7.7.09

Ondas e redes

Em apenas alguns dias, conheci umas tantas pessoas: historiadoras da arte, arquitectos, artistas, activistas: que trabalham em uns tantos projectos, movimentos artísticos, espalhados por todos os continentes, das Américas, passando por Europa, África e Ásia. Num único workshop e numa exposição ouvi mais ideias que num ano de fofoca doméstica. Essa gente ía falando e eu ía me dando conta da sua dimensão e perguntavam-me os intestinos: "Como vieram cá parar e porquê?"

É atroz ver essa corrente, que nos traz pessoas, eventos e ideias de tão elevada importância, esvair-se no mar. Há sempre uma cara indisfarçável de desilusão: "ouve-se tanta coisa sobre Cabo Verde e no entanto, em termos culturais e artísticos, as coisas estão em tal estado de desorganização?". Juro que não sei porquê.

Mas, neste mar de oportunidades perdidas, algum cimento parece querer sedimentar-se. O vereador de Cultura da CMP é uma oportunidade, bem como o projecto CIDLOT da UniCV é uma outra oportunidade. Os centros culturais estrangeiros, de forma inexplicável, continuam a promover e a patrocinar a maioria das coisas de destaque. Mindelact é da cooperação portuguesa, cinema todas as semanas é graças ao Centro de Estudos Brasileiros, a maioria da promoção de novos talentos é feita pelo Centro Cultural Francês. Bem hajam, claro! Curadores conceituados estão de olho em Cabo Verde. Há intensos esforços para que Cabo Verde integre redes próximas, afins, como em Dacar, Moçambique, Portugal, Brasil. A cidade está fervendo. Vários artistas, de todas as formas, bem ou mal estão berrando sem que ninguém os ouça. O mundo tá aí. A Internet é a maior rede da civilização humana. A criatividade é mais rentável que qualquer recurso mineral. Ondas estão a formar-se. Falta é interligar tudo e o mundo renascerá.

Interessante notar que: parece que todo o mundo deseja-nos, menos nós próprios. Todo mundo faz por nós, certamente não sem interesses, menos nós próprios. O próprio dossier da Cidade Velha, foi preciso intenso lobbying internaciol para lá chegarmos, que de outro modo, garantem os entendidos, não teríamos hipóteses. Chegamos e a condição agora é que mudemos as coisas. Perguntado sobre como vai ser possível mudar as coisas, um Douto respondeu: "com a ajuda internacional".

Fico curioso sobre o tempo em que seremos nós a tomar conta de nós próprios.

3 comentários:

Tey Alexandre disse...

Concordo, escarafunchadamente com o que escreveste... Mas não entendi essa de que o Mindelact é da cooperação portuguesa...

Cesar Schofield Cardoso disse...

Esses dias o pessoal está especialista em criar vocábulos: "escarafunchadamente" é o max.

Da cooperação portuguesa...às vezes sou forte nas palavras, mas significa que conta com o forte apoio da cooperação. Se esta cooperação desaparecesse seria um deus nos acuda.

Felizmente a cooperação nos proporciona uma agenda cultural digna. Infelizmente ainda não conseguimos encontrar uma forma de andar sem muletas. A política cultural é uma utopia.

Anonymous disse...

Calma, respira fundo! Assim, volta a respirar fundo, pela barriga, sim sim, respiraçao abdominal e nao essa coisa de respirar pela boca e pelo nariz. Tretas! Sim, tretas! A melhor respiraçao é a abdominal!Nao sabes? Como, nao tens montes de cooperantes chineses em CVerde? Ai nao sabias, que sao eles os grandes especialistas na matéria?!Bom ja sabes. Respirar pela barriga. Mas cuidado que podes ficar tonto. Se nao tiveres o controlo sobre a coisa podes cair redondo no chao. Sim, sim, respirar é dificil e a mairia das pessoas nao sabe respirar. Pensa que sabe e claro sabe mas mal, pessimamente. Conclusao: se ainda nao sabes respirar como é que podes ser um artista? Um neo-colonizado que vive so de ajuda da cooperaçao internacional e que nao sabe respirar, é muita fruta, ou NAO?!! Ah! estou a ver que estás de acordo comigo. Entao volta ao começo do texto..

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