9.11.17

Quanto custa um Ministro?

(Imagem: Minister of Arts and Culture, da série Dying to be Men, Kudzanai Chiurai)

Quanto nos custa um Ministro da Cultura ao ano? Quanto custará o seu salário + subsídios + verbas de representação + viagens + combustível e manutenção dos dois carrões + perdas? Seis, oito, doze mil contos ao ano? Mais? Alguém sabe? Mas esses valores são elevados ou normais? Digamos que depende.

Para acabar com todos os projetos do anterior Ministério, o atual apresenta números e uma série de argumentação sobre a gestão dos fundos. Noventa e sete mil contos soa a muito dinheiro. À escala de um indivíduo é um valor enorme, mas à escala da economia...depende. São noventa e sete mil contos de perdas ou é um investimento? Como se avalia investimentos na Cultura? De momento é impossível, porque não existe nenhum mecanismo contábil capaz de medir o que se convencionou chamar economia da cultura. Quanto à gestão dos fundos, sim, é sempre uma trapalhada e sem perceber grandes coisas do assunto, só o facto de existir um saco azul no orçamento dos ministérios, que se chama Fundo Autónomo, é caminho para a livre interpretação de cada Ministro sobre o seu uso. Sobre isso nenhum deles estará safo de críticas e até duras críticas.

De um estudo mandado elaborar no anterior Governo, ficou demonstrado que potencialmente o investimento na Cultura estará a render milhões. Não é uma economia direta, é por efeito de multiplicação em torno de eventos culturais. Mas para medir e fazer as contas entre o investimento e o retorno haveria que se introduzir mudanças ao nível de captação e tratamento de dados, nos serviços das Estatísticas, das Finanças e das próprias instituições da administração da Cultura. Esses mudanças não irão acontecer tão cedo, porque já estamos habituados a que medidas de fundo no setor da Cultura, simplesmente não aconteçam. Assim, os investimentos continuam a ser feitos a olho, ou pior, à vontade do Ministro. 

Os Ministros de Cultura fazem coisas grandiloquentes. Um deles fez um filme para si próprio, outro só fez obras em edifícios, o anterior fez o AME, este já pagou vinte e dois mil contos a um realizador estrangeiro, meteu uns tantos na Morabeza e prepara-se para canalizar cinquenta mil contos para remodelar um único edifício no Mindelo. É investimento ou esbanjamento? O Ministro irá esgrimir todos os argumentos, que nos soarão lógicos, em como esse dinheiro servirá para [propaganda] projetar a imagem do país lá fora, mas a questão fundamental é: quanto isso nos custará? Melhor, quanto retornará ao país? Não sabemos! Tudo depende do feeling e da boa-vontade de cada um. É uma nuvem.

Economia, na sua acepção simples, significa gestão dos recursos escassos. Num país já economicamente escasso como Cabo Verde, essa acepção é elevada ao quadrado. Portanto, a questão não é saber dos gastos, mas sim do retorno. Importa é conhecer a economia que isso gera, ou seja, se cria riqueza ou não. Cultura, como Educação, gera dois tipos de valores: os simbólicos e os económicos. Já que está na moda só falar dos económicos, volta-se à pergunta: quanto custa um Ministro? Diria que depende do retorno da sua gestão. Tendo em conta que a tendência é que o seu sucessor arrase todos os seus projetos, o retorno é tendencialmente nulo. Vá, OK, ficam umas coisas.

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