5.1.11

Nervos médios

Tudo anda contido em grandes cargas emocionais, os dias por cá. É imenso como a política determinada a vida das pessoas. Dos pobres, determina se vão ficar mais pobres ou ter uns momentos de pobreza suavizada. Dos ricos, determina se vão fechar este ou aquele negócio, se a malta no poder é da sua malta ou não, se vão ter que dar cambalhotas ou não para se manterem no fluxo capital. Dos médios, nós, determina o status profissional, se é o momento do grande salto ou não. É neste pequeno ponto que me repugna com toda a força a política que a minha geração (e a dos meus pais) anda a fazer. Quem anda verdadeiramente preocupado com as convulsões sociais e económicas do mundo, ou as questões ambientais, ou as políticas culturais, ou os paradigmas intelectuais, as tendências, as discussões filosóficas, o debate de ideias? É tudo uma questão de posição.

Anda nervosinho o tempo por cá. O que dá medo é que não é um nervão, nem uma ausência de nervos; é um nervosinho médio, porque por outro lado, uma das características de nós cá, país microscópico, depois da política, somos sempre primo de alguém, ou marido da prima, ou cunhado do primo. De maneira que é, bater forte, mas meio no alvo, meio no ar, que não magoa muito, mas avisa seriamente. O problema acontece mesmo, e aí não se sabe ao certo com que carga e com que danos colaterais, é quando se rompe o limiar do nervosismo médio. Pode se transformar em tudo: desde cenas caricatas a autênticas provas de baixaria.

Têm-me perguntado, então a minha opinião deste e aquele, desta política pré-eleitoral, como se a política só fosse feita quando há eleições. Digo-vos, de momento prefiro sentar-me ao camarote e assistir de boca fechada. Para não perder um único detalhe. 

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