1.7.08

Deus é pai

Imagem: Alexander Rodchenko
Nestes tempos de crise, de Governo de faz-de-conta-que-tudo-anda-sobre-rodas, do silêncio dos intelectuais desta terra, que deviam estar a pôr ao serviço do país os seus doutos pensamentos, os camionistas da capital irromperam-se pela cidade, com um sonoro buzinão, a reclamar da vida:

"Queremos mais emprego". Bravo! Grande frase. 20% da população com força para trabalhar, sem poder trabalhar, é um problemão. O desemprego é pai de filhos delinquentes.

"Abaixo a fome". Epá! Abaixo sim senhor. Que esta palavra não seja pronunciada por nenhum filho desta terra, ainda por cima uma terra semi-europeia.

"Cabo Verde é de todos nós". Quem pôs isso em causa? Vá lá, gritemos os gritos certos.

"Gasóleo e gasolina estão caros". Caros?! Que modéstia. Um par de olhos de cara não enche um tanque de combustível.

"Abaixo o Ministério das Infraestruturas". Pessoal, essa não apoio. Não é com demolições que vamos resolver a coisa.
E nem percebi porquê o das Infraestruturas.

"Abaixo José Maria Neves"...oh, oh, oh! Essa também não. O homem já é baixinho, botá-lo abaixo só servirá para lhe retirar a visão do horizonte dos problemas. Nada de "abaixos"; a palavra tem que ser "acima".

"Deus é pai". Isto pode até ser uma solução para os jovens violentos, que são violentos porque não têm um pai; Ele poderá colmatar essa situação. Quanto ao país em si, Deus não vai ajudar, nem que se ponha a mão, porque os problemas terrenos criamos nós e cabe a nós resolvê-los, com as nossas próprias mãos e as nossas próprias cabeças.

Um bem-haja para os camionistas, que insurgiram-se contra o (clima de) silêncio.

2 comentários:

Anonymous disse...

quanto mais não seja com buzinões nops?!
:)

Sams disse...

Essa foi boa.
Gastar combustível com carreata de camiões pela cidade a reclamar que o combustível está caro.
Se tivessem saído a "pes" teriam poupado combustível para mais um frete.