8.2.13

Tarantino, humano afinal


Já vi todos os filmes do Tarantino (excepto a curta de estreia e um tal de Four Rooms) e vou continuar a ver tudo o que ele faça, porque é dos cineastas que mais me inspiram, mas, à revelia da grande histeria mundial à volta de Django Unchained, eu não adorei o filme.

O que mais se destaca em Tarantino, para mim, é a sua capacidade de surpreender o mais avisado dos cinéfilos. Tinha jurado que não via mais nenhum filme sobre a II guerra, mas com Inglorious Basterds lá fui porque era o meu herói Tarantino. Não perdi a viagem, aliás nunca imaginei ver um tal catarse ao Holocausto. Pois, em Django nada surpreende. O argumento é revelado inteiramente nos primeiros 10 minutos, os personagens são francamente inferiores ao que já nos habituou Tarantino, excepto a monumental interpretação de Leonardo DiCaprio, e até o apoteótico momento de banho de sangue, marca indelével de Tarantino, em Django foi um tiroteio sem piada. Detestei o personagem de Samuel L. Jackson, a quilómetros de distância do maravilhoso Jules de Pulp Fiction ou o todo poderoso Ordell de Jackie Brown. Esse Dr.Shultz que perecia ser a grande promessa do Django, é afinal uma pálida sombra de grandioso Coronel Landa de Inglorious. A pretensão de filme-catarse esvaiu-se completamente na novelinha do amado que vai salvar a amada, numa alusão a um conto alemão também de amado que salva amada, que no final resultou nisso mesmo, numa novelinha. Tarantino domina vários códigos culturais, mas quanto a mim, precisa pensar numa versão melhor de catarse  da escravatura nos Estados Unidos. Terá irritado Spike Lee pela ligeireza de mexer com esses códigos. Até mesmo num aspeto que ele também demonstra grande criatividade, a banda sonora, aqui em Django meteu um rap que parece-me algo forçado. Prefiro a sua cultura funk.

Enfim, sempre na minha pessoalíssima apreciação de um dos melhores realizadores do cinema contemporâneo, Tarantino parece-me estar a atravessar aquele momento na vida de um artista que é preciso repensar a linguagem, afim de evitar a desgraçada imitação de si próprio. Tarantino habituou-nos a uma nova obra-prima a cada novo filme e eu, enquanto fã absoluto, não podia deixar de ficar desiludido por este que considero a sua obra menor, na esteira de Reservoir Dogs, Pulp Fiction, Jackie Brown, Kil Bill I e II, o super-hiper Inglorious Basterds. Bem talvez seja melhorzito que Death Proof, outro tiro ao lado de Tarantino. Que venha o próximo.

Sem comentários: