4.8.09

Cabeças de prata

Ontem (3/8/2009) foi dia de lançamento do novo livro de Manuel Brito-Semedo, "Crónicas de Diazá". Poucas vezes vi a Biblioteca Nacional com tanta gente. Há tanta gente que não via há tanto tempo. Todos ali reunidos, as nossas pessoas mais crescidas, que vão ficando com a cabeça coberta de fios de prata e com tantas estórias para contar, na idade, como disse Fátima Bettencourt, de começar a fazer um resumo da vida, sem com isso significar que há uma noção de algum fim. É que, chega uma altura, depois de criados os filhos, conquistado uma carreira, lutado por ideais e vendo-se na interrogação do que fazer a seguir, uma pessoa precisa fazer esse resumo, seja em forma de livro, seja de que outra forma.

Quanto ao livro em si, de toda a vez que sai um livro, ponho-me a perguntar do que será da nossa indústria de livro? Pergunto-me de uma maneira mais ampla ainda, do que serão os livros no futuro dominado pela ausência de paciência para os ler e com uma forte penetração de conteúdos digitais? O livro precisa de uma reformulação. Mesmo que continuem em papel, os conteúdos precisam diversificar-se. Por exemplo, quantas colaborações há entre artistas visuais e escritores nacionais? Os livros precisam ser objectos tão bonitos, que dão vontade de tê-los só pelo objecto em si. Os nossos livros, em regra, são feios e só os compramos porque conhecemos os autores pessoalmente e conhecemos o conteúdo que tem para nos transmitir. Caso contrário, seriam poucos os livros nacionais que compraria, a julgar pelo objecto de arte, que deviam ser.

A par dessas minhas reflexões enquanto decorria o acto, fiquei a ver para as nossas cabeças de prata e a desejar que eles todos escrevam as suas estórias. Não resisti à passagem de Fátima Bettencourt quando disse que as mulheres que pedem ao cirurgião plástico ou ao esteticista que lhe retire 10 anos de vida, deviam ser processadas por destruição de património! Sim senhora, a idade é um património e não uma vergonha.

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