Conheço bruxas, de verdade! Maimuna, que é uma flor de três pétalas que nasceu em Moçambique, fala em língua de bruxa. Também a prima Lúcia conhece essa fala. Mamã tem as suas tiradas de bruxa e eu acabo por aprender bruxedos básicos. Maimuna dizia-me, também fala assim a prima Lúcia, que nada acontece por acaso, que tudo está ligado por linhas invisíveis e as bruxas, boas e dóceis, conseguem ver essas linhas, só isso.
A prima Lúcia previu todas as linhas invisíveis que me puxaram aqui a ali, que me ligaram a este e a aquele, as linhas que mudaram os últimos dois meses da minha vida. Maimuna, a minha bruxa de serviço em S.Tomé, fazia-me leituras diárias de sinais, como um assessor de impressa faz recortes de notícias. Eis umas ligações invisíveis:
De enfiada, conheci tipos fantásticos, brothers in art, e de repente já temos projectos, planos, esperanças e uma alegria de estar juntos, como se esperássemos por isso toda a vida. René, sentiste isso? Tu também Kwame? Uma estranha e palpável sensação de conhecer Adelaide encarnações atrás, os seus olhos familiares e as suas palavras dirigidas a um velho amigo. João Carlos Silva olhou um momento para mim em silêncio e disse-me: parece-me conhecer-te de longos anos! Paulo e Guida parecem vizinhos de longa data! Podia caminhar a marginal de S.Tomé de olhos fechados, conhecia as pedras de cor.
Hoje queria ver um filme, mas não um qualquer, nem sequer um excelente qualquer. Queria uma coisa que me cortasse um pedaço de tripa. Quando acabei de ver este filme Dogtooth (Dente Canino), do grego Giorgos Lanthimos, que tem a força de Michael Haneke e a bizarrice de Lars Von Trier, fiquei em estado de espanto. Não nos podem acontecer tantas coisas fortes ao mesmo tempo sem que isso signifique muito.
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