30.3.22

La marronage

Le marronnage se déploie sur près de quatre siècles dans les Amériques et les archipels de l'océan Indien. A Haïti, le monde afro-diasporique s'est construit contre la propriété privée et la quête du profit. De la colonie à notre société de contrôle, la sécession marronne ne demande qu'à être réinventée.

Dénètem Touam Bona

15 janvier 2019 

https://www.terrestres.org/2019/01/15/cosmo-poetique-du-refuge/

14.3.22

Guerra e Demência no Ocidente


 Porque são Rússia, Europa e US a mesma coisa? Porque pertencem à mesma matrix. Partilham o futuro. Partilham a branquitude. Criaram o que é conhecido como Ocidente, um conceito mais cultural do que outra coisa. Lembremos das grandes contribuições dos russos, no cinema, na literatura, no teatro, na ciência e na filosofia. Partilham a mesma cosmogonia, considerada por eles superior a todas as outras do mundo. Uma cosmogonia branca, violentamente racista.

Se são a mesma coisa, porque travam monstruosas guerras fratricidas? Franco Berardi, filósofo italiano, no seu artigo intitulado War and (Senile) Dementia, e-flux journal, 2022, interpreta a recente ameaça de uma III guerra mundial (que só assim é chamada, porque os ocidentais ainda não perderam o tique de linguagem de denominar mundial e universal, referindo-se a eles próprios), como um sintoma de demência, em que as figuras de Putin e Biden são a simbologia perfeita. Os dois lembram dois velhos, patriarcas, imperialistas, brancos, impotentes, que já nada mais podem, senão destruir tudo à volta com as suas bengalas, a guerra.
A ideia de futuro, no sentido ocidental, é um projeto impossível. Pressupõe uma combustão permanente e, consequentemente, uma exaustão do planeta. A combustão não é só mineral, como também humana (Mbembe, Brutalismo). O Ocidente é, portanto, um projeto finito e, provavelmente, estaremos a assistir às suas convulsões finais. Esse aspeto de final é expresso no acenar da bomba nuclear, o derradeiro pénis, o derradeiro falo. Séculos de ciência e filosofia conduziram a um espectro de extinção, palavra nunca tão usada, como na nossa geração. O comportamento convulsivo é patente no re-armamento urgente, em vez da diplomacia, o diálogo. Mas, todos sabem, uma escalada militar vai antecipar a morte de todos. Então, morrem-se devagar, num espectáculo de chacina e destruição.
Esses velhos (brancos, patriarcas, imperialistas, impotentes) morrerão um dia, mas antes terão arrasado séculos de civilização. Iraque, Síria, Afeganistão, Ucrânia. E no horizonte do mar, lentamente, levanta-se o dragão chinês. A pergunta que se faz, a partir desta parte do mundo, é: como podem outras cosmologias salvar o mundo? É o mote do fórum Les Ateliers de la Pensée, Dakar, 2022. Poderão outras concepções da vida, nomeadamente não-lineares, não-progressistas, não-dualistas, salvar os próprios ocidentais da sua obsessão futurista? Qual é o sentido de conquistar o espaço superior, quando não conseguimos resolver Tigray, Pemba, Síria, Ucrânia e mais uns tantos furúnculos, virulentos, na superfície deste planeta? Não conhecemos o desfecho de Ucrânia, mas definitivamente uma grande brecha se abriu, pelo menos no seio do Ocidente.

29.11.20

O meu amigo Joel e o meu amigo Fela

(imagem emprestada de https://www.geledes.org.br/)

Finalmente vi o filme “O Meu Amigo Fela” do meu amigo Joel Zito Araújo. A maior parte dos filmes que vejo, no final saio satisfeito, informado, desiludido, irritado, maravilhado, ou simplesmente contente por ter passado um tempo de qualidade. Algumas horas depois já passou. Para um grupo selecto de filmes, como “O Meu Amigo Fela”, fico ainda alguns dias em questionamentos, dúvidas e sentimentos múltiplos, às vezes até contraditórios. O que me leva a escrever.

Joel Zito não é só um cineasta. É uma liderança política. Tal como Fela Kuti era. O que torna um artista numa liderança política, na mesma ordem que líderes de partidos ou da oposição? É que não chega tematizar um assunto político. Após ver “Negação do Brasil” e “Raça”, outros títulos de Joel zito, a abordagem em “O Meu Amigo Fela” parece-me parte coerente do pensamento e da ação política do autor. O que lhe confere o título de liderança, na minha opinião, é o potencial de mobilizar discursos e ações, nas atuais lutas anti-racista, anti-colonial, anti-imperialista, anti-capitalista, ou todas elas combinadas, não só no seu Brasil, mas num contexto de luta negra mais alargado. Por exemplo, como esse filme pode informar uma descolonização mental de Cabo Verde? 


