Achei interessante o comentário de Ruben e resolvi "promovê-lo" a post. Obrigado Ruben.
"Quanto à teoria mestiçagem há muito que se lhe diga. Se partirmos da definição da mestiçagem como uma mistura (genética ou cultural) de povos, então diríamos que Cabo Verde é 100% mestiço, África é 100% mestiça, Europa é 100% mestiça, etc., etc. O que quero dizer é que nunca existiu uma sociedade monocultural, todos os povos, as línguas, as produções humanas como a música derivaram de empréstimos, de misturas, enfim… pureza e monoculturalidade é uma miragem. Vejamos o caso português: os povos que deram origem ao que hoje concebemos como o povo português formam entre muitos outros, os povos indo-europeus, pro-celticas, celtas, visigodos, suevos, alanos, mouros, sem esquecer que no século XVI 10% da população lisboeta era constituída por negros africanos, cujas primeiras remessas (negros guineenses) datam da segunda metade do século XV (algo bem documentado e que muitos teimam em não fazer menção). A título de curiosidade, já no final do século XIX os melhores cantores de fado em Lisboa eram negros e os ditos “mulatos”.
Quero fazer uma outra pergunta: porque é que o filho de um sueco e um norueguês, ou de um nigeriano e um congolês não é considerado mestiço? Só seremos mestiços se formos filhos de um negro e um branco, ou de um negro com um japonês – por exemplo? Então, o que é ser mestiço? No mundo somos todos mestiços.
Na minha opinião, há que reformular essa forma especifica de ver a mestiçagem que não é mais que uma construção social, e hoje, por vezes, com implicações politico-ideológicas. Na nossa terra ela está intimamente ligada à construção da identidade nacional. Parafraseando-te César: “ mi é africano i tchau”. Ou como diria Virgílio Brandão que diz ser-se africano por “ identificar-se com África e com o seu futuro”. Para quem identifica-se com África dedico-lhes a profunda música “afro na bô” de Hernani Almeida (que pode ser ouvida no myspace do Hernani em http://www.myspace.com/hernani1978) e a celebre frase de Mário Fonseca: “Eis-me aqui África nas tuas entranhas onde afinal nunca saí”."
Miguel Barbosa disse para esquecer o debate, que não acrescenta nada. Diria que é preciso debate, não para acrescentar, mas para subtrair certas ideias das nossas cabeças. Se o tema fosse pacífico não necessitaria de debate; mas não é.
"Quanto à teoria mestiçagem há muito que se lhe diga. Se partirmos da definição da mestiçagem como uma mistura (genética ou cultural) de povos, então diríamos que Cabo Verde é 100% mestiço, África é 100% mestiça, Europa é 100% mestiça, etc., etc. O que quero dizer é que nunca existiu uma sociedade monocultural, todos os povos, as línguas, as produções humanas como a música derivaram de empréstimos, de misturas, enfim… pureza e monoculturalidade é uma miragem. Vejamos o caso português: os povos que deram origem ao que hoje concebemos como o povo português formam entre muitos outros, os povos indo-europeus, pro-celticas, celtas, visigodos, suevos, alanos, mouros, sem esquecer que no século XVI 10% da população lisboeta era constituída por negros africanos, cujas primeiras remessas (negros guineenses) datam da segunda metade do século XV (algo bem documentado e que muitos teimam em não fazer menção). A título de curiosidade, já no final do século XIX os melhores cantores de fado em Lisboa eram negros e os ditos “mulatos”.
Quero fazer uma outra pergunta: porque é que o filho de um sueco e um norueguês, ou de um nigeriano e um congolês não é considerado mestiço? Só seremos mestiços se formos filhos de um negro e um branco, ou de um negro com um japonês – por exemplo? Então, o que é ser mestiço? No mundo somos todos mestiços.
Na minha opinião, há que reformular essa forma especifica de ver a mestiçagem que não é mais que uma construção social, e hoje, por vezes, com implicações politico-ideológicas. Na nossa terra ela está intimamente ligada à construção da identidade nacional. Parafraseando-te César: “ mi é africano i tchau”. Ou como diria Virgílio Brandão que diz ser-se africano por “ identificar-se com África e com o seu futuro”. Para quem identifica-se com África dedico-lhes a profunda música “afro na bô” de Hernani Almeida (que pode ser ouvida no myspace do Hernani em http://www.myspace.com/hernani1978) e a celebre frase de Mário Fonseca: “Eis-me aqui África nas tuas entranhas onde afinal nunca saí”."
Miguel Barbosa disse para esquecer o debate, que não acrescenta nada. Diria que é preciso debate, não para acrescentar, mas para subtrair certas ideias das nossas cabeças. Se o tema fosse pacífico não necessitaria de debate; mas não é.
3 comentários:
Prezado Cesar,
Debater Raça para subtrair ideias, lembra Hitler!
Aquele abraço!
AHAHAHAHAHAHAHAH!...Uh nha mai! Max, esta está o máximo!
Pô cara, contigo não há vacilo, não é?
Valeu ;)
César
César,
Obrigado digo eu!
Estamos aqui é para isso, discutir estes temas, por vezes, tabus e que são viscerais para desmistificarmos muitas coisas. Para este fim, devemos é partilhar ideias e opiniões abertamente, e é claro nem todos terão a mesma opinião, mas é a partir desses desencontros de convicções que crescemos mais. Sobre opiniões divergentes deixo-vos com um provérbio achanti, que aprendi com Kwame Appiah no seu “Patriotas Cosmopolitas”, Kuro koro mu nni nyansa (Numa única polis não há sabedoria).
Abraços,
Ruben.
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