10.5.10

Norte

Estou aqui no meio de uma coisa chamada “Ponte D’Água” (que o pessoal da Praia chama, divertidamente, Ponta D´Água), no Mindelo, que me parece resumir muito bem o meu Mindelo. Que me desculpem os detractores mas é lindo. É no mínimo de bom gosto arquitectónico, algo extremamente raro neste país. É uma espécie de pontão em cima do mar, com piscina e esplanada; um restaurante lindo com mini esplanada; um belo bar; cabeleireiros, boutique e, o que gostei menos, escritórios. Mas, o que nisto resume bem o meu Mindelo é a capacidade desta cidade ter coisas lindas, alinhadas com o cosmopolitismo genético das gentes daqui, para depois se enquadrarem numa ilha economicamente e socialmente deprimida. Já não consigo ouvir qualquer explicação lógica para a estagnação desta ilha cheia de tesouros. O discurso da vitimização em relação à Praia já não tem sal, de igual modo é o discurso da crise mundial. Eu simplesmente não consigo perceber (porque não percebo mesmo disto) como é que estando tão perto de gerar valor, não se gera; que clique é que falta. Leio um cronista português, a propósito da crise despoletada pela Grécia, que está a contagiar, ou pelo menos está a focalizar a atenção em, Portugal. O cronista fala da endémica falta de confiança do português (para além de todas as outras coisas, como a baixa produtividade, etc.) como um catalisador da crise, ou seja uma causa de inércia. Faltará à cidade do Mindelo, ou seja, às suas “forças vivas”, a confiança de que podem, e devem, traçar um caminho distinto da Praia? Manias de responsabilizar o Governo! Da parte pública, Mindelo tem um aeroporto internacional, tem um porto ainda melhor que o da Praia, tem as melhores infra-estruturas básicas de saneamento, electricidade, água e esgoto; tem uma cidade de melhor qualidade urbanística e até tem um parque industrial prontinho à espera de indústrias. Não faltará aqui um arregaçar de mangas dos privados locais?

6 comentários:

Anonymous disse...

Com que então não quer que a discussão seja bairrista? E esta frase: "Não faltará aqui um arregaçar de mangas dos privados locais?" Duhhhh

Anonymous disse...

Está a precipitar-se, não lhe chamei de bairrista, mas sim que a sua frase final é tendenciosa, está claramente a questinar a capacidade dos privados de SV em "arregaçar as mangas". Por isso não deve estranhar comentários como os do PSS.

Pss disse...

César: De palpites dos outros estamos fartos. Tinhamos um praia linda, tinhamos potencialmente uma marginal que poder-se-ia estender da Ponta de João Ribeiro até Galê. E ai chegou um tipo com um palpite e disse "vamos construir um Cabnave e arrasar a Praia de Matiota". Resultado: um Elefante Branco, economicamente pouco viável, e temos uma das mais belas Baias do mundo com um estaleiro naval sem muita rentabilidade.
E longe de mim de arvorar em dono da Cidade. Mas creio que divirtir-se no Ponto de D´'aga ou Ponta de Agu já é suficiente. Aliás o empreendimento caiu lá de Paraquedas ? Ou é também fruto de privados locais? Ou será veio alguém da Praia construi-lo para nós os coitadinhos que não arregaça as mangas...

Pss disse...

Mas quem é que está a reduzir a teu post a essa discussao César ?
Só estou a tentar dizer que muitas vezes vir da Praia e passar por Pont de Agua e declarar que "O" problema de S.Vicente é que os privados não arregaçam as mangas é algo forte não achas ? Eu vivi 7 anos na Praia e quando vinha a S.Vicente mandava uns "boquinhas mafe" desse género ... o pessoal não gostava e agora percebo porquê ..

Cesar Schofield Cardoso disse...

PSS, agora estás a reduzir é o meu pensamento. Meu caro, uma pessoa nunca se desliga da sua terra. Afasta-se mas não se desliga. PSS, sabes uma sensação interessante? Quando estou em S.Vicente e vou passando pelas ruas, é como se me lembrasse de cada milímetro. Sabes, até pequenos detalhes sem importância? Tudo ganha uma expressividade diferente. Mas também a distância tira-nos um bocadinho de coração na análise. Há anos que discuto sobre S.Vicente. Sempre que posso procuro entender como é que as coisas chegaram a esse ponto. E acredita que, nessa procura, aprendi muito mais sobre a minha ilha, a sua história, a sua dinâmica social e sobre as suas particularidades. Portanto não aches que tive uma luz sentado no Ponte D'Água.

Aliás toda essa discussão seria evitada se simplesmente desses a tua opinião sobre o assunto: S.vicente.

Cesar Schofield Cardoso disse...

Olha, lê a entrevista que o Adriano Cruz deu ao Expresso desta semana. Ele que é secretário geral da Câmara de Comércio de Barlavento, conhece bem o problema. Está lá chapado: os privados precisam ganhar protagonismo na luta contra o marasmo económico da ilha.

Boa leitura