Ao propor trabalhar a memória de Fela Kuti, contextualizando essa memória num tempo histórico, talvez o mais intenso na luta de emancipação negra (60, 70s), lembrando que foi o período que produziu todas as independências em África e importantes conquistas de direitos civis nos Estados Unidos, Joel Zito faz ao mesmo tempo um trabalho de pós-memória, ao produzir uma espécie de manual de como incorporar essas memórias
nos processos de luta atuais. A alusão a Gabrielle Franco (ativista negra-brasileira barbaramente assassinada) no filme é um sinal claro dessa operação interessante de linkagem de memórias. Talvez nem faça sentido falar em pós-memória e sim num continuum memorial.


Para além das óbvias qualidades cinematográficas do filme, em que a direção é de mão firme e a montagem é igualmente de louvor, a inteligência do filme reside nessa fina tessitura no tempo-espaço da luta pela dignidade dos povos africanos e afrodescendentes. 


No final talvez o filme seja menos uma biografia de Fela Kuti e mais uma demonstração de como a vida, a luta e a morte de Fela Kuti se constitui como peça fundamental no complexo puzzle da luta negra. E essa parece-me ser a resposta à pergunta final do filme, se terá valido a pena o sacrifício humano que Fela Kuti impôs a si próprio. É também nesse sentido que a natureza machista, misógina e tirana de Fela Kuti (a sua chamada “complexidade”, num claro desconforto historiográfico) talvez seja pouco relevante, em relação à sua grandiosa contribuição estética e política.


