16.8.10

Sol

Esta altura, comicamente chamada de "Verão" (em contradição com a propalação de país de sol o ano todo), em que a cidade devia ser um poema, é o contrário, é mais lento nos serviços, não há luz, se chove o mar é invadido por toneladas de lixo, as estradas estragam-se, nunca há programas em condições para os turistas e visitantes, a noite é escura e pobre de sítios de bom-gosto, enfim, a cidade revela o seu despreparo em ser cidade

As repartições públicas, que passaram a funcionar a meio-gás o ano todo, vulgo período único, nesta altura funcionam a gás mínimo; a Electra rebenta pelas costuras, apesar das não-temos-ideia-do-quanto custosos contentores-geradores adicionais; a cidade da Praia prova que não é uma cidade feita para gente andar e desfrutar; o monstro que estão fazendo na Quebra-Canela é cada vez mais monstruoso, come estrada, come terra, come céu e a vista do horizonte; Zé Maria tem um grande gerador à porta, para provar que o problema é para ficar. Já agora, que vai ser lançado o programa Casa Para Todos, um item que podia ser de muita valia seria a inclusão ou não de gerador; assim podíamos ter: Casa Pack Simples, Casa Pack Gerador Individual, Casa Pack Gerador Familiar, e por aí fora.

Quem não pára são os partidos e a sua guerrilha pré-eleitoral. O MPD lançou um panfleto disfarçado de jornal, o PAICV vai aproveitando a sua posição de Governo para nos encher de asneira informativa. As eleições são uma surpresa; os inquéritos revelam resultados contraditórios, mas é na urna mesmo que vamos tirar esta teima. O certo é estarmos lixados em ambos os casos: não podemos tolerar mais um mandato PAICV, com toda a sua corja de pequenos, médios e altos funcionários do Estado a instalaram-se sem vergonha na cara; não podemos tolerar um MPD Governo de 91, com todo o seu historial anti-Estado. Algo falta no puzzle político; falta renovação; falta juventude; falta sociedade civil actuante. Mas está provado pela Dengue, só reagimos quando um de nós morre.

Entretanto, curtam uma praia...se puderem.

9 comentários:

Abel Cardoso disse...

Caro César...

Apenas para dizer, que tenho feito análises desses todos os dias. e chego a uma conclusão: Pensando, Repensando, Reflectindo, Ponderando, Resumindo e Concluindo, a continuar assim, este país não tem futuro!!!

Olavo disse...

Pois...

Afinal há muita gente que pensa nesse sentido...futuro acho que o a país e ao contrário da reza dos supostos "políticos" o que de positivo foi edificado por aqui é mérito do povo e não da "gestão pública", por sinal essencialmente desatrosa.

Minha sugestão para passarmos do exercicio crítico à acção é a negação do "sistema" alienante instalado e do engodo da retórica do "dever cívico", isto é, depois de muita reflexão cheguei a conlusão que a melhor via é ir as urnas anular meu voto e convencer amigos e conhecidos a fazerem o mesmo...

Afinal os 35 de mediocridade em pouco tempo se arredondarão em 50!

Cesar Schofield Cardoso disse...

Totalmente de acordo, Olavo. Há um discurso do desenvolvimento oco, que já se instalou. É tão tremendamente ridículo ter uma tremenda circular, onde não passam carros, e ter famílias que ficam completamente sitiadas em suas casas (ou barracas) quando chove. É tão estúpido o que aconteceu ao Sal e está em vias de acontecer na Boavista. O que interessa é o cash flow, que transmite a ideia de crescimento, porque aumenta as receitas. Mas na verdade é um cash flow que não serve para as condições directas da vida das pessoas. É um estado de discurso perigosamente alienante.

Abel, futuro tem; de crise...ou de acção, enquanto é tempo.

Anónimo disse...

