(imagem a partir de foto de A Nação, de 20 a 26/05/2010)
Após ler a grande entrevista à Ministra do Ensino Superior, Ciência e Cultura (MESCC), fiquei com um misto de alegria e tristeza. Quanto ao Ensino Superior, tenho a certeza que ela vai fazer algo. Foi o grosso da entrevista, até porque é de casa e deve ter encontrado alguma coisa feita do Ministério da Educação, para além do conhecimento íntimo das problemáticas do sector. Fiquei alegre. Não tenho assim tanto entusiasmo quanto à Ciência, porque é algo que ninguém sabe por onde começar, nem a própria ministra, que quando perguntada sobre as prioridades de investigação, respondeu com um vaguíssimo “temos o mar”…
Agora, para a minha continuada frustração, o que não vai mesmo sair da cepa torta é a Cultura. Fiquei triste. Decididamente, este é um sector que precisa de um departamento próprio. Precisa de definições de base, do programa do Governo, após estudos especializados, de se definir o que é afinal a acção do Governo no sector da Cultura. É investigação? É promoção? É conservação? É financiamento? A Ministra não tem ainda nenhuma política definida para a Cultura. É que nenhuma dessas áreas funciona, nem percebi que vão funcionar a breve trecho. Investigação, tem sentido que passe para a Ciência, para as universidades, por isso toca a acabar com o Instituto de Investigação (e Património) Cultural. Digam-me, em 10 anos o que é de investigação saída desse instituto? Promoção também não faz sentido ao nível do Governo (explico mais adiante). Conservação sim, ninguém mais o poderia fazer, embora ao nível do Estado as coisas estejam mal! Vão lá ver o Palácio da Cultura e os seus instrumentos. Vejam o Plateau e o centro do Mindelo e os abates do Património. Vão ver a Cidade Velha, as monstruosidades que se faz em pleno sítio arqueológico. Como é que se chama aquele museu com os espólios da arqueologia marítima? Viram o que fizeram com o pequeno cais que fica na rotunda que dá para o Plateau, via Gamboa? O Património é uma área que precisa intervenção forte, com leis, com fiscalização, com pesadas reprimendas, com educação e com economia, é claro. Património morto também não serve. Financiamento da Cultura, por outro lado, é das áreas governativas que faz confusão; quem disse que o Governo deve financiar a Cultura? Nunca! O papel do Governo deve ser de articular as políticas (começou a explicação sobre a Promoção) para o ensino (História e Cultura), para a formação (formação artística já!) e principalmente para as condições para o exercício das actividades culturais: direitos aduaneiros, lei do mecenato, isenções fiscais, concursos (transparentes), enquadramento dos profissionais na previdência social e na carreira, protecção autoral (efectiva) e demais garantes, para quem escolha como modo de vida, trabalhar em áreas da Arte e da Cultura.
Gosto da energia que sai dos seus olhos Ministra, mas infelizmente isso só não conta. Tem de estar preparada para dar respostas mais concretas ou então assumir que em área x e y, o campo é desértico. Fiquei tristinho com o facto de a Arte não constar das suas preocupações. Quanto a pergunta sobre as suas preferências artísticas, foi uma armadilha. Enquanto dirigente política, ou deve ter uma leitura mais expandida da realidade (estar atenta aos movimentos contemporâneos, ver para a produção das várias áreas, ter nomes para além dos óbvios, ver as tendências e linguagens actuais, os paradigmas novos) ou então dar aquelas respostas típicas, politicamente correctas, do género “sou eclética, gosto de tudo um pouco, gosto dos consagrados, mas também gosto das tendências actuais, penso que são positivas e precisamos dar mais visibilidade a certos movimentos”. Estou a puxar a brasa para as minhas cavalinhas? Claro! Sabe Ministra, enquanto artista visual, você representa-me politicamente. Cada palavra sua tem peso e medida para mim.
7 comentários:
Ola, César, conhecido meu em tempos idos na Igreja do Nazareno. Embora estejamos em ano eleitoral não esperes muito, pois de tudo o que os artistas exigem só num novo mandato ou governo algo poderá acontecer. Já agora que a nova geração de artistas que continue a exercer a sua cidadania e "leberdade" (estou parafraseando), de expressão! Força
Oi amigo de longa data.
Eu adorei a entrevista, mas como desconfiava, a senhora é talhada para o Ensino Superior. A minha (eterna) mágoa é não verem a Cultura como um sector que mereça exclusividade. E na entrevista ficou claro para mim: quanto à Cultura ela só vai empurrar os dossiers e, quiça, resulte daí alguma coisa.
No fundo o grande falhanço na Cultura é do próprio chefe do Governo: José Maria Neves.
César vaticina que a Ministra vai fazer muita coisa no Ensino Superior mas não tanto na Ciência ! Assim começa o post de forma um tanto ou quanto contraditória se me permite dizê-lo. Das duas uma: ou há Ensino superior E Ciência ou então aquele é um EMBUSTE !!! Ou seja em nenhum país do mundo há ensino superior sem ciência e investigação. Se queremos continuar a enganar nós próprios ... tudo bem ... mas até quando ?
"Se queremos continuar a enganar nós próprios ... tudo bem ... mas até quando?"
É uma contradição mas é um facto. Tu próprio já foste professor duma dessas instituições e deves nos dizer como é ter a consciência de estar ali a preencher o formulário (folha d'trabói, num bon kriol).
Pois ! E como dizes fui ! Quando tomei consciência que andava ai a enganar eu próprio PAREI ! PAREI e decidi ESTUDAR MAIS ! Com o meu próprio dinheiro decidi continuar a ESTUDAR. (Sublinhar com meu dinheiro hammm!) Decidi aliás investir. Sem estar por ai a MENDIGAR bolsas, sem estar como alguns a fazer elogios a Pró-Reitores da UniCv não é Cesar ? Mas não é só no Ensino Superior que se preeche formulário. Há muito menino por ai armandos em maioral e o que fazem é mesmo isso ... preecher formulário (de vários tipos!) dar graxa aos Gates Keepers e escrever post ...
Hum, qual é o mal de ser bolseiro? Agora também é sinónimo de parasitismo ou minoridade? Costuma ser ao contrário! Mantenhas!
Não há mal NENHUM em ser bolseiro !!! Só há mal mesmo é como é que se obtem certas bolsas !?! Para quem vão as bolsas ? Isso é que há (poder haver) mal.
Aliás num pais que fala tanto em Ensino Superior deveriamos investir a sério e dar oportunidades ao máximo número de possíveis cientistas e investigadores. Forma de fazer isso é normalmente através de Bolsas. Mas não como estamos. ES está a ser transformado num negócio . Aqui é que há mal !
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