15.6.20

Badiu ten kulpa rixu

Por Adilson Carvalho Semedo, Ph.D, professor de sociologia, UniCV
Nos esquemas mentais que suportam preconceitos enraizados e transmitidos de geração em geração entre os cabo-verdianos aparece o badio, a representação social do negro/mestiço descendente dos africanos escravizados, umbilicalmente ligado à ilha de Santiago, identificado pela cor de pele escura e/ou pela condição de ser «brabu». Essa expressão, que nasceu como a crioulização do «bravo», portanto, corajoso e destemido, foi socialmente resignificado como «bruto/incivilizado».
A história santiaguense diz-nos que os primeiros «vadios» foram os escravizados que fugiam da Cidade Velha e dos morgadios para se instalarem em pontos de pouca acessibilidade da ilha. Num segundo momento, passaram a ser «badios» os compulsivamente alforriados e jogados à sua sorte por causa das fomes cíclicas. Enquanto deambulavam pelas vilas da ilha em busca de meios de subsistência, aliviavam os seus Senhor@s do encargo de os alimentar.
Por isso, o badio é a psi-sociogénese do homem negro livre em Cabo Verde, seja por conta da sua bravura e do seu destemor, ou porque as circunstâncias socio-ecológicas assim permitiam. Mas ele nasce como um excluído incluído no sistema escravocrata. Em tempos de boas águas, o badio era o «bravo» e incansável trabalhador. Em tempos de carência, tornava-se um miserável deambulante; um «brabu na tchada»; um problema para os terratenentes e para as autoridades públicas, dado que, ocasionalmente, dos bandos assolados pela fome se formavam grupos de assaltantes.
De realçar que, nos séculos XV-XVII, a ocupação laboral e a submissão à doutrina católica definiam a condição de civilizado. Mas nem todas as camadas sociais em Santiago estavam possibilitadas de se apresentarem como civilizadas em todas as conjunturas sociais. Se a evangelização foi precária por fatores diversos, dando com isso vida a uma religiosidade popular secularmente menosprezada, os frutos do trabalho eram incertos e até mesmo os grupos privilegiados lutavam entre si para assegurar a sobrevivência, situação favorecida pela fragilidade da Coroa portuguesa em controlar os contrapoderes locais.
No período da Monarquia Constitucional (1820-1910), a ilha de Santiago passou a ser um obstáculo estrutural à evolução política. Para o enraizamento do liberalismo era preciso uma terra nova. Baluarte do absolutismo no arquipélago, marcada pelas seculares disputas entre os diferentes poderes, esta ilha não era um ponto de partida seguro para a construção dos sonhos liberais. Isso explica, em parte, a intensificação das lutas entre os absolutistas e os liberais pela mudança de sede da capital da província, a partir dos anos trinta do século XIX. Porém, o argumento central daqueles que advogavam a mudança era de foro sanitário. A Praia era descrita como insalubre, pantanosa, pestilenta, portanto, mortífera para os dignatários que vinham da metrópole Lisboa.
Entretanto, a segunda metade do século XIX, marcada por lutas políticas e culturais, viu nascer a elite letrada crioula, rendida aos ventos liberais/republicanos que assolavam Cabo Verde, formada academicamente no Seminário-Liceu em São Nicolau, e civicamente pelo desenvolvimento da imprensa local, como atestam os estudos de Baltasar Neves, José Carlos dos Anjos e Manuel Brito-Semedo.
O republicanismo, triunfante em 1910, promoveu uma cultura laicista, urbana e progressista, absolutamente hostil a tudo o que representasse o monarquismo, tanto que a sobrevivência da Igreja Católica nas ilhas se deveu, essencialmente, ao enraizamento da devoção das populações, à substituição dos clérigos por leigos locais, e à uma forte resistência cultural nos meios rurais aos ideais progressistas republicanos. O interior da ilha de Santiago destacou-se como o espaço onde essa resistência foi mais intensa.
A isso o republicanismo respondeu com o reforço do mito da superioridade cultural das ilhas do norte, mito que seria eternizado na propagação da dicotomia luso-tropical que opôs o sampadjudo (enquanto urbanizado, civilizado, europeizado) e o badio (enquanto ruralizado, rústico, africanizado). De notar que os descendentes dos terratenentes de Santiago e a elite cultural praiense tenham, também, se apropriaram dessa distinção, criando a sub-dicotomia «badio de Praia» e «badio de fora». O primeiro seria badio por nascer em Santiago, e não por comungar de práticas culturais com os de «fora» da Praia.
Na definição do civilizado, o capital religioso e económico tornaram-se irrelevantes e passou-se a considerar, exclusivamente, o capital cultural/escolar. O facto de o badio ser trabalhador ou piedoso tornou-se irrisório. O seu misticismo devocional, tomado pelas luzes progressistas e pseudocientíficas como obscurantismo e superstições, foi tido como a mais clara evidência da sua inferioridade cultural, a que foi somada outras provas, como algumas práticas tradicionais e a deficiente escolarização.
A maior ironia da nossa história é que, após terem sido considerados obscurantistas, porque resistiam e mantinham vivas as suas tradições católicas, o badio, seguidor do velho catecismo, foi também considerado, pelo progressismo católico, como cristão velho, supersticioso e obscurantista.
Ocorreu que, a partir de 1941, nas vilas do interior de Santiago, os missionários espiritanos passaram a desenvolver um intenso trabalho de reevangelização da população. Porém, alguns devotos mantiveram-se fiéis as diretrizes dos «padres de batina preta», e liderados por anciãos/líderes religiosos que asseguraram as práticas religiosas na ausência destes padres, abandonaram as suas vilas, aldeias, casas e familiares, e foram construir novas habitações em localidades de difícil acesso, de forma a evitarem as ideias trazidas pelos «padres de batina branca». Este facto gerou o único cisma católica da nossa história: o movimento sectário dos Rebelados.
É desnecessário dizer que a questão dos rebelados, também, reatualizou a inferioridade cultural dos badios, seja nas ações políticas/religiosas coloniais de combate aos «rebeldes» nos anos 60 do século passado, seja nas ações políticas/culturais pós-coloniais de fixação da memória da população sofredora.
Se no passado o badio, na sua ânsia evasiva, dispersou-se como fugitivo pelo interior de Santiago, como «língua, lançado ou tangomao» pela costa ocidental da África, e como funcionário régio pelas outras ilhas de Cabo Verde, hoje, os seus descendentes retornados fazem, também, da Praia, como cantou Romeu Di Lurdis, uma “doci mai, ta kíria senpri más um fidju”.
Assim sendo, é sensato que as autoridades públicas e todos os cidadãos tenham a devida atenção quando afirmam que as “particularidades culturais da população” (de Santiago) são um dos fatores que explicam a propagação do vírus causador da Covid 19 na ilha. Os ensejos de desresponsabilização institucional e de alerta para os perigos que nos cercam não devem fomentar os preconceitos e as descriminações que nos dividem enquanto nação e que fragilizam o espírito de solidariedade comunitária, sem esquecer que, ainda, pouco se sabe acerca das cadeias de transmissão do vírus no arquipélago. 
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 967 de 10 de Junho de 2020. 

5.3.18

Mornas são as posições


Curiosamente, nunca ouvi a Morna em toda a minha vida! Assim tipo ter discos de morna em casa. Nem conheço ninguém das minhas relações que o faça. Deve ser a maior ausente de todas as formas de fruição da música em Cabo Verde, como discotecas, festas, rádio,s playlists nos computadores, telemóveis, etc. Duvido que os 72 deputados que acabaram de instituir um Dia Nacional da Morna também a oiçam com regularidade, ou até conheçam a sua história. Ninguém a ouve! Como tal género se torna então a maior bandeira musical de Cabo Verde?

A Morna é mais identificável nas ilhas da Brava, Boavista, S.Nicolau e S.Vicente, que representam na atualidade 20% do total da população residente. É praticamente inexistente em Santiago, que representa ela só 55% da população. Aliás, Santiago, Fogo e S.Antão, que representam 70% da população, tem géneros musicais bem mais potentes, tanto em história e tradição, como musicalmente, exemplos do Batuku, Funaná, Kurkutisan, Bandera, Kolá Boi, Tabanka, etc.


