Era uma vez um pássaro chamado Filú. Só podia ser avistado na floresta encantada de Cabo Verde. Na origem, nem passarinha exótica, nem imponente águia-real. Somente um pássaro de voo comum, simpático e divertido, integrado e querido da comunidade. Um dia o pássaro Filú ambicionou voar mais alto e entrou na política, a conhecida corrente de ar ascendente, que projecta passarinhos e passarões para cima, sem que necessitem bater muito as asas. Filú ganhou alturas e embriagou-se. Sofreu metamorfoses, ficando as asas maiores e a plumagem mais pomposa. Aprendeu a fazer umas piruetas e passou a gritar, convencido que cantava. Tornou-se arrogante, voando e cagando a cidade toda, convencido que a sua porcaria representava uma bênção que caia dos céus. Tornou-se predador, alimentando-se dos da sua espécie, sendo jovens pombos o seu pitéu preferido. Tornou-se ave rara, ambicionando voos ainda mais altos e foi então que a população, em eleições, resolveu cortar as asas do bicho, que levou um grande e inesperado tombo.
De um dia para o outro, o pássaro Filú deixou de se ver. Recomeçou a piar timidamente pouco tempo depois, um piar de lamento. Passou a deslocar-se aos pulinhos, em figura triste. Nisso, um outro não menos notável passarinho, conhecido por moranguinho, tendo enchido o coração de piedade, ofereceu ao pássaro Filú um par de asas, não tão potentes, mas suficientes para, em pouco tempo, resgatar a sua capacidade de voar e, em pouco tempo, já piava com mais força, ensaiava novos voos e sem muita modéstia voltava a querer descaradamente ganhar os ares, ainda a cidade a tentar desincrustar a acumulação de porcaria deixada por anos de cagada.
De um dia para o outro, o pássaro Filú deixou de se ver. Recomeçou a piar timidamente pouco tempo depois, um piar de lamento. Passou a deslocar-se aos pulinhos, em figura triste. Nisso, um outro não menos notável passarinho, conhecido por moranguinho, tendo enchido o coração de piedade, ofereceu ao pássaro Filú um par de asas, não tão potentes, mas suficientes para, em pouco tempo, resgatar a sua capacidade de voar e, em pouco tempo, já piava com mais força, ensaiava novos voos e sem muita modéstia voltava a querer descaradamente ganhar os ares, ainda a cidade a tentar desincrustar a acumulação de porcaria deixada por anos de cagada.
9 comentários:
Isto deve ter sido inspiração do «The big eyed fish» dos Dave Mathews Band. Se não, seria uma óptima música de fundo para se ler com o teu post.
Hahaha! Excelente César! Curti à beça! :-D
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fantastico...
belissimo texto...
:-))))))
nunolobo
Assim sim, vale a pena falar de coisa séria sem perder de vista o lado lúdico e humorístico. Cesar, ler este trecho é como tropeçar nos aforismos de Franz Kafka e bater de bico, antes de o partir, num soneto do Pessoa e parti-lo mesmo, enquanto, entre as asas do tempo e o corpo, transportamos a nostalgia do polemista (Eu)génio Tavares para a tortura merecida da classe temperada com o descuido da plebe «invisual» embriagada no embalo irremediável do canto dum cântico maquiavélico e maléfico (se ingénuo n fosse) do zarolho que no «deserto» reina…
Abraço
Hermano lopes da Silva
Mas o que é isto que meus olhos contemplam? Um verdadeiro conto satírico de se lhe tirar o chapéu? Muito bom, César, estás de parabéns! Continua a exercitar a veia que ela está a pedir.
Beijinhos da Minhokinha*
Recomendado por um amigo, a leitura do "Aves raras" do César Schofield proporcionou-me um enorme prazer. Rico e ao mesmo tempo lapidar, o texto vê-se ainda credor de comentários superiores. Sendo o do Hermano disso paradigmático, gostaria ainda de acrescentar que a avicultura política a que muitos se dedicam não lhes renderá muito mais se vocês não temerem o epíteto de "avicidas" e, de forma lúcida, denunciarem o desenvergonhado ensaio a que se propuseram levar a cabo no nosso país, isto é, transformar os cargos públicos em "lugar de cagada". Parabéns e saiba que sempre gostei de te ler. Abç de Macau, João Francisco B. Santos (DJON)
Eu quero um Chapa Amarela, eheheheheh
De preferência com 4x4, motor V8, ar condicionado e condutor, claro está!
Em relaçao ao meu comentário anterior um amigo (que por acaso me pediu para ler esse texto) perguntou-me porque eu é que eu fiz um comentário anónimo. Acho que está assinado desde que eu envio o comentário com meu utilizador registado. Mas mesmo assim cá vai a assinatura para este e o comentário anterior: Paulo Alexandre dos Santos Silva
Oi JP. Moranguinho é o nosso Primeiro-Ministro, porque ele é fofinho :)
Obrigado pela força.
César
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