Infelizmente sobres estes temas a tendência é repetirmo-nos ad nausea: falamos de MODERNIZAÇÃO sem sabermos o que é MODERNIDADE. Parece uma frase feita, sonante, mas não é. Tem a ver com a essência do problema. Aquela, sem esta, não existe. Duvido que haja uma consciência da modernidade para insuflar no país moderno que queremos construir, e a que temos direito de aspirar. Malgré tantas universidades e institutos. O que temos é um processo de modernização para inglês ver, com pés de barro, ou simplesmente sem pés. Um desperdício. Eu sei que temos de ser pacientes. Eu sei que é preciso acreditar. Mas…
Pior do que a inércia, a indiferença, ou o laissez-faire, laissez-passer, é a ideia de que se perdeu a imaginação e a criatividade para organizar formas de luta eficazes, que levem as coisas a mudar. Perdeu-se capacidade mobilizadora. Há um entorpecimento geral, uma espécie de síndroma Tzé-Tzé.
Desculpem lá Olavo e César a interferência. Não votar é uma asneira. Se bem entendi o que disseram. É isso mesmo que eles querem que se faça, por mais que nos digam o contrário. Quando apelam à participação, o que eles querem dizer é aceitação (fatalidade & prepotência: as coisas são mesmo assim), e demissão (não vale a pena fazer nada), e resignação (ninguém fará melhor). Quando, um dia, a grande maioria lá puser o voto, e depois no el contado da votação se verificar que o povo não prescindiu do direito ao voto, só prescindiu dos candidatos e dos partidos, talvez alguém perceba a menZagem, e perceba que a mudanZa vem a caminho. Quem sabe se obtenha o tal efeito de contágio. Imaginemos pois uma dengue eleitoral. Vai haver sempre quem vai votar, sabemo-lo. Sempre os mesmos, nos mesmos, obedientemente. E são sempre suficientes. De um lado os in-satisfeitos, do outro, os satisfeitos-in. Sabemos quem ganha. Até um dia. O tal dia!
Como cantava Sinatra, a propósito de uma outra Cidade, “START SPREADING THE NEWS”. Se assim for, saibam que “I WANT TO BE A PART OF IT”.
Abç’s
ZCunha

Olavo disse...

...não faço apelo ao não votar. Acho que me expressei mal. Pelo contrário penso que devemos ir sim às urnas dizer à essa elite arrogante e manipuladora, através do voto em branco ou seja lá o que for, que não aceitamos essa violenta murralha que ergueram aos nossos olhos onde projectam essa fantasia a que chamam demagogicamente de desenvolvimento, fantasia essa completamente despida de ética, de ideais, de humanismo, de estética, de inteligência...

Nossos pais e avós nos legaram coisas boas, exemplos de de superação, de solidariedade, de humanismo, de trabalho ético e coerente. Por exemplo, a casa do meu pai significa realização e conforto e, através do seu empenho na minha educação para que eu tivesse acesso a um pouco dos conhecimentos que a humanidade produziu me deixará a compreenção de que "a casa é um direito", um direito que deve ser exercido e vivido no breve decurso de uma vida humana, assim como tantos outros direitos que estão e que não estão escritos...essa herança não me é concedida apenas como "filho" mas como membro de uma "comunidade"...no discurso que farei ao meu filho citarei as vitórias do meu pai não só como pai mas, sobretudo como "Homem" (pessoa que se constroi através de matéria-prima única: A ÉTICA) porque suas realizações superaram seu erros e fracassos. Receio que nossos filhos não poderão fazer o mesmo discurso porque como herança receberão centros urbanos destruídos e ridiculamente transformados em amontoados esquisitos de betão-armado, praias destruídas em nome desses malditos amontoados, toneladas de lixos que por mais que se esforçarem terão que os legar aos seus prórpios filhos, uma concepção desastrosa da existência humana que resume a realização e felicidade de um homem a um carro de alumínio e uma vivenda, uma concepção moral com o slogan "salve-se através de conections", esqueça o mérito, o direito a saúde, a educação, a livre circulação...esqueça tudo isso e desenrasca-se porque essas tretas eram coisas dos radicais da esquerda e esse tipo de conceito é completamente extemporâneo porque agora está tudo no centro da banalidade...esqueça a verdadeira história deste país, esqueça a cultura e a sua importância para a realização simbólica de cada caboverdiano e desta sociedade como um todo e, consequentemente, para o verdadeiro desenvolvimento, esqueça a verdadeira "educação", a que institui a linguagem e o raciocínio como únicos e verdadeiros motores do desenvolvimento dos homens e das sociedades...é isso que essa elite, que essas pessoas que deveriam empenhar-se em ser homens e mulheres através do exercicio ético nos dizem atráves da sua praxis política e de gestão pública...é essa ideologia que rechaça o homem caboverdiano para limbo e coloca no centro "o capital", gerido como se este país fosse uma mercearia, é essa a maldita herança que querem que deixemos aos nossos filhos e que, para além de ser objecto de sofrimento desnecessário e perfeitamente evitável, eles inequivicamente a reprovarão, a tal herança e a nós como pessoas (não como Homens porque para isso não nos temos esforçado)...