No entanto, por um brilhante acidente de percurso, a Morna é o género cabo-verdiano mais conhecido no mundo, graças ao sucesso comercial de Cesária Évora. Mas, as novas gerações de sucesso comercial no estrangeiro, como Carmen Souza, Tcheka, Maira Andrade, Mário Lúcio, ou, para mencionar um caso mais mainstream como Lura, nem se atreveriam a ter um repertório baseado na Morna.


A Morna, por decisão de uma cadeia reduzida de pessoas influentes e não por um processo de investigação cultural, concorre a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO, que alegadamente trará vantagens para o país. Bem, até devia/podia, por exemplo, possibilitar o estudo dos outros géneros musicais da nossa cultura popular. Mas, pela triste história da Cidade Velha, Património da Humanidade da UNESCO, sabemos que esses títulos podem não acrescentar nada ao valor patrimonial de tais marcos, como podem até ter um tremendo efeito adverso, como a especulação imobiliária ou uma turistificação nefasta. No caso da Cidade Velha, esse título da UNESCO, em si pretensioso, nem serviu para desflorar um assunto maior da nossa história, a Escravatura.


Esses processos ensinam-nos várias coisas sobre nós próprio. É já problemática a falta de uma fibra intelectual endógena, capaz de romper com os ditames coloniais e pós-coloniais. A Morna é um género que está associada ao "nascimento da intelectualidade cabo-verdiana", a partir da geração conhecida como Nativistas, no séc.XIX, de onde Eugénio Tavares se desponta. Uma intelectualidade burguesa, lusitanista, elitista, branca. A Morna terá sido declarada como autêntica representante da identidade cabo-verdiana, na Primeira Exposição Colonial Portuguesa, de Salazar. Portanto, a Morna é desde essa história colonial a representante musical oficial de Cabo Verde. A Morna e a intelectualidade cabo-verdiana estão marcados assim ab initio por uma negação brutal de toda uma parte substancial, para não dizer maior, da nossa cultura popular. O simples facto de se considerar como marco de nascimento da intelectualidade cabo-verdiana a partir dos Nativistas, de Eugénio Tavares e da Morna, é provocar uma lobotomia a toda a atividade intelectual anterior, presente no texto político do Batuku ou do Kurkutisan, nas representações sociais da Tabanka, ou no percurso riquíssimo da Bandera. É esquecer, por exemplo, que Nácia Gomi é a todos os títulos uma das maiores poetas que esta terra viu nascer. Dizer que a afirmação da língua cabo-verdiana se deve à Morna é no mínimo uma arbitrariedade grosseira.


Esta extraordinária ordem de acontecimentos, que leva a Morna a ter um dia só para si no calendário nacional e ter uma candidatura a um título cimeiro da UNESCO, é bem sintomático da história da elite cabo-verdiana e da apatia do resto de nós. Não menos curioso é a transferência de foco de Eugénio Tavares para B.Léza, num piscar de olhos. É risível a sucessão dos factos na base de "sugestões" dessa tal cadeia de pessoas influentes. Sintomático é também o discurso megalómano do Ministro da Cultura, que declara ser uma decisão do povo! Cabo Verde parece uma borboleta mágica no Concerto das Nações.


19.11.17

Onde metemos os malditos pobres?



Na Ilha do Sal está em curso uma operação de despejos forçados e arrombamento de casas, sem que isso cause a mínima comoção nacional. É um sintoma bastante grave da insensibilidade da sociedade em relação ao direito à habitação. Para além de ser um assunto de suma importância no quadro dos direitos humanos, despejos forçados e arrombamentos são absolutamente condenáveis, nomeadamente pelas Nações Unidas. É tremendamente mais fácil assentar o pau na população, do que cobrar do Estado as suas obrigações.

O Estado de Cabo Verde tem falhado sucessivamente no desiderato de proporcionar habitação adequada (há uma definição concreta sobre o que significa adequada), especialmente à população pobre. Em Cabo Verde a pobreza é ainda severa. Segundo a INE situa-se atualmente nos 35%, o que significa que cerca de 180.000 pessoas tem menos de 137$ (1.5 USD) diários para a ALIMENTAÇÃO, sendo que esse é o factor essencial de medição da pobreza (INE). No quadro de tamanha pobreza, como podemos "obrigar" as pessoas a morarem condignamente, sem o apoio do Estado, cuja finalidade primordial é dar assistência de vida à sua comunidade? E o que significa apoio do Estado? Significa que projetos de desenvolvimento, nomeadamente do turismo, tem que obrigatoriamente proporcionar opções de habitação, adequadas ao perfil sócio-económico da população. Desde o boom do turismo em Cabo Verde não se conhece um único projeto de habitação com essa preocupação. Todos os economistas do mundo e todos os dirigentes sabem, porque é da cartilha, que onde haja projetos de desenvolvimento, haverá migrações. Incluindo os 35% de muito pobres. Essas migrações são pessoas, homens, mulheres e crianças. São mão-de-obra, mas são também cidadãos à procura de melhores condições de vida. Onde os metemos? Onde serão permitidos se meterem?

