Imagem: Antoni Tàpies
Na sexta-feira pode-se assim dizer que estive com todas as amostras da sociedade num só dia. É tipo contar a história social do país em poucas imagens. De manhã e à tarde trabalhamos nas escolas da periferia e ouvi um rol de problemas reais, histórias de deixar uma pessoa sem apetite, desde das miúdas de 13, 14, 15 anos engravidadas por um estupor qualquer, ou pelos coleguinhas, passando pelos problemas profundos dentro de casa de um menino cujo pai enche a cara e resolve partir a cara de todos dentro de casa, até ouvir um menino de 14 anos a contar com todos os detalhes os preparativos de uma gang para meter um balázio num outro gang. A caminho de casa, na zona média, oiço pela rádio as subidas de combustível e consequentemente de toda vida e ponho-me logo a fazer contas e a adivinhar que tempo de apertos se avizinham. Por fim estou na noite glamourosa da cidade a assistir o desfilar de roupas, sapatos e acessórios arrojados, homens de fato, mulheres de vestidos magníficos, porque ao que parece o país comemorava a assinatura de mais um donativo de dinheiro do Estado americano e o pessoal teria andado em alguma recepção em alguma repartição do Estado ou hotel caro da cidade.
O país anda assim, entre a quase obrigação de se congratular pelas conquistas diplomáticas, donativos, compactos, pontuações na arena internacional e a urticária viva e extremamente persistente das dificuldades do dia-a-dia, da falta de tudo e mais alguma coisa e ainda ter que ver e ouvir todos os chico-espertos a justificar que devemos é congratular, apesar de tudo.
1 comentário:
Adorei!!!! Gostei da sensibilidade!!! Pensei q era só eu q ficava a observar os "tiques" do povo, dos praienses ou da sociedade em geral :):) enfim vivem na eterna mentira.....
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