10.12.14

Moçambique, Malove


Os lugares são as pessoas. Esse chavão deve ser repetido até a exaustão.

Assim termina uma viagem a Moçambique, país tão grande que, o que começa azul numa ponta, noutra já será amarelo. Da cosmopolita Maputo ao sul a telúrica Pemba ao norte, vários mundos e modos se desdobram em infinitas combinações, até já não se puder distinguir a fantasia da realidade. País caleidoscópio, Moçambique.

Abraço aos companheiros de viagem e projecto, Janaína Oliveira, Luana Paschoa, Janaína Damaceno e Victor Epifánio. Abraço a Elisa Santos e Ute Fendler, que me abriram o livrinho de contactos. Abraço aos queridos Renato Macuane e Lério Carlos, os primeiros a transmitir esse calor humano moçambicano típico, ainda vias online. Abraço a João Ribeiro e Pedro Pimenta, os nossos sábios de serviço. Abraço a Miguel, o canivete suíço em versão humana. Abraço a Mamana Wa Vatsongwana, esse furacão, e aos queridos Mutxayu Maxaieie, Albino, Alex, Leila Lukásc, Fernando, Angélica e todos os de Maputo. Abraço a Tassiana. Abraço a Mahiriri Ossuka, homem-todo-o-terreno. Abraço aos queridos NBC, Undukus e a todos os de Pemba. Abraço a Angela e Andrade, que abriram a casa, ou seja o coração, e nos ofereceram catadupas de carinho.

A família aumentou consideravelmente!

#Nov2014 #moçambique #cinemanegro

14.10.14

Juvenis

Artista: Amdeo Modigliani

Homem, em passo de tanque velho, anda com moça atrelada por todos os lados. Ela nem ladra. Anda com a cabeça levantada, para não ver com os olhos e com o coração não sentir juvenis palpitações.

5.10.14

Bipolares

Artista: Basquiat

"Com o crioulo não vamos longe, não saímos das ilhas"
Germano Almeida, in DN (link)

Segue confuso o debate acerca da Língua Caboverdiana e a posição contraditória de alguns intelectuais sobre o assunto.

Germano Almeida, escritor crioulo, orgulhosamente crioulo, mas que diz que com o crioulo não vamos longe… Acaba por mostrar como alguns intelectuais continuam agarrados a um passado colonial, em dessincronia com a realidade actual de Cabo Verde e do mundo. Exactamente quando há um debate global, promovido  pela UNESCO, acerca da valorização das línguas maternas e da diversidade linguística, que caracteriza toda a sociedade humana, vêm esses senhores defender uma hegemonia linguística...estrangeira! Mas no entanto não se revêm nessa língua estrangeira e nem conseguem se expressar totalmente nessa língua. Enfim, um discurso errante.

Separar a questão da língua, domínio científico de linguistas, da questão das identidades, é uma separação impossível. Quando Germano diz  "Portugal é quase continuação da casa", imediatamente eu me pergunto: “para quem Sr. Germano?”  Para si talvez, que até deve ter um passaporte português e talvez se reconheça no conceito claridoso de "portugueses das ilhas", mas para mim, para milhares de cabo-verdianos em Cabo Verde e para milhares de cabo-verdianos (porque negados o direito de serem portugueses) em Portugal, também não. As experiências dos maltratos nas fronteiras, de ser tratado como gueto,  de ser privado de cidadania, por ser considerado como "imigirante de 3ª geracão", não nos permite celebrar esta “continuação da casa”.

A confusão continua, quando Germano afirma ser "defensor do ensino do crioulo rigoroso, mas o português tem de ser ensinado como uma língua estrangeira, porque não é a nossa língua nacional (...) Mas a verdade é que defender o português é ideia que ganha adeptos, felizmente. Por exemplo, há quem defenda o ensino universitário em crioulo e isso é absurdo.”

Afinal? Estou tonto. Ensino rigoroso e probir a sua expressão nas universidades? Rigoroso sem investigação universitária? Rigoroso como?

Enfim, no auge da bipolaridade intelectual, continua: "Conto uma história em português, mas sou cabo-verdiano e há expressões que só me fazem sentido em crioulo. Por exemplo, ‘catchor de lantcha’, eu não saberia traduzir. Posso pôr ‘és um malandro’, mas...”.

Suponho que, um dos grandes problemas do reconhecimento da Língua Caboverdiana, e por extensão da Cultura Caboverdiana, tem sido essa posição em cima do muro de muitos intelectuais, que são lidos e ouvidos por uma larga audiência. Eu, enquanto cabo-verdiano, não me revejo neles. Não quero mais essa tentativa de nos justificar como “lusitaninhos de segunda”.

A qualidade do ensino em Cabo Verde está na ordem do dia. Ela passa por ensinar o português corretamente, bem como a matemática, mas esse debate não tem como dispensar a língua materna e, por extensão, uma reflexão sobre nossa identidade cultural.