Outros aspetos que ressaltam dos despejos do Sal, são das percepções de Estado e de território nacional. As municipalidades pertencem ao aparelho do Estado e cidadãos, independentemente da ilha onde tenham nascido, devem ser protegidos em qualquer ponto de Cabo Verde. Ver Estado como o Palácio do Governo na Cidade da Praia é ignorância e pagar às pessoas pobres para saírem da Ilha do Sal é uma limpeza social intolerável. Mesmo a percepção de "outros" é uma questão que precisamos debater profundamente.

A questão da ocupação do tosco do edifício no Sal não é de legalidade. É das condições a que levaram a essa ocupação, inicialmente, seguido da pior resolução possível a que o Estado podia chegar, do ponto de vista legal (tribunais) e do ponto de vista político (Câmara). Enquanto noutras paragens esse tipo de ações já desencadearam enérgicas reações e teses, aqui ensaiamos os primeiros gestos de linguagem repressiva, nessa área muito específica do conflito entre a pobreza e o turismo.

9.11.17

Quanto custa um Ministro?

(Imagem: Minister of Arts and Culture, da série Dying to be Men, Kudzanai Chiurai)

Quanto nos custa um Ministro da Cultura ao ano? Quanto custará o seu salário + subsídios + verbas de representação + viagens + combustível e manutenção dos dois carrões + perdas? Seis, oito, doze mil contos ao ano? Mais? Alguém sabe? Mas esses valores são elevados ou normais? Digamos que depende.

Para acabar com todos os projetos do anterior Ministério, o atual apresenta números e uma série de argumentação sobre a gestão dos fundos. Noventa e sete mil contos soa a muito dinheiro. À escala de um indivíduo é um valor enorme, mas à escala da economia...depende. São noventa e sete mil contos de perdas ou é um investimento? Como se avalia investimentos na Cultura? De momento é impossível, porque não existe nenhum mecanismo contábil capaz de medir o que se convencionou chamar economia da cultura. Quanto à gestão dos fundos, sim, é sempre uma trapalhada e sem perceber grandes coisas do assunto, só o facto de existir um saco azul no orçamento dos ministérios, que se chama Fundo Autónomo, é caminho para a livre interpretação de cada Ministro sobre o seu uso. Sobre isso nenhum deles estará safo de críticas e até duras críticas.

De um estudo mandado elaborar no anterior Governo, ficou demonstrado que potencialmente o investimento na Cultura estará a render milhões. Não é uma economia direta, é por efeito de multiplicação em torno de eventos culturais. Mas para medir e fazer as contas entre o investimento e o retorno haveria que se introduzir mudanças ao nível de captação e tratamento de dados, nos serviços das Estatísticas, das Finanças e das próprias instituições da administração da Cultura. Esses mudanças não irão acontecer tão cedo, porque já estamos habituados a que medidas de fundo no setor da Cultura, simplesmente não aconteçam. Assim, os investimentos continuam a ser feitos a olho, ou pior, à vontade do Ministro. 

Os Ministros de Cultura fazem coisas grandiloquentes. Um deles fez um filme para si próprio, outro só fez obras em edifícios, o anterior fez o AME, este já pagou vinte e dois mil contos a um realizador estrangeiro, meteu uns tantos na Morabeza e prepara-se para canalizar cinquenta mil contos para remodelar um único edifício no Mindelo. É investimento ou esbanjamento? O Ministro irá esgrimir todos os argumentos, que nos soarão lógicos, em como esse dinheiro servirá para [propaganda] projetar a imagem do país lá fora, mas a questão fundamental é: quanto isso nos custará? Melhor, quanto retornará ao país? Não sabemos! Tudo depende do feeling e da boa-vontade de cada um. É uma nuvem.

Economia, na sua acepção simples, significa gestão dos recursos escassos. Num país já economicamente escasso como Cabo Verde, essa acepção é elevada ao quadrado. Portanto, a questão não é saber dos gastos, mas sim do retorno. Importa é conhecer a economia que isso gera, ou seja, se cria riqueza ou não. Cultura, como Educação, gera dois tipos de valores: os simbólicos e os económicos. Já que está na moda só falar dos económicos, volta-se à pergunta: quanto custa um Ministro? Diria que depende do retorno da sua gestão. Tendo em conta que a tendência é que o seu sucessor arrase todos os seus projetos, o retorno é tendencialmente nulo. Vá, OK, ficam umas coisas.

16.6.17

"A Outra África"


Uma reflexão sobre narrativas na edição de Nha Terra Nha Cretcheu, de 06 de junho de 2017, com o título "A Outra África" (https://www.rtp.pt/play/p3061/e292359/nha-terra-nha-cretcheu).


