22.6.10

Pai,Filho,Espírito

Quando o Benfica ganhou o campeonato nacional português, o povo aqui fez uma festa tamanha, que dificilmente consigo explicar sem parecer exagero. Mas foi um exagero. Carros auto-tanques, esses que distribuem a escassa água a domicílio, quando a rede de distribuição falha, espalhavam água na praça do Mindelo, junto com fogos de artifício e muita, muita folia. Foi incrível.

Ao mesmo tempo, quando Cabo Verde empatou (imaginem se ganhasse) um jogo amigável (imaginem se fosse oficial) com Portugal, o que vimos foi um tratamento frio por parte da comunicação social portuguesa, a mesma comunicação que normalmente nos trata com um carinho do género papá que passa a mão na cabeça do filhote. Ficamos indignados, embora pouco, porque não somos de indignar quando nos tratam por baixo.

Ontem Portugal ganhou na Copa. Ganhou forte. E era só ver uma população cabo-verdiana em frente à embaixada portuguesa, aos berros, batendo palmas, gritando vivas a Portugal, a mesma embaixada que não se digna criar mais condições de acolhimento aos muitos cabo-verdianos que aí se deslocam para um pedido de visto, ou tratar de uma outra papelada, deixando a população à rua, durante horas e ainda com direito à antipatia dos funcionários do consulado.

A minha paciência é longa mas tem limites!

15 comentários:

Amílcar Tavares disse...

Em minha opinião, são pessoas de mentalidade pobre mas são livres para gostarem e fazerem o que lhes der na real gana.

Cesar Schofield Cardoso disse...

Evidentemente. O meu problema está na mentalidade pobre...que é MUITA gente! No caso do Benfica foi o país todo quase.

É no mínimo intrigante.

AM disse...

Deveria começar por se indignar pelas " optimas" condições de atendimento da Embaixada CV em Lisboa...E ao tratamento votado aos caboverdianos!

O resto é BOLA!!!!

Cesar Schofield Cardoso disse...

Se em vez de milhares de portugueses fossem milhões, havias de ficar um tanto espantado também Madeirense. Não estou preocupado, estou espantado. Ainda mais, para um país que saiu da colonização, é um comportamento, vá, curioso (para ser moderado). Desculpa Madeirense, mas quem conhece a história e se revoltou ao ler relatos do abandono que a "metrópole" votou estas ilhas, causa-me impressão. Não cultivo animosidades em relação aos países estrangeiros, nem europeus, nem africanos, nem outros que sejam; tento ser correcto em relação ao estrangeiro, mas não vou pedir desculpas por ter um alto sentimento de Nação Cabo-Verdiana.

Cesar Schofield Cardoso disse...

AM, uma estupidez não invalida a outra. Se fosse assim todo o mal do mundo estaria em perfeito equilíbrio. "Ah, o teu crime é maior que o meu, logo o meu fica ilibado"...vê bem que não dá.

Anonymous disse...

Milhões para a rua, nem mesmo sendo Portugal campeão mundial! Mas se bem me lembro, no mundial de 2002 segundo sondagens (sempre passíveis de erro) 90% dos portugueses amantes do futebol, estavam com o Brasil.
Eu penso é que extrapolar as simpatias no futebol para outras coisas serão sempre inconclusivas. Essa situação pode-se verificar na simpatia que o Benfica tem cá na Madeira, que está em completa contradição com a ideia de autonomia que une a esmagadora maioria dos madeirenses. Ao fim e ao cabo o Benfica sempre representou o centralismo lisboeta.
O mais caricato é que no mesmo dia em que o Benfica foi campeão, o Marítimo conseguiu classificar-se para jogar na taça Uefa, no entanto nas ruas do Funchal o que se comemorava era a vitória do Benfica.

Madeirense

Cesar Schofield Cardoso disse...

A ignorância é um mau indicador, bem como são a pobreza, a fome, a doença, etc.

Cesar Schofield Cardoso disse...