Com o crioulo fomos longe! Com ele, formamos uma nação que ultrapassa em larga escala as fronteiras destas ilhas. A nação caboverdiana se fundamenta na língua materna e não noutra.

Algumas referências:
Sucesso de qualquer modelo de ensino em Cabo Verde passa pela língua materna
Bilinguismo e Aprendizagem de uma língua segunda
Educação Bilingue e Bilinguismo
Debate na televisão pública cabo-verdiana sobre “Bilinguismo em Cabo Verde”
Oficialização do crioulo cabo-verdiano
Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural

24.9.14

Afronarrativas altruístas

(Obrigado autor da foto)

África é o nirvana do ativista social europeu. Excepções sejam feitas, claro, mas o tom geral do ativista europeu que vem pra África é de completude. A declaração "Vou pra África" está para o ativista social europeu, como "Vou pra lua" está para o astronauta. Podes passar a vida toda a cuidar dos pobres da tua terra, ajudar os toxicodependentes, lutar pelos direitos de minorias étnicas marginalizadas no teu país, ou mesmo ajudar pobres pretos desgraçados, que vão dar à costa europeia, mas serás sempre um mero assistente social, voluntário ou mesmo ativista, mas sem aquele txam! Nada como tocar numa criança negra africana...em África! Pobre negro em África é uma espécie de pobreza em negrito, carregado, bold.O ativista social que não veio pra África é comparável ao muçulmano que não foi pra Meca, ou rabino que nunca tocou no Muro das Lamentações. Não importa se é o 1º país de África em IDH ou o 50º, dá no mesmo. Para os teus amigos, no regresso, vai ter o mesmo impacto a frase "Estive em África!". Postar na Internet, fotos com criancinhas pretas, é parte importante do processo. Como toda a narrativa visual, a narrativa da pobreza precisa de um cenário. Não poderás encontrar cenário mais marcante que nos subúrbios de África, qualquer África. Ativista social europeu tem um quê de missionário ou Indiana Jones.

22.9.14

Afronarrativas de péssimo gosto


Enquanto africano, é sempre muito constrangedor quando somos confrontados com a enorme ignorância em relação ao país-continente África. Principalmente quando estamos no exterior. Há um misto de ignorância, arrogância e cinismo, ou ainda uma peninha e solidariedade, verdadeiramente irritantes. O caso da Ébola é bem elucidativo dessa ignorância. Quem receia ir à França, porque em Portugal tem uma epidemia? Pois, viagens foram canceladas para todos os países africanos, Cabo Verde incluído, num total de 54, porque em 5, dos quais 3, tinham um problema sério de saúde pública. Num universo de 1 bilhão de pessoas, morreram 2 mil e foi anunciado o fim de África. Rapidamente se invadiu o Mali com tropas estrangeiras, ou retirou-se Kadhafi do poder, mas em relação ao Ébola assistimos uma pouca-vergonha inqualificável da comunidade internacional. Morreram 500 pessoas na louca travessia marítima e o mundo nem tremeu. O país-continente África continua a sofrer de narrativas muito mal construídas, ou no mínimo terrivelmente parciais. Um Al-Jazeera africano, faz-se necessário. Produtoras e distribuidoras de filmes, com alcance mundial também fazem-se necessárias. Concretizar redes de arte e cultura, tais como Afribuku, FICINE, ArchiAfrica, FESPACO ou Dakart é um imperativo. Criar uma voz, através da comunicação, da arte e da cultura é essencial, para tirar poderes corruptos africanos da sua zona de conforto e para sacudir as ideias feitas no resto do mundo sobre o país-continente África. Há milhões de activistas fazendo por isso. Quem viver verá. 

21.8.14

Transubstanciação


Pensando no significado da mecanização artística de Andy Warhol e nas obsessões de Yayoi Kusama. A loucura é uma condição da arte? Ou a clarividência enlouquece? Ou o mundo é demasiado comum para comportar a genialidade? Artistas geniais tem algo de Jesus Cristo: vivem e morrem para nos salvar.

3.8.14

Quando crescer quero contar estórias


Esses sãos os meus filmes! Esses que provam que contar estórias não tem e, felizmente, nunca terão nada a ver com a tecnologia. Rigorosamente nada a ver. A diversidade de equipamento na atualidade, em capacidade e preços é impressionante. As facilidades computacionais são ainda mais impressionantes. A capacidade de mini-câmaras fazerem um filme, com alta qualidade de imagem, dá que pensar. Mas ainda, nada, nem 3D, nem super efeitos especiais, nem qualquer outro artefacto mudou o poder da...estória!
E assim é esse Short Term 12. Um filme, de tão real o enredo e os personagens, que parece um documentário. Realização de mão segura, sem perder tempo com sequências desnecessárias. Fotografia inteligente. E, cerejinha, direcção de actores maravilhosa. Uma coisa linda, este filme.

