Andamos há séculos a falar numa língua ilegal. Este povo, está provado, é do mais subversivo que há. Primeiro resolveram ser povo, ato de ousadia extrema. E como povo, claro, tinham de ter língua. Mesmo perante todas as medidas das autoridades coloniais no sentido de proibir a nascente língua e, perigosamente, provavelmente, a nascente nação, este povo persistiu, falando descaradamente a sua língua, em todos os cantos, mesmo nos locais proibidos, como nas escolas, na igreja, ou nos tribunais. Este povo, agora independente, devia estar na cadeia por perpetuar essa insubordinação linguística. Cortejam-se na sua língua, namoram na sua língua, dão à luz na sua língua e, ato máximo de insubordinação, falam com os filhos na sua língua, em vez de cumprirem com a língua decretada. Ou seja, desde cedo ensinam-nos a ser rebeldes. Não conheço resistência mais bem preparada que essa. Portanto, não somos contra a oficialização da nossa língua. Somos é a favor da sua não oficialização, como condição de continuarmos a ser resistentes, malcriados e subversivos, falando teimosamente a nossa língua, agora até nos parlamentos, nas campanhas e se descuidarem até daremos aulas na nossa língua. Desde já, com a oficialização da nossa língua este blog perderia a maior parte do seu leit motiv.
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