.

7 comentários:

Álvaro Ludgero Andrade disse...

Prezado César, acertaste na mouche uma vez mais, mas infelizmente o cabo-verdiano prefere valorizar o outro porque é complexado. Nós pensamos que se valorizarmos alguém dos nossos, estamos a revelar a nossa inferioridade. Até nisso os americanos têm razão: primeiro eles e depois o resto. Mantenhas

Álvaro

Anónimo disse...

Se há assuntos tabus na nossa terra, Cabral é um deles.

Algumas perguntas que incomodam mas que a bem da reposição da verdade histórica têm de ser feitas

1. Onde anda o último discurso de Amílcar Cabral, onde muitos dizem "em silêncio", que terá sido o discurso onde Cabral assinou a sua sentença de morte ... ?

2. Porque não reproduzem os discursos de Cabral com a sua viva voz? São discursos gravados (tv e rádio), que os cabo-verdianos nunca ouviram. O que é feito desse arquivo? foi queimados como foram queimados documentos importantes (registos de propriedade por exemplo)?

3. Onde andam os chamados "livrinhos de Cabral"? Manuais onde Cabral escreveu sobre o que fazer com a Educação, a Saúde, a Economia, etc, do Estado independente? Porque esses livros foram alvo de busca e foram confiscados pela polícia política do Regime pós-morte de Cabral?

4. Porque assassinaram todas as pessoas (centenas de pessoas, incluindo crianças) directa ou indirectamente envolvidas na morte de Cabral, sem nunca ter havido julgamento e/ou ter sido apresentado razões factuais e provas concretas dos verdadeiros autores da morte de Cabral?

Para já são essas as questões, que muito sono vai tirando na vida de algumas pessoas, que antes de morrerem têm a obrigação moral de deixar o seu legado à verdadeira história de Cabo Verde.

"o tempo é o melhor remédio"

Armando Cunha

Cesar Schofield Cardoso disse...

Alguém já se perguntou porque razão a diplomacia cabo-verdiana é um dos sector mais fortes da administração do Estado? Será um dos maiores legados de Amílcar Cabral: puxar da comunidade internacional o melhor e maior possível, independentemente se é da direita ou da esquerda. Ainda bem que guardamos essa capacidade diplomática, mas fazia bem reconhecer de onde ela vem.

Só suposições pessoais, claro.

Anónimo disse...

Saber Apenas...
http://sondisantiagu.blogspot.com/2010/07/quiz-nacional.html

Djinho Barbosa

Anónimo disse...

Prezado Cesar mais uma vez tiro o chapeu a tua conduta informativa, emotiva e esclarecedora de uma alma que está sempre a exercer a sua cidadania. Em tempos, no mindelo um grande actor/autor portugues, negro de pele e raça nos tinha dito, a proposito de uma peça teatral que retratava " CABRAL", de que muita gente já tinha sido assassinada por tentarem descobrir sobre a morte desse lider, inclusive até ele estaria a pôr a propria vida em risco, porque para escrever esta peça teve que ir muito a fundo sobre a vida e morte de Cabral. É claro que muitos lideres actualmente em Cabo Verde, não tem sono tranquilo, porque sabem que muita coisa podre pode vir a ribalta a qualquer momento. Mas, se algum dia os Americanos resolverem abrir o dossie "Cabral", afinal muitos perguntam o porque de aceitar-mos tudo o que eles nos manadm mas que as respostas podem ser varias...

Anónimo disse...

vejam este post aqui
http://universalpolice.blogspot.com/2006/06/quem-matou-amilcar-cabral.html

Mendes Garcia disse...

Sou de opinião que algum investigador dentro das áreas sociais deveria esmiuçar melhor está temática, o que nos ajudaria para memória futura.Corridos tantos anos estamos "órfãos" de uma informação cabal sobre os meandros do assassínio do líder histórico Africano.