26.6.14

Eu não sonhei com esta cidadela

Fico autenticamente horrorizado, de cada vez que vou à Cidadela, o bairro que nasceu no estirador de um arquitecto e vendido em anúncios de TV que faziam sonhar. Como é possível tamanha selvajaria na ocupação do território? Caminhos malucos, crateras na estrada, não há vislumbre de uma única árvore, cada centímetro é ocupado com casas que parecem bunkers, não vejo espaço para estacionamento de carros, nada que se pareça com um jardim, as crianças não terão parques de diversão, os jovens não terão terrenos de jogo, nem pensar num teatro, cinema, auditório ou coisa que se pareça, nem sequer haverá um largo, vazio, sem nada. Tudo será brutalmente ocupado de cimento. Até mesmo a orla do mar, abusivamente construída. Naquela que podia ser das mais invejáveis zonas da cidade, com vista privilegiada para o oceano. Tudo vandalizado. Ainda falamos com boca cheia de desdém do bairro do Inferno! Classe média ou medíocre?

24.6.14

Eu não sonhei com esta cidade

Artista: Andrei Koschmieder

Heis as sementes. Tratamos os chineses à imagem dos produtos que vendem, referimo-nos aos guineenses como o mais inútil dos negros, nigeriano é sinónimo de bandido e todos os outros imigrantes africanos, que não conseguimos identificar a origem, metemos num enorme saco chamado "mandjako". Olhamos com desconfiança os arabófonos e até já afiamos as nossas facas contra o Islão, crescente no nosso solo. Hoje, temos imigrantes do todo o lado, inclusive europeus, dos quais os portugueses são um caso particular. Por um passe de mágica, boa parte do tecido empresarial, das telecomunicações, a banca, a construção civil e uma série de outras actividades, tornaram-se de investimento português. Privilegiar essa fonte de investimento tem uma explicação oficial: aproximação histórica. Só que "aproximação histórica", para além da poesia, guarda uma carga de conflitos. Acordamos os fantasmas de morgado e rendeiro, recuperamos a palavra "patrão", que tem um som colonial e "crioulos", na conversa miúda dos patrões, significa "essa gente difícil de trabalhar". Um "patrão" já teve o desplante de me fazer essa queixa, presumindo que eu era "um crioulo do lado deles". A simples noção de "lado de cá ou lá" é sectária. Mas claro, pagam os justos pelos pecadores. Para o bem da verdade, sinto-me privilegiado por morar numa cidade tão cosmopolita, como vem se tornando a Cidade da Praia, mas preocupa-me imenso as sementes da intolerância, regadas de parte a parte. A formação de guetos na cidade, sendo possível fazer uma geografia exacta de onde cada grupo de imigrantes habita, não será um fenómeno alheio. Um autor refere-se assim aos guetos: "uma forma especial de violência coletiva concretizada no espaço urbano" [ver]...Bem, eu não sonhei com esta cidade. 

23.6.14

Um pouco de óleo nessa desengrenagem

Foto ripada de um post de Rosana Almeida no Facebook

Dois caboverdeanos dão a vitória a Portugal num jogo da Copa. Não! Dois portugueses negros dão a vitória a Portugal num jogo da Copa. Reparem na expressão "selecção nacional". Ou seja, esses negros são nacionais de Portugal. O que interessa a origem? Alguém anda a questionar a origem moura dos tantos portugueses? Mas, aqui vem a parte sensível. Há portugueses negros? Porque razão os meninos, netos e bisnetos de emigrantes caboverdeanos, nascidos, criados e não vendo outra terra senão Portugal, são ainda chamados de caboverdeanos? Ou mesmo os que emigraram e que escolheram Portugal como nação. Ou só se tornam portugueses, os negros com extraordinárias habilidades, como Nani e Varela? Onde estão os negros na vida pública de Portugal? Onde estão jornalistas negros, artistas negros, deputados negros, ministros negros? Fico pelo ministro, para não ter a ousadia de querer ver um negro na chefia de algum órgão de soberania portuguesa. Onde estão as imagens negras na televisão pública portuguesa, cineastas negros, fotógrafos negros, escritores negros? É Portugal ainda uma sociedade racista, do género "Angola é nossa"? E o que dizer da crescente comunidade portuguesa em Cabo Verde, normalmente detentores de maior poder económico que os caboverdeanos, que se referem a nós com o termo genérico "os crioulos"? E que dizer desse sistema político-económico que promoveu outra vez, pouco tempo depois da descolonização, portugueses como patrões? 

11.6.14

Cultura Tóxica

Artista: Mandla Reuter

O alcoolismo é um desses graves problemas, que vemos tratando com leviandade. Não vejo outro termo. Ontem, ouvia na rádio um chefe da polícia a anunciar pomposamente a detenção de um indivíduo na posse de 700gr de erva, com direito a prisão, julgamento, conferência de imprensa e tudo. Já viram alguém ser preso por vender grogue? E entre os dois produtos, qual terá mais toxicidade?