Anónimo disse...

O comentário do ZCunha está quase perfeito, exceptuando a parte do "não votar é uma asneira". Quanto a isso, há muito que se diga. Quem quiser votar que vote. Mas as coisas só irão mudar quando deixarmos de participar nas jogadas do sistema vigente.

Já não perco o meu tempo para ir às urnas, só para tranquilizar a minha mente, e poder dizer que votei (em branco) e "participei!". Felizmente, consegui ultrapassar isso (foi difícil, com o coro constante de que "não votar é uma asneira", mas lá cheguei).

O endorse do "ensaio sobre a lucidez" é bonito mas, para mim, é uma utopia. Quero é ver 90% de abstenção, com os políticos a dividir os restantes 10% e, mesmo assim, a dizer que representam o povo. Isso sim será extraordinário (se aceitarmos uma treta dessa magnitude).

Hoje em dia, a abstenção ultrapassa os 50% em muitos (maior parte?) dos países mais "democraticamente" estáveis e avançados, e portanto os outros (até) 50% são divididos a 2, sendo o destino de 75% da população ditado pelo voto dos restantes 25% (e ainda aceitamos isso como legítimo). Quero é ver até onde os políticos conseguem esticar a corda.

A meu ver, não votar está longe de ser aceitação, demissão, e muito menos resignação. Longe mesmo... 1

Abel Cardoso disse...

Felizmente esse problema já não corre na minha cabeça.

Doa a quem doer, aceite que queira aceitar, por enquanto, em Cabo Verde, NÃO VOTO!!!

Recuso-me a contribuir e sentir-me responsável pelas asneiras que se tem feito durante todos esses anos da existência da nossa (?) jovem nação.

Se depende-se de mim, o apelo seria:

Não perca o seu tempo correndo atrás de quem só está interessado e chegar ao poder.

Não perca o seu tempo correndo atrás de quem depois de chegar ao poder só se preocupa em criar condições «não se importando com o dever de bem gerir a coisa pública» para ganhar as próximas eleições... e mais e mais e mais!

Enquanto não existir cultura política a correr nas veias dos cabo-verdianos, é desnecessário pensar-se que as minhas ideias possam ser inovadoras e, quiçá, convencer o povo de que é hora de mudar as intenções de voto.

Anónimo disse...

Meus amigos, mas onde não é assim? Em que mundo vocês vivem? Não me falem de Portugal, França, Estados Unidos, Brasil ou Espanha!!! É só abrir os jornais e ver o que dizem os cidadãos daqueles países sobre os seus governantes. A política, infelizmente, é assim. Em Cabo Verde não se cria nada, ou será que não vêm a tv por esse mundo fora?

Anónimo disse...

E em Tarrafal continua-se na mesma: sem água e sem luz! E ninguém diz ou faz nada. Os Tarrafalenses sao assim, só reclamam fora do lugar e fora de hora... fez-se uma manifestaçao partidária com 3 gatos pingados mas já se esqueceu tudo de novo. Até o Rola Samba teve que esperar até depois da meia noite de sabado para desfilar com a sua Batucada pelas ruas da Vila rumo ao mar di baxo. É que não havia luz eletrica. Mas a quem lhe ocorreu passear uma batucada daquelas a essa hora. Civismo, cidadania, respito em decadência...