8.5.09

Eurostroika III

"Consenso Nacional". Big words. Do que têm de bonito, têm de vago.

Como será possível o Consenso Nacional num país que não faz o exercício do Consenso? Qual é o grau de participação social necessário para haver um Consenso Nacional? Decorre na Praia um importante fórum sobre a parceria especial UE/CV. Esta parceria basea-se em 6 pilares! Uf!..Bom, mas para este fórum, só se vai discutir a mobilidade, que os europeus sabem que isso de pilares demais não constrói edifício nenhum. Os famosos pilares:

Boa Governação não é uma coisa que uns dizem é excelente e outros dizem não existe. É um indicador concreto de rating internacional. Uma coisa é dizer que política x ou z está errada e outra coisa é dizermos todos, amarelos, verdes e azuis, repetidamente: “temos boa governação, temos boa governação…”. É assim que se criam lemas nacionais centralizadoras.

Segurança e Estabilidade. Claro! E é aqui a principal motivação dos europeus. É preciso securizar as nossas porosas fronteiras e vastas mares. Temos excelentes instrumentos de controlo da navegação aérea, mas o resto…credo!

Integração Regional. Ah pois! Agora vamos ter que aturar os nossos irmãos pretos da CEDEAO. Mas, porra, havia necessidade de ser os europeus a vir nos dizer: “paguem lá a cota da CEDEAO e participem lá nessa coisa pá, senão não há euro pra ninguém!"?

Convergência Técnica. Uh!...Ui!....Isso é que vão ser elas. Temos de começar pelo tipos que mijam na rua. É que tecnicamente não fica bem pá!

Sociedade do Conhecimento. Ora aqui está uma coisa que faz confusão a muita gente. Temos uma excelente E-Gov e não temos Sociedade de Informação! Uma contradição à crioulo mesmo. Ou seja: o Tecnologia de Informação está muito desenvolvida no Sector Público, mas pessimamente no Sector Privado e pior ainda nas Famílias.

Luta Contra a Pobreza. É o pilar mais fácil. Distribuam jeeps V8, estofos de pele, 3.000cc de cilindrada e toca a andar.

Ou seja, nem excesso de optimismo, nem excesso de pessimismo. O país AVANÇA. Há sectores que estão com pilares mais fortes e outros que estão com umas verginhas. Para mim o mais grave é o clima de retaliação política, da desinformação e da falta de conversa adulta e concreta.

4 comentários:

Amílcar Tavares disse...

Há alguma conclusão a tirar? Os benchmarks da UE são bons ou não?

Quanto a mim, concordo com todas as metas impostas.

Anonymous disse...

Bem... estamos tão habituados a esmolas (dita cooperação)que até nos assustamos quando aparece algo que beneficia de facto ambas as partes (e não mera retórica).
Parceria sim!
E não tenhamos complexos em copiar (e colar, mutatis mutandis)os bons exemplos(benchmarks), venham eles de onde vierem.
Quer queiramos, quer não, são os políticos que estão na linha da frente na gestão do país. E não há mal nenhum nisso. O problema reside na politização/partidarização daquilo que deve ser o suporte técnico de governação. E aí, nenhum dos partidos está isento.

Abraço, e força com o blog

Cesar Schofield Cardoso disse...

Aceito isso como uma boa correcção. De facto, como há uma excessiva partidarização da política, temos a tendência de colar esses dois conceitos. Mas urge mudar esta confusão de linguagem, porque, tecnicamente falando, a Política é a CIÊNCIA de administrar o bem comum.

Obrigado por tão elevada contribuição

Anonymous disse...

César
Concordo ... e concordo. Contigo, e com o Anónimo.O que mais me incomoda em tudo isto, tem a ver com excesso de 'politização' (entenda-se PARTIDARIZAÇÃO) da vida caboverdiana, fruto de uma bipolarização, que, a meu ver, está a estrangular a nossa vida quotidiana nos mais diversos domínios. Esta politiquice, eivada de negativismo, botabaixismo, alimentada por ressentimentos antigos mas mantidos frescos, mal entendidos vários, transformada numa guerra sem quartel de ‘assalto ao poder’ tem prestado um mau serviço à nossa democracia, e gangrenado a nossa vida cívica. Este processo clautrofóbico, redutor, atrofiador da nossa vida democrática, empobrecedor da cidadania activa, impõe injustamente ao País, uma espécie de 'garrote democrático', amoral e autofágico, onde só se pode ser maniqueisticamente ‘por nós ou contra nós’! Ainda é vulgar ouvir-se peguntar: "Má, el e kuzé?". O que equivale a dizer ‘Ele é Ventoinha ou Tambarina?’. Ou seja, ‘Ele é dos nossos, ou é dos outros?’. Este problema, já em si grave (não a bipolarização em si porque há Países onde ela existe e a democracia tem outra qualidade, por força de outros instrumentos alternativos e complementares - sociais, culturais, políticos, cívicos, etc., etc. - que servem de contrapeso), tenderá a agravar-se, se alguns pressupostos não se verificarem, nomeadamente: novas forças polítcas que possibilitem rearanjos parlamentares, ou imponham uma redifinição do quadro político partidário, aumentando a oferta de soluções e projectos alternativos (não sei se isto já foi tentado; eu não vejo que os Partidos criados na sequência das várias cisões do MPD, e rapidamente falidos, tenham representando isso; tenho sérias dúvidas); se entre os dois principais partidos não forem estabelecidos pontes de diálogo, zonas de convergência, gente de ambos os lados que dilua as tensões; movimentos fortes da sociedade civil nos mais diferentes sectores, que funcionem como controladores, parceiros, e contrapoder; entidades de supervisão, protecção e controlo, isentos, de nomeação por concurso público e não cargos de confiança política. Para já contentemo-nos com blogosfera como espaço de livre pensamento e promoção de debates, sem constrangimentos. Voltaremos. Aquele abraço. Alex