5.3.13

Empreendedor


Badio é o nome fictício de um condutor badio no Sal. Badio, para os que não sabem, é a denominação dada aos habitantes da ilha de Santiago, tipo carioca para os habitantes de Rio de Janeiro. Para os que não sabem também, cada habitante de cada ilha é famoso por alguma característica. Os badios e as badias são famosos em determinadas profissões e vão a todo o lado de Cabo Verde para demonstrar que são especialistas nessas profissões.

Badio é condutor das famosas carrinhas que fazem a carreira Espargos-S.Maria-Espargos, na ilha do Sal. Eles não dão qualquer chance aos condutores das outras ilhas. São eles os reis da praça. Quase 2h da tarde, em S.Maria, eu tinha uma pressa grande de chegar a Espargos, para encontros de trabalho. Poucos clientes na carrinha. Na verdade eu era o único cliente. Badio faz de tudo para captar clientes. Circula, vai, vem, sai do carro, pega as pessoas na mão, canta-lhes, fala francês, italiano ou seja o que for preciso para dizer "Espargos, Espargos!" (com entoações em várias línguas). Badio vai e vem e eu com tamanha pressa. Disse-lhe, sócio (que é como em Santiago dizemos "companheiro..."), vou ter de sair do carro e apanhar um táxi (que é 10x mais caro). Badio num ápice, por instinto mesmo, replicou, pagas 800 e vamos! Nada contra; poupei 200 em relação ao táxi, despachava-me, Badio, à primeira vista perdia 700, mas...feitas as contas, ele deve ter feito um bom negócio: não ficava 1h a circular por S.Maria à cata de clientes, otimizou assim o tempo, ainda apanhou mais uns 2 clientes pelo caminho e talvez se tenha safado, num dia particularmente difícil, com tantas carrinhas na praça e poucos clientes.

A vivacidade de Badio inspirou-me. Se uma parte dos Caboverdianos fosse assim vivaço e com instinto empreendedor como Badio, estaríamos melhor, de certeza.

1 comentário:

Álvaro Ludgero Andrade disse...

Nem mais, nem menos. Aos meus alunos universitários de Empreendedorismo insisto que, ao contrário do que se tem dito nos últimos tempos, essa característica ou forma de estar não se ganha em workshops e seminários, mas nasce-se ou se renasce devido à situação em que nos encontramos. O teu Badio é um exemplo.