Gente, grogue não é cultura. É um álcool, que é tóxico para o organismo. Pode ser doce e cheirar bem, mas é um tóxico. Pode ser até limpinha da fonte, mas continua a ser um tóxico. Contêm etanol e, em doses mais ou menos elevadas, metanol, que é um composto extremamente perigoso. Existe uma escala de qualidade das bebidas alcoólicas, de acordo com a "honestidade" do seu fabrico, mas continuamos sempre e sempre com o problema de fundo: álcool é um tóxico. Visitem os hospitais e mais precisamente a psiquiatria e verão a amplitude do problema. Para além dos graves distúrbios mentais, ataca gravemente o coração, o fígado e o pâncreas, mais todo o resto. Visitem as estatísticas, vejam os graves danos sociais que isso está causando, vejam o impacto na economia. Como assim alcoolismo não é uma prioridade de saúde pública? A amplitude do problema é esmagadormente superior às estruturas criadas para o seu combate, a priori e a posteriori. Se não acabarmos com essa mania que álcool é fixe, estaremos perdidos. Vamos desclassificar o grogue como património cultural?..É, eu sei, é um ideia que dói, mas toda a transformação dói, principalmente aquelas que nos retira conforto. Entre o consumo social, o bom grogue e demais mitos, tudo contribui para uma verdadeira catástrofe dentro da nossa sociedade.

4.6.14

Corned Beef

Artista: Zoe Leonard

Sigo com interesse os casos de justiça no meu país. Nunca se tinha visto tanto, cidadãos que vão ao tribunal contra o Estado, ou empregados que processam os empregadores, instituições estatais que processam uns aos outros, denúncias de negligência médica, ou até a condenação de altos gestores. A democracia trouxe esse benefício, de obrigar a que a vida em sociedade seja mediada pelas leis. Se a justiça funciona bem ou mal, é uma questão importante, mas o facto é que modificou o nosso relacionamento com as outras pessoas e as instituições. Carlos Lopes, economista da ONU, falava dos custos da democracia em Cabo Verde, referindo-se ao facto de, sendo a democracia uma aparelhagem legal, os recursos e as instituições necessários ao seu bom funcionamento têm um custo enorme. Mas pergunto, qual será o custo da não-democracia? Ou, qual é o custo da autocracia? Ou ainda, haverá formas de democracia mais ligeiras, que essa assente numa pesada infraestrutura legal? Falou-se da importação de uma tradição jurídica europeia, mas que outros modelos podíamos seguir?

2.6.14

Feijoada enlatada

Artista: Mohau Modisakeng

Mindelense ganhou o campeonato nacional, mas os festejos, em comparação aos do Benfica cá, parecia um desses apitos baratos, que quase não consegue apitar. Não houve nem cortejos quilométricos, nem auto-tanques lançando água numa multidão em delírio e nem acaloradas declarações de importantes figuras. Mas percebo. Ser do Benfica é uma religião, é um pertencer. É o clube, o grande. É ver craques, verdadeiras estrelas que desfilam em carros de luxo, tem namoradas louras e vão a galas. Ser do Benfica é um pretexto para ir a Lisboa, visitar o Estádio da Luz, a catedral do futebol. É benéfico para a leitura, de todos os jornais, dos casos desportivos e extra-desportivos. Dá tema para semanas de conversas, debates televisivos, enche os bares,  as barbearias, mantêm muita gente com algo na cabeça para se preocupar. É o glorioso. Nada que se compare a Mindelense, um minúsculo clube sediado numa infame rua de botes, num poeirento pequeno país, sem glória, sem catedral e sem luz. Ser do Benfica, clube português, é bem mais fácil. No fundo, para quê fazer a sua própria feijoada quando já há feijoada enlatada, pronta a consumir, com carne e tudo?

29.5.14

A Província

Artista: Jiri Kovanda

No lançamento de um livro (As Revoltas) que fala abundantemente e até repetidamente, de como o estado colonial, constituído por reis, raínhas, príncipes, governadores e demais hierarquias por aí abaixo, junto com a igreja e o seu longo historial de suporte ao poder, oprimia o povo, de forma física, concreta, abusiva, mas também de forma moral, ao propagar uma simbologia de superioridade branca-cristã, em detrimento dos negros e as suas "negradas", é curioso observar como o evento em si se faça num ambiente de pompa palaciana. Com direito a um atraso palaciano também, no que já se repete entre nós, enquanto não chega a comitiva real, nada começa. O tempo e a paciência dos súbditos que se lixe. A divisão do espaço e dos assentos, entre os muito ilustres, os mais ou menos ilustres e, na parte mais recuada, a comunidade dos alunos, também recria esse ambiente de reis, raínhas, demais titulares da corte e finalmente o povo, lá ao fundo. Tudo era muito protocolar. A miúda que nos recebia à porta tratou de me encaminhar para o meu devido lugar, unicamente com base na minha aparência, creio. Num misto de enorme atraso, desorganização e um excesso de aclamações, acabei por sair, por imperativo de outros compromissos, sem cumprir o meu singelo objectivo: ouvir os apresentadores e o próprio autor. Repete-se, recria-se uma visão da sociedade e das coisas, em que importa mais o aparato que a substância. Ao invés de se concentrar no significado profundo que é a publicação de tal obra, tudo se torna fogo-de-vista. Assim segue a província.