O futebol é um fenómeno muito observado pelos sociólogos precisamente porque permite uma leitura bastante alargada do comportamento de massas. Extrapolar neste caso faz todo o sentido. Isso que dizes do Benfica e do Marítimo, também acho estranho, pelas mesmas razões.

E sabes o que me incomoda mais? Como disse o Emílio, as pessoas nunca se juntam com tanta força para grandes causas nacionais, nem mesmo para as vitórias nacionais. É simplesmente um comportamento automático, que foi induzido e ficou. Mais nada.

Anonymous disse...

Deixemos de lero lero. O povão CV pode ser chamado de tudo. de estúpido, de mente pequena, etc, etc ... e quem os chama, será que têm melhor e maior mente? Enfim ... sexo dos anjos! verdade verdadeira, é que o povão cv gosta dos portuga (tomara, tb forma gerados por eles!). Podemos até passar aquela imagem indiferente à selecção portuguesa e dizer em voz alta que somos Brasil (sim, dos brasileiros não temos pseudo-complexos!), que queremos ver portugal a arder, etc, etc ... verdade verdadeira é que geneticamente estamos ligados a eles e gostamos deles, com pontapé no cú, maus tratos ou não! Só a história, com o passar dos anos e dos séculos (agora acelerado por causa dos downloads e da velocidade da internet), é que um dia iremos ombrear e superar esse estigma e esse complexo de colono-colonizado, de um lado e de outro.

Anonymous disse...

Meu caro, concordo com este teu post, mas deixo aqui uma sugestão para o título que deveria ser tal pai, tal filho. Afinal, somos um subproduto português. Quando Cabo Verde empatou com Portugal no jogo amigável, fomos tratados com desdém e sobranceria tipicamente lusas. Enfim...

Cesar Schofield Cardoso disse...

Este assunto é um tanto chato, mas é preciso que se fale sobre isso, que se abram os velhos baús, porque é preciso que a normalização das relações entre os povos ex-dominadores/dominados passem da conversa às acções/atitudes reais. Não me satisfaz que o discurso seja amigável se depois na prática, dentro de nós, temos sentimentos pouco dignos.

Os homens precisam se respeitar, em qualquer situação.

Anonymous disse...

Sou trasmontano. A minha terra sempre foi vitima do abandono de Lisboa.
O país era todo pobre e vivia mal, Cabo Verde não foi caso único.
Tem um texto interessante sobre as elites dessas ilhas (belas a meu ver) da autoria do Carlos Cardoso.
O abandono não foi maior que aquele a que o nosso interior foi deixado.
Podíamos demorar dias de viagem até Lisboa.
E, claro, a "família" não se escolhe mas aprende-se a conviver com ela.
Saudações, Públio

Anonymous disse...

bem..
eu até gosto de aparecer por aqui, mas já paravas de mostrar esse complexo de inferioridade, quando ai vou (a Cabo Verde) encontro uns meninos artistas arrogantes que pensam que são donos do mundo.. por favor...
que complexos...

Cesar Schofield Cardoso disse...

Não percebi bem...

Eder Semedo disse...

Gostei bastante de ler este post, penso da mesma forma há algum tempo, mas frequentemente deparo-me com colegas e amigos cabo-verdianos que discordam de tal visão. Penso que conhecemos muito mal a nossa história, a forma como a nossa língua materna e a nossa cultura foram tratadas pela "metrópole", sendo que a forma, a meu ver, insultuosa como a nossa querida selecção foi tratada pelos media portugueses é apenas mais uma gota no oceano. Estudo em Portugal e acho "fantástico" que os portugueses estejam sempre à espera que apoie a selecção deles, "porque sim". Regra geral vejo pouco respeito pela identidade cabo-verdiana, principalmente enquanto país independente, sendo que não raramente encontro pessoas que se referem a Cabo Verde como se de uma actual colónia se tratasse.

Mentalidade pobre, de parte a parte.

Abraços,
Eder Semedo