16.8.10

Escuro

Quem paga as toneladas de combustível que cada empresa é obrigada a consumir, para ter, em termos industrias, um bem básico que é a energia? E os muitos trabalhadores e pequenas empresas que não podem sequer suportar geradores e toneladas de combustível? Quem paga os electrodomésticos que vão se queimando ao ritmo dos apagões? Quem paga o descontentamento dos clientes que ficam a espera do trabalho que não saiu porque não há luz? Como explicar (e evitar perder uma parceria) aos estrangeiros que o relatório não foi enviado, pela enésima vez, porque falta energia enésimamente? Quem paga os meus nervos? Em que conta se debitará o custo da incompetência e das políticas desacertadas?

Quem paga os contentores-geradores, alugadas pela Electra, para suplementar a energia nesta altura de pico de consumo, que afinal não suplementam nada? Quem paga os salários do exército de técnicos dessa empresa?, que não tem culpa, claro! Aliás, ninguém tem culpa. Não tem culpa o Governo se as Câmaras devem enormidades à Electra. Não tem culpa as Câmaras se o Governo não consegue parar o roubo de energia. Não tem culpa o gestor da empresa, se o Governo não investe os fundos necessários. Não tem culpa os funcionários, se já estão há anos sem progressão na carreira; não tem culpa os técnicos se tem família para alimentar, o que os obriga a um bico. Não tem culpa os cidadãos, se não tem nada a ver com isso. É uma situação sem culpa.

E quem paga a factura? Fica a adivinha.

3 comentários:

Ivan Santos disse...

E quem paga a nossa apatia a isso tudo!!!???

Ivan Santos

Anónimo disse...

Começo por dizer que nesta história da Electra não há inocentes. Adiante explicarei. É normal que um país que é violentado diariamente por uma empresa do ESTADO que tem por obrigação fornecer bens essenciais (seria até interessante contabilizar os prejuízos directos e indirectos destes black outs junto de empresas e famílias), o povo nada faça? Nada?
Perdoem-me, mas o ‘POVO’ NÃO TEM QUE SE QUEIXAR. TEM O QUE MERECE!!

E se não há inocentes nesta história o juízo acima peca, na sua linearidade, por simplismo, para não dizer paternalismo? Coitado do povo, a sofrer às mãos bárbaras de uma tal empresa. Mas será que o povo (essa entidade ambígua onde quase tudo cabe) nada tem a ver com a situação? Vejamos:
- Consta que as perdas de energia SÓ NA CIDADE DA PRAIA em 2008 equivaliam às vendas totais de energia das ilhas de Fogo, Brava, Maio e Boavista do mesmo ano, e que em 2009 equivaliam a perdas financeiras na ordem dos ECV 350.000Ct’s. De notar que estas perdas por Roubo/Fraude são crescentes. Ou seja, tendencialmente este ano será pior do que no ano transacto.
- Adicione-se a estas perdas outro tanto, ou mais, em perdas técnicas e comerciais, e temos perdas globais na ordem do 40%. Pode o arredondamento ser exagerado e por excesso, mas nenhuma tesouraria aguenta tamanho rombo, nenhuma gestão suporta tamanhas perdas. É uma hemorragia incontrolável o que se passa na Electra.
- Acresça-se ainda outros custos não reflectidos no preço final (o preço é controlado como sabemos), nomeadamente os aumentos do preço do combustível, digamos hipoteticamente mais 15% ano, que não são reflectidos na factura do consumidor (dos consumidores que pagam, entenda-se). Quem vai ressarcir a Electra por esta perda líquida no seu balanço? Na prática a Electra está a subsidiar o consumidor.
-Nem vale a pena falar nos custos com o abastecimento de água, e nas gigantescas necessidades de investimento de que o sector da água e energias carecem.
Falar que é fácil resolver o problema da Electra é demagogia. A empresa é um cancro que já devia ter sido extirpado há muito tempo, e agora não é com pensos rápidos que lá se vai.
Seria bom que o POVO, o que protesta e reclama, meditasse nisto en passant.
Ou não será que o povo é quem menos sente, e menos sofre, com esta situação caricata? Quem mais ‘sofre’ é a pequena e média burguesia instalada, acomodada e refastelada nos seus sofás a ver novelas a metro, apoiada pelos seus geradores altamente poluentes. Na verdade só sofre quem não tem gerador. Mas, quem não tem? O jogo está viciado. Quem pode, acautela-se (e todos sabemos quem, seja com geradores seja com reservatórios), e, bem ou mal, lá se vão safando. O povo, esse, coitado, já está habituado a sofrer, logo não faz muita diferença mais um dia sem água ou/e sem luz. Tanto mais que muito dessa luz é “de graça”. Se tudo isto não fosse cómico, seria grotesco, se não fosse patético seria surreal, se não fosse hipócrita seria absurdo. Vivemos num paradoxo que nós próprios criamos, alimentamos, e no qual nos comprazemos. Definitivamente não passamos de um caso clínico. Será que as queixas, afinal, não passam de lamúrias. A Electra está mal? Está! Mas não pode servir de bombo da festa, nem de bode expiatório exclusivo. Não há inocentes neste regabofe. Ou estou enganado?
Espero estar em grande parte enganado. Mas o dramatismo com que é tratado o caso Electra em Cabo Verde não é compatível com o comportamento dos cidadãos? Se a situação é assim tão má, e atinge tanta gente, por que razão ninguém se mexe para que as coisas mudem? Afinal toda a gente sente na pele o problema. Ou não? Ajudem-me a perceber!!!!
Abç's
ZCunha

PIDE-mindelo disse...

Eu já estou farto da electra a ponto de nao poder ficar sem ela. Estou farto de ficar sem luz e água da electra. Estou farto de ver gente a reclamar de situações que se podiam ser evitadas, com a queima de electrodomesticos. Por exemplo, quando há um corte a pessoa deve ir lá aos disjuntores de proteção parcial das tomas e desligar, pode-se deixar só as lampada (são baratas), ou então desligar o equipamento directamente da tomada. SIMPLES. Assim quando a energia for restabelecida o equipamento não sofre com o pico de corrente. Por outro lado, a questão é complexa. Entramos no mundo do consumir tudo sem ver os custos, queremos ter tudo de luxo sem se importar com a conta do fim do mês, e muitos quando deparam com a factura, a primeira reação é- chama um electricista para ver se pode dar um geito de eu não pagar mais.