27.5.14

Elos fracos

Foto emprestada de Afreaka

Lei que criminaliza o roubo de energia, claro, sou a favor. Sou a favor de leis que criminalizem quaisquer criminosos. A chatice aqui é que, no caso, são milhares de criminosos, também conhecidos como população.

É uma prática judicial antiga, colonial. Até prova em contrário, a população é culpada! Culpada de ter tradições avessas à boa moral da sociedade, culpada de causarem distúrbios, de ocuparem indevidamente o território, de serem pobres, estúpidos e analfabetos. Culpada de edificarem zonas degradadas na cidade e de causarem uma péssima imagem ao turismo. A população, desleixada, prefere a via da criminalidade a ter que morar em bairros decentes, em casas decentes, em condições decentes de luz, água e sanitários. Prefere vir estragar a cidade a ter que ficar no campo, em condições até mais ecológicas. E para piorar ainda mais as coisas, população aos milhares de outras zonas pobres da África, vem ocupar indevidamente este território, para além de causarem distúrbios e aportarem mais tradições avessas à boa moral da sociedade. Estamos perante uma pressão exagerada da população, à qual o Estado não tem condições para dar conta, muito embora seja uma obrigação constitucional, ter a população como primeira prioridade.

Mas, justiça seja feita, o país tem modernas estradas, aeroportos e portos. Temos meio milhão de turistas a visitarem todos os anos o nosso belo país. Somos top ten em África, caraças! O país está a criar as condições para atrair investimento externo e almejar um desenvolvimento poderoso no futuro. Daqui até o futuro, pede-se à população que aguarde em barraquinhas, sem água, luz ou esgotos, em encostas sem acesso ou infraestruturas sociais. Eu até mandaria retirar a iluminação pública, sendo bairros ilegais, espontâneos, periféricos, não-planeadas, ou o raio de nome que se lhes queira dar. A população que aguarde, ou terá que se bater na justiça.

20.5.14

Reafricanização dos Espíritos

Artista: Aboudia Abdoulaye Diarrassouba

Foi preciso vir um senhor das Nações Unidas, um mandjako, como o próprio teve o cuidado de se etno-identificar, numa suave alusão ao nosso racismo velado, para nos dizer que o nosso afastamento de África é desastroso. Quantas vezes, mas digam-me, quantas vezes já encetamos aqui e ali este debate sobre a África e quanta ignorância e desprezo já vimos a desfilar sobre o mesmo tema?

O Senhor Mandjako, Carlos Lopes de seu nome, Secretário Executivo da Comissão Económica para a África, das Nações Unidas, fez uma estruturada análise, e apontou o dedo para os riscos de: a nossa pesada democracia, assente numa tradição jurídica europeia; o não seguimento da evolução demográfica, em que brevemente teremos uma população enorme de velhos que pesarão o sistema de protecção social; e, a parte quente do discurso, a excessiva ancoragem à Europa. Mostrou por a+b como a nossa teimosa rejeição dos espaço africano pode nos conduzir a uma triste orfandade. É que a nova realidade geo-estratégica global indica-nos que a Europa está em falência e a África está em poderosa ascensão, economicamente falando. Essa realidade já atraiu investimentos de todo o mundo, da China aos EUA, todos se reposicionando. Bem, Cabo Verde em teoria estaria bem posicionado, se o espaço africano fosse naturalmente nosso. Mas não é. O que mais fazemos é rejeitá-lo.

OK, identificado e provado que está a nossa afro-rejeição, tempo de "mudança de mentalidades", que foi aliás o mote da comunicação de Carlos Lopes. É aqui que entra a parte difícil. Virar-se para o espaço africano não vai ser necessário somente passar a pagar as quotas da CEDEAO, ou passar a frequentar as reuniões cimeiras. Essa mudança vai nos obrigar antes de mais à aceitar a nossa posição enfraquecida, complexada e distorcida sobre o mesmo tema. Teremos de aceitar, antes de tudo, que somos brutalmente desconhecedores do continente, das suas enormes capitais, os seus movimentos, as suas dinâmicas e os seus líderes atuais. O "virar-se para a África" não poderá ser só uma questão de pragmatismo, como disse Carlos Lopes. Terá de ser de coração, a fundo, participando, estando, sofrendo junto, fazendo parte na carne e no sangue. Caso contrário estaremos a pensar num edifício com alicerces de barro.