Essa edição, querendo ou não, acaba por reforçar determinados estereótipos, como sejam: enfoque desproporcional nos imigrantes negro-africanos, em relação a outros imigrantes em presença e muito especialmente aos imigrantes europeus, sendo que esses nem são falados; falar do islão e da prática da poligamia dentro do islão, sem um conveniente enquadramento; reproduzir os mitos de Cabo Verde como África excepcional; bem como usar uma linguagem e uma imagética sempre no tom da beleza exótica, do povo ameno e tranquilo. A imigração em Cabo Verde é tudo menos tranquila. De parte a parte, tanto as autoridades locais, como as comunidades enfrentam enormes desafios, sendo a discriminação e a integração os maiores deles, temas deixados de fora nessa edição. O que interessa analisar são as inclusões e as omissões dessas narrativas, tentando adivinhar a ideia que se procura construir, comparando-a com a realidade.

Nessa edição o pivô anuncia "comunidades" como tema [subentendendo-se comunidades imigradas]. No entanto, percebe-se logo que há um recorte em imigrantes de África e mais especificamente, África dita de oeste. A primeira questão tem a ver com essa seleção, sabendo que 29% dos imigrantes são de outras regiões, entre os quais 17% vem da Europa, com destaque para portugueses e italianos. Mais adiante o programa centra-se na religião islâmica entre os imigrantes (37%), sendo que a maioria dos imigrantes (41%) são cristãos. Depois dedica-se vários minutos para falar da poligamia dentro do islão. Mas, o aspeto mais problemático é a sugestão que os imigrantes procuram Cabo Verde pela sua "paz, estabilidade social e clima ameno". É onde entra o elemento de exotização e uma ideia latente que outras partes de África não funcionam, que aqui, nas ilhas maravilha, é "A Outra África", que aliás é o título dessa edição. As várias perguntas que se levantam são: qual é a razão de não falar dos europeus como imigrantes? Qual é o interesse especial nos imigrantes africanos? Qual é a diferença entre imigrantes africanos e imigrante europeu? A motivação de base da imigração não é económica? Quais são as questões sobre o Islão? Qual a razão de destacar a poligamia no Islão? Porque não se fala dos grandes problemas que os imigrantes passam e, aí sim, os africanos com mais incidência? Qual é o impacto das produções audiovisuais de e sobre Cabo Verde, feita por empresas estrangeiras, mesmo que no caso seja uma de direito cabo-verdiano? Ou, pergunta feita ao contrário, qual é o impacto de uma produção audiovisual desligada do conhecimento sociocultural produzido localmente?

Sendo que o vídeo é linguagem forte, amplamente difundida, a literacia hoje deve incluir o ler e fazer vídeo. Especialmente o vídeo como documento social, que representa a realidade amplamente distorcida. Um dos maiores problemas que África tem pela frente é a longa produção de imagem e narrativas acerca das suas realidades sociais, feita a partir de uma perspetiva eurocentrada, que se limita ao exótico e ao problemático. Contrariar, ou refazer essa longa produção é uma tarefa monumental, em curso, em estádios avançados nalgumas paragens, que demora a iniciar-se na "África lusófona".Cabo Verde sofre particularmente dessas narrativas pré-fabricadas, ao juntar-se os mitos das ilhas como espaços idílicos. Da Cinemateca Portuguesa, numa sessão organizada pela investigadora do cinema colonial portuguesa, Maria do Carmo Piçarra, chega-nos um filme de 1967 (!), intitulado "As Ilhas de Cabo Verde", realizado por J.NAngot. O filme tem uma espantosa ressonância na produção audiovisual cabo-verdiano atual, de teor "promocional", ou diria antes "propagandístico". Até que ponto existe uma linhagem entre lusotropicalismo português, cinema e audiovisual no espaço lusófono?



1.8.16

A cidade em busca de si

Poderia almoçar Maffe na segunda, Cozido à Portuguesa na terça, Paella na quarta, petiscar Alloco na quinta, que combina tão bem com cerveja, ou jantar Palak Panir na sexta. Na semana seguinte teria Xerém e Modje de S.Nicolau nos melhores restaurante da cidade. Poderia ainda imaginar uma infinidade de combinação de sabores, ou de sons e sabores, tais são as possibilidades novas escondidas nesta Cidade da Praia. Poderia ainda ter Kora com Funaná, Darbuka com Batuque e no pub da esquina DJs fariam misturas com os ritmos da Banderona. Poderia, se a cidade não tivesse medo de se abraçar.

