12.11.09

Quinta,Essência

Está tudo doido em torno, gente doente, com medo dessa doença nova odiosa, de outras que se vem juntando, de outras que já estavam e progridem, tais como os que matam de coração, de comilança, de gordura, de falta de higiene de vida. A cidade está sacudida. Costumávamos brincar que Deus é caboverdiano, face a perigos que nunca davam em nada, casas podres que não caiam, epidemias que espreitavam e não aconteciam, face a toda a casta de desleixo sem consequência. E agora, que epidemias acontecem, há mortes e centenas de doentes todos os dias, casas caem, a chuva, tradicionalmente amiga, leva na enxurrada uma vila inteira, turistas cancelam visitar aqui, empresas vão à falência, há mais famílias no desemprego, estrangeiros vêm nos ajudar, porque sós não aguentamos tanta fúria, será que Deus renunciou à sua nacionalidade caboverdiana? Deus cansa, né?

Mas apesar de, de facto, estar tudo doido, a maneira desse povo não mudou muito. Além de continuar a sujar, mijar na rua e gritar palavras de boca suja, o que continua mesmo permanente é esse estado de espírito, como se nada estivesse acontecendo e tudo fosse só mais alimento para piadas. A gente de S.Vicente diz que, agora na Praia, se não se morre de gang, morre-se de Dengue, na Praia dão alcunhas para o demónio, Sakudin, Feru-Gaita e nomes assim, na Boavista continuam a culpar os Badios de ir pra lá montar o inferno. Tudo é um pouco a brincar, do douto doutor ao povo ralé, todos brincam, até mesmo com o Diabo. É da nossa quintessência.

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