17.4.14

Strawberries


Lembrei-me agora da minha professora de inglês do liceu, Ana Salomão, dos raros professores que não nos davam chance de perpetuar a nossa fama da turma mais terrível dos anos 80. Porra fiz o liceu na década de 80! Ela tinha um misto de general e a mais simpática das professores. Isso acaba com qualquer aluno-peste. E ela ensinava mesmo! Passamos toda uma aula tentando pronunciar a palavra "strawberry". Enquanto não apanhássemos o accent lá ela arranjava as estratégias fonomorfológicas para o conseguirmos. Lembro-me de passar essa aula toda também a ver para a deslumbrante imagem do morango e de como achava que era um fruto muito sofisticado para um dia se vender em Cabo Verde. Hoje dou comigo a comer cereais com morangos frescos, tomar batido de morango, mousse de morango, gelado de morango, ou comer morangos enquanto vejo a têvê. Ainda exijo à minha vendedora regular só os morangos com pelo menos 5cm de comprimento. Evidente, o desenvolvimento tem os seus azelhas de serviço, mas a verdade é que esses 40 anos de desenvolvimento tem feito coisas impressionantes.

17.3.14

Void

Em resumo, o turista veio e deu de caras com a publicidade enganosa que andamos a fazer veementemente. Queríamos o quê? Ora, também eu fui a um restaurante e quase arranquei os olhos para pagar a conta, num serviço normal, quase de tasca. E o gajo do táxi cobra 30Eur Mindelo-Baia, o mesmo preço Lisboa-Madrid! Estamos a brincar. E a cena se repete no Tarrafal de Santiago, no Fogo, no Maio, em S.Nicolau, na Boavista, ou onde quer que se vá. Talvez Santa Maria escape um pouquinho e mesmo assim...

Temos de decidir senhoras e senhores. Temos de vender ou gato, ou lebre, nunca um pelo outro, ou os dois ao mesmo tempo. Se é turismo de caminhada, ótimo, o turista aceita a natureza tal com ela é. Mas, se queremos turismo de cruzeiro, caracterizado por "quero tudo em 12h", por favor não procuremos justificativas bizarras; vamos ter que oferecer tudo em 12h. Não me interessa se o raio do turista foi rude nas suas apreciações. Ele aqui foi chamado, pagou pra vir. Se não tivéssemos o hábito de engolir o arroz seco que pagamos para comer, entenderíamos o ponto do homem.

12.3.14

Pipocas

Artista: Ry Rocklen

Jornalista pergunta para miúdo, fechando de propósito a pergunta em Cabo Verde, para não dar ao miúdo hipótese de fuga: "Quem é o futebolista cabo-verdiano que mais admiras?". Miúdo, encurralado pelo fechamento, pensou um pouco, titubeou, mas finalmente disse: "Heldon!". Jornalista insiste: "Quando cresceres queres ser como quem?". Miúdo nem hesitou: "Ronaldo!"...Heróis constroem-se.

Rússia invade a Ucrânia nas barbas da Europa. Europa, que lembra um galo velho hoje em dia, ameaça tomar medidas enérgicas, congelar contas, bloquear relações com a Rússia, etc. Ao mesmo tempo, Portugal anuncia que vai intensificar as relações com agências russas do turismo, um dos seus principais mercados emissores. Eheheheheheheh. 

Cabo Verde é o quinto país do mundo com mais ministras. É também o país onde ainda elas apanham no focinho com muita força, chegando a matar. E Eurídice Monteiro, a voz chata da razão, pergunta: será que em Cabo Verde, o empoderamento das mulheres-elite significa a melhoria da condição das mulheres na base? 

"Homem que é homem não bate em mulher". É a campanha do momento. A pergunta que se impõe é: como é que o homem cabo-verdiano vai parar de bater em mulher, em homem, em criança, em velho, quando uma simples reclamação no táxi já é potencialmente agressora?

21.2.14

PFLNO (Países Falantes de Língua Não Oficial)


Andamos há séculos a falar numa língua ilegal. Este povo, está provado, é do mais subversivo que há. Primeiro resolveram ser povo, ato de ousadia extrema. E como povo, claro, tinham de ter língua. Mesmo perante todas as medidas das autoridades coloniais no sentido de proibir a nascente língua e, perigosamente, provavelmente, a nascente nação, este povo persistiu, falando descaradamente a sua língua, em todos os cantos, mesmo nos locais proibidos, como nas escolas, na igreja, ou nos tribunais. Este povo, agora independente, devia estar na cadeia por perpetuar essa insubordinação linguística. Cortejam-se na sua língua, namoram na sua língua, dão à luz na sua língua e, ato máximo de insubordinação, falam com os filhos na sua língua, em vez de cumprirem com a língua decretada. Ou seja, desde cedo ensinam-nos a ser rebeldes. Não conheço resistência mais bem preparada que essa. Portanto, não somos contra a oficialização da nossa língua. Somos é a favor da sua não oficialização, como condição de continuarmos a ser resistentes, malcriados e subversivos, falando teimosamente a nossa língua, agora até nos parlamentos, nas campanhas e se descuidarem até daremos aulas na nossa língua. Desde já, com a oficialização da nossa língua este blog perderia a maior parte do seu leit motiv. 


10.2.14

E se o japonês representasse assim o caboverdiano?

Foto: sapo.cv

Do fórum Geração da Independência, com a sua tímida abordagem à África, à Semana da República, com a sua dissonante palestra sobre lideranças políticas em África, à Cimeira Africana da Inovação, com o seu tom afro-entusiasta, ao desfile dos auto-proclamados "Mandingas do Mindelo", ressalta-me uma vez mais que o nosso(?) continente continua a ser alvo de todos os maus-tratos, ora por ignorância pura, ora por  pseudo-intelectualismo, ora por excesso de exaltação, ou então por desrespeito direto.

Em relação aos "Mandingas do Mindelo" se por um lado reconheço que carregam um protesto, por outro revelam uma representação, no mínimo ridícula, do povo Mandinga, em que cerca de 11 milhões de seres humanos se identificam (wikipedia). Esses "Mandingas do Mindelo", recordo-me bem desde criança, sempre simbolizaram a sociedade maldita, a que vem lá das "fraldas", sujos, perigosos e feios. Eram assim vistos, nas nossas cabecinhas. Ressurigiram agora, num misto de moda e reclamação do direito à tradição, com um certo apoio, não sei se alargado ou não, da sociedade que os acolhe. Claramente continuam a representar um certo protesto, como atesta as palavras de um deles, em entrevista, dizendo: "vocês já tiveram a vossa diversão, agora queremos ter a nossa". Esse "nós e vocês" não deixa de ser sintomático dentro de uma mesma sociedade. Mas esse "nós e eles" também é bastante sintomático na forma como se representam. Pintam-se de negro e qual é o significado de um africano se pintar de negro? Ou serão não-africanos a representarem africanos? Enfeitam-se de vestes, acessórios e objetos, da mesma forma que um cinema e um teatro antigamente ridicularizavam os negros e os povos "primitivos". Têm uma dança própria, carburada de álcool, sexo-exibicionista e poses guerreiras. Qual o significado disto tudo?

Para além de todas as considerações, em relação aos produtos altamente tóxicos com que se revestem, do alcoolismo e do excesso de linguagem, uma consideração mais básica não devia ser feita em relação ao próprio nome que carregam? Já perguntaram aos guineenses, senegaleses e malianos, que porventura sejam Mandingas, o que pensam desse carnaval? Ah bom, mas é a tradição. Pois, tradição também é mutilar o sexo de jovens moças.

22.1.14

Bipolares

Uma das questões que mais me incomoda na nossa Constituição é o fato de não consagrar a nossa língua materna como língua oficial ainda. Na verdade a Constituição é um mero reflexo da sociedade, que adia essa questão. Já ouvi todo o tipo de argumento, em desfavor da oficialização da nossa língua: que não serve para conceptualizar noções complexas da ciência, que é um língua minoritária, que irreconciliável nas suas várias variantes, que é um custo enorme a oficialização, que é um absurdo o ensino na língua materna, que isto e mais aquilo. No entanto, quando se trata de comunicar com eficácia, ou seja, criar empatia no receptor, é a língua perfeita. Que o diga, os políticos, os publicitários e até os encenadores. 

A novidade para mim agora são as eleições para a reitoria da universidade pública, das mais altas figuras da educação no país, em que os slogans vem na língua materna! Sejamos claros, a desonestidade intelectual não se manifesta em grandes crimes, mas sim em pequenos delitos. Ou, se preferirem, em pequenas contradições. Se a própria República (nós) não consagramos a língua materna como oficial (reconhecida pelo Estado), como podem as figuras do Estado usarem essa dualidade? Os entendidos que me esclareçam.

21.1.14

Mamãe África

Foto: Arquivo Histórico Nacional

Ainda notas da Semana da República, agradecendo todo o manancial de informação produzido por esses dias. Promovida pela Presidência da República, tivemos o privilégio de assistir a uma mesa-redonda sobre o legado das lideranças africanas no pós-independências. Quanto a África, heis os meus pensamentos:

É constrangedor a esquizofrenia identitária que continuamos a ter em relação ao continente. Como disse o antropólogo Carlos Anjos, de onde vem essa ideia de uma excepcionalidade cabo-verdiana? Europeus não somos de certeza. Americanos nem tanto. Asiáticos muito menos. Então somos o quê? Atlântidos? Um povo especial?...Já que resistimos à denominação de, simplesmente, africanos.

É bom lembrar que os ideias de nacionalidade, independência e auto-determinação, se afirmaram num quadro de africanidade, ou seja, num momento de identificação clara de civilizações africanas distintas das europeias. Mesmo se devemos tributar ao longínquo Du Bois e outros ativistas negros, as primeiras reivindicações descolonizadoras, é a geração de Cabral e outros eminentes africanos, como NKrumah, Sénghor e outros, que deu o corte radical aos colonizadores. A nossa luta pela independência se fez num quadro de solidariedade africana, tendo Argélia como enorme suporte financeiro, militar, logístico, Guiné Conakry como base militar, ou a própria Guiné-Bissau como palco de guerra aberta. Agora, passados os anos, questionamentos o nosso pertencimento africano??

