O meu país é uma parede. De longe parece sólida e lisa. De perto surgem fendas, lascas e uma textura mais áspera. Leves batidas em determinadas partes revelam concreto armado. Noutras as batidas fazem eco. Há porções que se arrombam só de apertar o dedo. Não se desloca com facilidade e empurrado não vai a lado nenhum, mas uma pancada forte em pontos específicos pode perigar a sua sustentação. A construção é mais ou menos consistente, mas a base é de barro. De longe parece vazia, mas por dentro vive uma população de bichos, bonitos em geral, endémicos, resultantes do cruzamento de espécies diferentes, migrantes de muitas partes, mais ou menos afáveis, mas capazes de dar valentes dentadas. Alimentam-se de riola, uma espécie de prato de intriga, que se juntam condimentos locais. Ocasionalmente podem se comer uns aos outros, quando a intriga não é suficiente. A maioria habita em buracos inferiores, sem condições de luz, água e sanita. Uma pequena proporção apodera-se dos lugares ao sol assim que surjam. Recentemente alguns descobriram que a cobertura da própria parede é boa e andam a comê-la, sem ter em conta a sua destruição ou preocupados se a podem arrombar ou não.
1 comentário:
Esta terra nao é apenas uma parede. E' também uma cova! Engole os melhores! Até os deuses engole.Engoliu hoje mais um: BIUS! Que tragédia, meu Deus Maior! Hoje chorei! Hoje estou que nem um demonio! Um diabo, mesmo! Hoje (so hoje?!) sou capaz de matar até os mortos! Hoje chorei! Até os monstros choram! Chorei, solucei em convulsoes lendo as news do Big BIUS! Era um senhor! Um grande musico e nao aqui favores! Era mesmo bom e é por isso que morreu. A minha avó tinha razao: Deus manda buscar so os bons e deixa esta terra entregue a diabos, demonios maus, bichos runhos, gongoes, larapios, corruptos e ricos aldraboes que vivem à custa de artistas, explorados com uma simples cerveja ou um grougue mafe. Bius, era desses gigantes que bebia grougue mafe, cerveja e depois mais um whisquezinho, mas cantava que nem um anjo; nao um demonio grego! Bius, nao quis parar com os seus grogues que o desinibiam fazendo-o dar gargalhadas balanceadas com esse eterno sorriso que lhe escapava entre os dois dentes grandes de frente da boca. Era um musico, um compositor popular que sabia cantar a alma mindelense e o espirito crioulo. Adeus Bius! Eu sei que o teu espirito vai ficar entre nós os deste mundo e do outro! Tchau nhe brode!
Underdôglas
Enviar um comentário