20.2.13

Notas cotidianas

Artista: Christopher Knowles

Boa educação à moda antiga ainda não tem substituto. Continua válido, elegante e delicioso.

Normalmente saio de casa de manhã bem devagar. Apanho os raios de sol todos, entre a casa e local de trabalho, porque nesses dias tenho o privilégio de ir ao trabalho a pé. Paro, falo com as pessoas, não tenho pressa nenhuma em chegar ao escritório. Nesse pequeno tempo entre um local e outro, acontecem coisas incríveis, boas e más. Aconteceram-me:

Um miúdo, que não deve ter mais idade que a minha filha de 8 anos e portanto devia estar, ou na escola, ou a estudar, ou a brincar, mas não, em vez disso vendia rebuçados na ponta da esquina para ajudar a economia familiar. O miúdo virou-se para mim, abruptamente, e disse: "kant'ora?" (quantas horas?). É exatamente por isso que gosto de sair de casa devagar, para ter calma de espírito para reagir as negatividades do cotidiano. Virei-me para o miúdo, num tom de pai, e disse-lhe: "querido, diz, por favor, diga-me as horas e no final diz obrigado". Obriguei-lhe quase que repetisse a frase e ele timidamente, envergonhado, repetiu. Despedi-me, como um pai. No outro dia, vinha a passar na mesma rotina, o miúdo virou-se para mim e disse: "senhor, que horas são, por favor?". Tive um ataque de sorriso! Disse-lhe as horas e ele aprontou-se: "obrigado, senhor!". O sorriso deve ter ficado incrustado na minha cara o dia todo, espreitei o miúdo ao afastar-me, ele via para mim e sorria, no que podia traduzir-se por: "obrigado senhor, por me ter ajudado a ser um miúdo melhor".

Adoro esses detalhes do cotidiano. 

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