Sejamos amnésicos, ou mesmo ingratos, mas e a atualidade? Até quando vamos continuar a fingir que uma boa parte da nossa população hoje não é constituída de africanos purinhos, eles sim, sem dúvida nenhuma se são africanos ou não, ou seja os imigrantes? E os seus filhos e netos quando forem cabo-verdianos de direito pleno, também sofrerão dessa dúvida identitária? E o Islão, que é uma realidade no nosso solo? Islamofobia? E todos os fenómenos que passam pelas nossas águas, inclusive o tráfico humano? Um problema "deles"? E as trocas imensas, comerciais e culturais entre nós e "eles", não tem significado?

É mesmo constrangedor esse debate vacilante sobre o nosso continente. Pelo menos o meu continente.

CV.SOCIAL

Foto: Arquivo Histórico Nacional

Terminou a Semana da República, marcada pelas datas 13 e 20 de Janeiro, dia da abertura democrática no país e dia dos heróis nacionais, respectivamente. A semana foi marcada por intensos debates, sobre temas de capital importância para o país, que vão desde o ensino da história, até questões sócio-económicas prementes. Ouvi várias análises, umas sobre as difíceis condições materiais da vida no arquipélago antes da Independência, outras sobre os imensos ganhos do pós Independência. De todas as análises, ficou-me claro dois aspetos, que pessoalmente considero graves e até preocupantes: o reconhecimento que o crescimento económico não está a ser transformado em desenvolvimento social e que nem se sabe como fazer isso; o distanciamento progressivo das elites intelectuais da realidade social, que por sua vez se organiza num voz até com tons de ameaça. Ecoa na minha cabeça a frase do líder da Corrente de Ativistas: "prestem atenção em nós!"

8.1.14

Fotofestivalar e Fotodepender

Imagem do espetacular Kiluanji Kia Henda

Há anos que tentamos abordar o tema da Arte Contemporânea em Cabo Verde, mas continua a ser uma noção bem distante. Atrevidamente já criamos no passado eventos que chamamos de "Arte Contemporânea" a ver se provocava uma reacção, nesta sociedade flácida, mas não provocou, a sociedade continua flácida. Já fomos lá fora, já participamos em eventos chamados, justamente, Arte Contemporânea, vimos maravilhados e de algum modo consternados que, realmente, andamos a margem do que se apelida arte, quanto mais contemporânea.

Razões várias, a começar pela ausência da academia, ressaltando o meritório contributo do M_EIA, mas evidentemente insuficiente para o volume do país. A academia não vai criar talentos, mas vai criar aprimoramento técnico e o imprescindível campo teórico. Da questão da educação, saltam todos os outros: falta de produção, logo a ausência de propostas arrojadas, a inexistência de eventos regulares (bienais, por exemplo), não presença de curadores, historiadores e jornalistas especializados, falta de mecanismos de distribuição e retro-alimentação do sistema, por aí fora.

Neste contexto surge o Festival Internacional de Fotografia de Cabo Verde, com uma proposta tão nivelada por cima, que talvez nos tenha apanhado em contra-pé. Apanhou-nos a todos: autores, produtores e financiadores. Vamos tentar corrigir essa rota? Vamos restabelecer o debate interno? Vamos recuperar as reflexões feitas no Praia.Mov ou no Oiá? Vamos começar agora com as atividades, para quando do festival a gente esteja de pés firmes no chão?

Neste contexto também vem surgindo, da timidez para níveis cada vez maiores de atrevimento, as iniciativas do coletivo online Fotodependentes. O mérito do coletivo, na minha pessoalíssima opinião, é provocar uma "dessacralização" no fazer da imagem. A maioria dos membros do coletivo entraram com a desculpa que não são profissionais, que fazem por atrevimento, que são curiosos...enfim. Dessa timidez nasceu o "passatempo" (mais uma vez uma cautelosa posição) #PROJETO47, que considero particularmente feliz, pela mistura de cidadania, fruição e apropriação do espaço online.

É preciso no entanto pautar que, fotógrafos-artistas são uma categoria diferente dos fotógrafos-profissionais (no sentido comercial) e que esses são diferentes dos fotógrafos-amadores. Cada categoria tem um percurso que é preciso respeitar, mas todos juntos formam uma massa crítica à tão carente produção de imagens neste Cabo Verde que, paradoxalmente, tem milhares de fotografias espalhadas por esse mundo fora. Mas, uma fotografia é uma imagem?

6.1.14

#republika

Que povo, que nação, que pátria? Como, quando e onde nasceu o sentimento nacional? Como a morna e a poesia construíram a nação? Como o batuque e a mazurca guardam os nossos genes? Como se construiu a pátria, o que lha mantêm unida e o que lhe periga a integridade.

‪#‎republika‬ reflecte sobre a comunidade que somos, organizada politicamente. Olha para a Constituição da República, texto que exprime a nossa vontade de nação, os nossos ideais e a nossa imagem do mundo, bem como as nossas contradições, as longas amarras do passado, os traumas e as feridas. Como esse texto, poético porque utópico, condiciona as nossas vidas no quotidiano? Ou, como o que desejamos nos posiciona no mundo?

E futuro? E África?

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