3.6.10

Quarta,Parede

Fez-se um apinhado de gente à frente do tribunal. Roubaram-me tudo! Repetia a gritar uma dona, a população fazia coro, Bandidos! Só bandidos! Foram engrossando a romaria os curiosos. Era meio da manhã, bem no centro da cidade, o Supremo Tribunal da Tribunal. Depois veio o carro-jaula da polícia num grande estrilho, com sirenes ligadas. Primeiro saíram da jaula dois gorilas fardados, com coletes à prova de balas, as boinas de lado, no estilo de comandos, a cara fechada e os músculos a abarrotarem-se dentro das fardas. Depois saíram os acusados, três indivíduos, altos, largos, pretos, cheios de dedos de mãos, duros. Nigerianos.

A Nigéria já foi terra de imponentes reinos e impérios. Povos de guerras e comércio. Zona de batalhas titânicas. Lugar que pariu as melhores peças para a escravatura. Pretos fortes, possantes. Foram presos para serem apresentados ao tribunal, três nigerianos. Deu no telejornal da noite, Três indivíduos, entre os vinte e cinto e os trinta anos, de nacionalidade nigeriana, foram finalmente capturados, após quatro meses de elaborada investigação, por roubo de animais, principalmente galinhas e cabras. Iam a amotinar a população, quando os meliantes foram tirados para fora do carro-jaula. A polícia de intervenção teve de intervir. Estava armado a confusão. Cada um queria vingar as suas galinhas e cabras. Um homem ficou sem uma vaca inteira. A outro subtrairam algumas ovelhas. Os camponeses, a maioria das quintas dos arredores da cidade, de vida baseada no gado, estavam destroçados, pelas perdas em negócio, mas muito por sentimento aos bichos.

Chamado a prestar declarações, o chefe da polícia enfatizou o trabalho exemplar dos seus homens, a maneira rápida e eficaz como foram efectuadas as prisões e o sangue frio necessário para acalmar a população, cumprindo cabalmente o papel da polícia na manutenção da ordem social. Esses indivíduos violaram gravemente as tradições do povo e as leis do país, pelo que devem ser expulsos. Aqui ninguém mexe com a alimária dos outros.


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