Entre um golpe e outro na excelente feijoada da Tia, falávamos de Estado e Nação. Conversa de leigos, claro. A coisa começa precisamente aí: esses conceitos tem que entrar na banalidade das conversas de bares. Todo o leigo deve falar de Estado e Nação, sem temer a palmatória dos teóricos. Há déficit de Estado no nosso país e isso tem a ver com a falta de informação e formação em nós todos, do que seja isso. É uma faceta de Cidadania: saber o que é Estado, do que é constituído, quais são as suas funções e como legitima a sua acção, é ter conciência de Estado, é saber como participar e fortificá-lo. E não exercer essa cidadania leva a que a Nação não se identifique com o Estado.
A Nação caboverdiana é enorme, ultrapassando o território nacional. Temos o sentimento (eu tenho) que a Nação é forte. Somos uma país do mais débil que há em riquezas materiais, mas em contrapartida, a história que às vezes é mãe, às vezes é madrasta (coitada da madrasta, figura malfadada da história), construiu-nos uma Cultura forte, concisa, homogénea, expressiva, tanto que por séculos, entra colonialista, sai colonialista, entra burguesia, sai burguesia, a Cultura, como quem diz Povo, como quem diz Nação, mantêm-se (ainda) forte. Se assim não fosse, como explicar a força com que nos apresentamos ao mundo?!
Mas o Estado, como quem diz Burguesia, como quem diz Classe Média (e agora com laivos de Classe Alta), esse não é, de maneira nenhuma, e agora mais do que nunca, Nação. E no fundo a grande confusão que está reinando entre nós, com a face mais visível na violência, é mais uma episódio de Luta de Classes: a Burguesia, disfarçada de Estado, tenta impôr o seu estilo (excessivo) de vida; a Nação, efectivamente Povo, reage como pode: mata, rouba, esfola, faz xixi na rua, caga em tudo, cria esquemas e sobrevive.
E no final sou um Burquesinho de M...a tentar perceber o Estado de coisas, a tentar me integrar finalmente num Povo, que sei que pertenço, mas que não pratico na totalidade.
Está aberto a sessão de bocas. Quem manda a primeira?
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