Todo o gesto executado com refinamento e criatividade torna-se arte. A lata, ou latosa como alguns preferem chamar, do Primeiro-Ministro tem essas qualidades. Perante a pressão, vá lá, que nem é assim tanta, fosse noutro país a sociedade já teria exigido a sua demissão face à situação ridícula da Electra, o Primeiro-Ministro contra-ataca, acusando os cidadãos de “déficit de cidadania” porque roubam a luz, o que, segundo se depreende, será o resumo da problemática da Electra. Toda a verdadeira arte tem sempre a marca da originalidade e a lata do Primeiro-Ministro também tem essa qualidade. Depois do contra-ataque inusitado, ainda ameaça que vai fazer os governantes sairem à rua para manifestarem contra a população! Esse espectáculo pago para ver.
Confesso que a lata do Primeiro-Ministro é inspirador. A arte é isso mesmo, transformar os reveses em obras criativas. Já agora o Primeiro-Ministro, na mesma manifestação, podia protestar contra os cidadãos que não vão ao emprego, os infames desempregados. Podia ainda mostrar o seu repúdio pela população que se dedica ao crime pesado, que matam, se prostituem, violam e roubam à mão armada. Protestaria ainda contra os bundões da Assembleia Nacional que andam a torrar o dinheiro do Estado. Chegado a um ponto, podia fazer como alguns artistas fazem, a auto-mutilação, castigando-se pela ausência de políticas habitacionais decentes, pelo estado deplorável da Justiça, pela quase inexistência de políticas ambientais e culturais e tantas outras coisas que falharam redondamente e com graves consequências no nosso dia-adia.
Admiro essa capacidade criativa do Primeiro-Ministro, mas tenho de adverti-lo que a prática da arte tem os seus riscos: quando a fantasia invade a realidade, é preciso soar o alarme e fazer intervir profissionais da cabeça.
(O que foi escrito acima não é ficção, vejam a seguinte notícia: JMN diz que a falta de energia na capital é uma situação que o “angústia profundamente”)
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