De um momento para o outro sentar-se à porta da própria casa deixou de ter prazer. Não é mais recomendável, por razões disso e mais aquilo, com ou sem fundamento. Ir ali na tasca já não se faz sem um misto de desafio e medo. Nem passear-se livremente pelas ruas ou ir ver música em qualquer bar da cidade. Antigamente alguns bairros teriam má fama, hoje todos têm. Todos se queixam. Talvez todos só tenham medo do vazio. Acontece que a cidade é nova e repleta de tons, mistérios e milhares de caras novas. Ninguém sabe ao certo onde começa e acaba, quantos países cabem cá dentro, ou o que poderia resultar se os seus ingredientes fossem batidos de uma vez num shaker. Num piscar de olhos veio muita gente e veio junto uma data de coisa boa, pronta para ser descoberta, na condição que a cidade perdesse medo de si própria, que deixasse de surtar ao ver a própria sombra. Finalmente, perdendo-se o medo, os encontros são feitos de sorrisos, com condimentos e lindas estórias. 


Com a vinda do mundo para cá, junto vieram as mamãs, os chefs, os mestres e os portadores de tradições antigas. Em simultâneo, as mamãs e os mestres da terra já não se veem ou se fazem ouvir. A cidade cresceu cheia de complexos, a precisar de se encontrar. Então viverá feliz para sempre. 

13.6.16

Povo Santo


Tem qualquer coisa nas igrejas, seitas e congregações cristãs mais medonha que qualquer lume das mais recônditas profundidades das trevas. Tudo é tenebroso. Desde a imensa catedral em ruínas na Cidade Velha, passando pela mais antiga igreja católica em Cabo Verde, ainda em pé ali a dar a missa num ambiente tenebroso de 500 anos, às cíclicas procissões, missas, comunhões e demais atos de temor a Deus. Tudo é tenebroso. As peregrinações, o discurso do pecado, a culpa eterna, o celibato, a penitência, tudo!

Tem qualquer coisa nas igrejas e nos seus crentes que me faz arrepiar. Estou para descobrir o que é. Vendo esta notícia, fico sem assim mesmo, arrepiado: As confissões da Congregação dos Adventistas do Sétimo Dia

20.5.15

O Esquecimento de Celeste


"(...) esta leitura das estratégias [do esquecimento] nos permite, por exemplo, analisar os  processos de inclusão e de exclusão, de construção de figuras de referências e identificação das vítimas do esquecimento, num jogo entre exacerbação e amnésia colectiva e aqueles que têm poder de dirigir esta máquina da memorização." Celeste Fortes, antropóloga, via Academia.edu

Não deixe de haver uma ironia potente nessas duas imagens. Nós mostramos o que os portugueses sentiram com a guerra e os portugueses mostram o que nós sentimos com a guerra. Uma é iniciativa da UniCV (Pólo do Mindelo - Cabo Verde), outra é da Universidade de Lisboa (Faculdade de Letras - Portugal). Esta troca podia ser levada ao rigor, em projectos patrocinados pelos Estados, numa espécie de catarse cruzada. Pena que, a Cátedra Amílcar Cabral, situada na Cidade da Praia, a maior cidade de Cabo Verde e (nas narrativas malucas) a mais africana, fique de fora da festa.

18.5.15

Espaços de gratuitidade

(foto ripada aqui: http://viacomit.net/)

"...[espaço público] é utilizado na filosofia política como lugar de representação e de expressão coletiva da sociedade” (Jordi Borja, 2003)

Sempre vi o Festival da Gamboa e todos os outros festivais municipais como espaço público de fruição da cultura. É a economia que circula, mas é sobretudo a troca humana, o espaço de encontro de toda a sociedade, de todas as classes, o espaço de troca e reconhecimento mútuo, que considero o maior ganho desses festivais. Evidentemente percebo a vertente sustentabilidade económica e que é preciso transmitir a partilha dessa sustentabilidade, mas será que, numa sociedade como a nossa, altamente desigual e segregadora, imbuída de muitos problemas de sociabilidade, com uma população muito pobre, não merecia um festival totalmente grátis? Não estaremos, querendo ou não, a promover mais um factor de segregação social? Certamente não será pelo valor económico do bilhete (que mesmo assim é inacessível para muita gente). É pelo valor simbólico. É o muro simbólico.

O Festival da Gamboa é um exemplo de que, com trabalho, tudo pode ser organizado e tornado espaço de qualidade. Há poucos anos, o festival tornou-se num campo de batalha. Salve-se quem puder. A tal ponto que gangs chegaram a trocar tiros no meio da multidão. As barracas ocupavam onde bem entendiam. A tal ponto que muita gente nem sonhava descer ao areal da Gamboa. Tudo mudou. Hoje Gamboa é um festival moderno, agradável e programar Stromae na sua edição 2015 foi um toque de ouro. Agradecemos a municipalidade por recuperar esse enorme espaço de sociabilidade. Mas o que ficou de fora na edição 2015? Ficou de fora o espaço público. A nossa cidade/sociedade é imensamente carente de espaço público. Aliás, operamos pelo contrário. Cada vez mais há mais muros, condomínios fechados, segregação e definição de onde uns vão e outros não vão. E o grande drama é que há espaços que a grande maioria não vai. Há espaços que, sem que sejam pagos, onde também essa grande maioria não vai, pelo seu simbolismo de "reservado". Daí a necessidade de, não só espaço público, mas principalmente de promoção do espaço público, com a finalidade de promover o encontro de classes, a normalização das relações sociais, a cultura da tolerância e da diferença, etc., etc. 

A questão que se impõe é, quanto custa fazer o festival grátis e quanto custa não fazê-lo grátis? Ou, quanto custa não ter um espaço público, capaz de meter toda a cidade lá dentro?



6.5.15

Pasa sabi vs Kau mau

(imagem a partir de foto de A Nação)

A política cabo-verdiana tem desses momentos patéticos de contagem de cabeças, de atirar a culpa uns aos outros e de fazer afirmações básicas, sem que se possa fazer uma leitura mais ampla, num contexto histórico, ou sociológico, das transformações que vem ocorrendo na nossa vida política. Pela primeira vez, pois, pasmem-se trabalhadores de todo o mundo, pela primeira vez em Cabo Verde, as organizações sindicais saíram à rua no 1º de Maio, em marcha de protesto, no lugar dos passeios-convívio e lá vem os meninos dos partidos a contar as cabeças, a clamar fiasco, a atirar culpas uns aos outros, o que dá um tom infanto-juvenil à nossa política.

Os meninos do partido fartam-se de culpar uns aos outros dos males da nossa política, sem ao menos admitirem que fazem parte de uma classe dirigente pobre, que insiste na infantilização das pessoas, que nunca se esforçou para engajar verdadeiramente as pessoas na política, preferindo ao invés adoptar uma postura, seja paternalista, seja assistencialista, seja incriminatória. Tem algo mais profundamente infantil que visitas de deputados aos círculos para ouvir chorinhos? Conhecem algum deputado que se põe ao lado da causas sociais, ao invés de se submeterem à disciplina partidária?

1 de Maio 2015 é um marco na luta dos trabalhadores em Cabo Verde. Finalmente rendemo-nos às evidências, de que: ninguém cuidará dos interesses dos trabalhadores, senão eles próprios; estamos em tempos de neoliberalismo feroz, em que o capital, mais uma vez, está acima das pessoas. Mais facilmente se apoia uma banco de ir à falência, que um grupo de trabalhadores de ir ao desemprego. O que se chama de "flexibilização do mercado de trabalho" é uma retórica disso mesmo. A marcha de 1 de Maio poderá não ter tido adesão massiva, mas simbolicamente foi importante e marca uma mudança na forma de fazer política em Cabo Verde, assumindo ainda uns poucos a sua parte da responsabilidade de construir uma sociedade melhor. Pois, uma pequena manifestação, carregada de significados.



30.3.15

O truque da informação

(obrigado autor da foto)

Informação é um dos fundamentos da democracia. É o elo que mantem a confiança entre eleitor e eleito. A coisa funciona assim: nós (eleitores) delegamos-te (eleito) o poder de decidires sobre a condução da vida pública, na condição de nos informares em permanência. Numa empresa funciona da mesma forma, diga-se de passagem. Pegando do caso em curso sobre os novos Estatuto dos Titulares dos Cargos Políticos (ETCP) e as polémicas que tem gerado, pergunto, como funciona a informação pública em CV? 

Através da comunicação social (CS), que em CV é livre. Livre?? Basta uma rápida pesquisa sobre os donos da CS para ficarmos bem esclarecidos. Como receptor, sinto-me defraudado com a CS em CV. É verdade que foi pela CS que o escândalo dos ETCP rebentou, mas (GRANDE MAS) veio já enviesado: cada um explora a coisa, segundo o interesse que representa e nenhum informa a fundo sobre todo o processo.

Através de fóruns e debates. Há muitos e isso é salutar. Mas salutar pra quem? Será que esse nível de comunicação é bem segmentado, segundo o nível de instrução da população? São debates ou são exposições? Sobre o ETCP, como funcionou a comunicação desde o jurista, até chegar ao analfabeto?

Relatórios e contas. Aqui reside o truque maior. Cabo Verde é um verdadeiro exemplo quanto ao disponibilizar de informação pública. INE é um campeão; idem BCV; o portal do Governo não fica atrás; o Parlamento tem lá tudo...Mas será isso informação? Mais, será isso conhecimento? Pois, informação disponibilizada não é comunicação enquanto não for recebida por todos (todos é todo!) e for compreendida, ao ponto que qualquer um (qualquer um significa todos!) possa formar um juízo sobre o assunto. O discurso que os políticos tem usado, especificamente sobre os ETCP, até com insultos aos cidadãos, é que: andamos a falar de coisas que não conhecemos (pois!); a informação é disponibiliza e só quem não quer, não têm acesso. Caro político, a coisa é ao contrário: cabe a si levar a informação até ao seu representado e faça o favor de garantir que ele percebe tudo, tintin por tintin.