21.1.14

CV.SOCIAL

Foto: Arquivo Histórico Nacional

Terminou a Semana da República, marcada pelas datas 13 e 20 de Janeiro, dia da abertura democrática no país e dia dos heróis nacionais, respectivamente. A semana foi marcada por intensos debates, sobre temas de capital importância para o país, que vão desde o ensino da história, até questões sócio-económicas prementes. Ouvi várias análises, umas sobre as difíceis condições materiais da vida no arquipélago antes da Independência, outras sobre os imensos ganhos do pós Independência. De todas as análises, ficou-me claro dois aspetos, que pessoalmente considero graves e até preocupantes: o reconhecimento que o crescimento económico não está a ser transformado em desenvolvimento social e que nem se sabe como fazer isso; o distanciamento progressivo das elites intelectuais da realidade social, que por sua vez se organiza num voz até com tons de ameaça. Ecoa na minha cabeça a frase do líder da Corrente de Ativistas: "prestem atenção em nós!"

8.1.14

Fotofestivalar e Fotodepender

Imagem do espetacular Kiluanji Kia Henda

Há anos que tentamos abordar o tema da Arte Contemporânea em Cabo Verde, mas continua a ser uma noção bem distante. Atrevidamente já criamos no passado eventos que chamamos de "Arte Contemporânea" a ver se provocava uma reacção, nesta sociedade flácida, mas não provocou, a sociedade continua flácida. Já fomos lá fora, já participamos em eventos chamados, justamente, Arte Contemporânea, vimos maravilhados e de algum modo consternados que, realmente, andamos a margem do que se apelida arte, quanto mais contemporânea.

Razões várias, a começar pela ausência da academia, ressaltando o meritório contributo do M_EIA, mas evidentemente insuficiente para o volume do país. A academia não vai criar talentos, mas vai criar aprimoramento técnico e o imprescindível campo teórico. Da questão da educação, saltam todos os outros: falta de produção, logo a ausência de propostas arrojadas, a inexistência de eventos regulares (bienais, por exemplo), não presença de curadores, historiadores e jornalistas especializados, falta de mecanismos de distribuição e retro-alimentação do sistema, por aí fora.

Neste contexto surge o Festival Internacional de Fotografia de Cabo Verde, com uma proposta tão nivelada por cima, que talvez nos tenha apanhado em contra-pé. Apanhou-nos a todos: autores, produtores e financiadores. Vamos tentar corrigir essa rota? Vamos restabelecer o debate interno? Vamos recuperar as reflexões feitas no Praia.Mov ou no Oiá? Vamos começar agora com as atividades, para quando do festival a gente esteja de pés firmes no chão?

Neste contexto também vem surgindo, da timidez para níveis cada vez maiores de atrevimento, as iniciativas do coletivo online Fotodependentes. O mérito do coletivo, na minha pessoalíssima opinião, é provocar uma "dessacralização" no fazer da imagem. A maioria dos membros do coletivo entraram com a desculpa que não são profissionais, que fazem por atrevimento, que são curiosos...enfim. Dessa timidez nasceu o "passatempo" (mais uma vez uma cautelosa posição) #PROJETO47, que considero particularmente feliz, pela mistura de cidadania, fruição e apropriação do espaço online.

É preciso no entanto pautar que, fotógrafos-artistas são uma categoria diferente dos fotógrafos-profissionais (no sentido comercial) e que esses são diferentes dos fotógrafos-amadores. Cada categoria tem um percurso que é preciso respeitar, mas todos juntos formam uma massa crítica à tão carente produção de imagens neste Cabo Verde que, paradoxalmente, tem milhares de fotografias espalhadas por esse mundo fora. Mas, uma fotografia é uma imagem?

6.1.14

#republika

Que povo, que nação, que pátria? Como, quando e onde nasceu o sentimento nacional? Como a morna e a poesia construíram a nação? Como o batuque e a mazurca guardam os nossos genes? Como se construiu a pátria, o que lha mantêm unida e o que lhe periga a integridade.

‪#‎republika‬ reflecte sobre a comunidade que somos, organizada politicamente. Olha para a Constituição da República, texto que exprime a nossa vontade de nação, os nossos ideais e a nossa imagem do mundo, bem como as nossas contradições, as longas amarras do passado, os traumas e as feridas. Como esse texto, poético porque utópico, condiciona as nossas vidas no quotidiano? Ou, como o que desejamos nos posiciona no mundo?

E futuro? E África?

Seguir em: http://www.cesarschofieldcardoso.org/republika/
https://twitter.com/cesarschofield

19.12.13

Reloading


Muitos fazem balanços e planos no final do ano, explícita ou implicitamente. Eu faço os meus ao sabor do maravilhoso chá tradicional Xali e descobrindo o jazz de Christian Scott (imagem).

Para mim, o mundo está meio cheio, em vez do pessimista meio vazio. Aliás, otimismo e pessimismo dependem do lado da história em que se posicionar: se do lado do espetador, ou do lado do ator. Sigo querendo fazer parte dos atores e nesse percurso vou conhecendo os melhores seres do mundo. Este particular ano que vai findando, foi de ganhar mais umas quantas amizades, gente energética, energizante e atuante. Tive a oportunidade de, junto com eles, derrubar umas quantas ideias pré-fabricadas e sonhar construções novas. O nascente ano promete uma carga de luz.

Christian Scott tem apenas 30 aninhos e já é uma revolução no jazz, junto com outros da sua geração. Ouvi quase exclusivamente jazz em toda a minha vida adulta, a partir do momento em que aos 17-19 anos a voz de Sara Vaughan atingiu-me como a seta de Cupido. E me fascinei com essa incrível aventura musical negra, que em 100 anos já passou do Blues ao Bebop, Cool, Post Bop, Hard Bop, Avant Garde, Fusion e estamos na era do jazz contemporâneo, sendo Brad Mehldau o músico que mais me tenha impactado nessa virada. No entanto essa música louca já tem inovadores e até gostei do termo "Next Bop". Músicos como Esperanza Spalding e Christian Scott são sons fresquinhos no mercado, fazendo cada vez mais a junção do pop e do "jazz puro", como defendido por Wynton Marsalis.

Há um sentimento de Next. É essencial perceber a cultura digital, a cidadania online, a desterritorialização do trabalho, o media art e toda uma série de fazeres e estares, que a era pós-contemporânea vem trazendo, para continuar a estar do lado dos atores. Next!

13.11.13

Filhos Radicais (Pais segurando firme)

Naia: Pai, hoje começamos a aprender os ordinais: sexagésimo, septuagésimo, octogésimo..
Eu: Uau, consegues até dizer essas palavras todas de enfiada!...
Naia: É, a professora disse que são palavrões, mas palavrões que podemos dizer - tratou de pontuar.
Eu (com súbito interesse): Ah é? E que palavrões que não podem dizer?
Naia: Mas não  posso dizer!!..Mas tu dizes, papá, quando estás chateado..Dizes muito um que começa com P e termina com A.
Eu: Ah é, digo tanto assim? Hmm...E que outros conheces?
Naia (com um sorrisão): conheço um que está em "computador"
AHAHAHAHAHAH (Saiu-me uma gargalhada dessas do fundo do poço!)
Eu (com acrescentado interesse): Que mais?
Naia: Tem um que começa com M e termina com A
Eu (apavorado com a direção da conversa / mantendo a pose de cool)
Naia:...Acho que só conheço esses 3... (ela deve ter lido uma prisão de ventre repentina na minha cara e saiu com esse tranquilizante)
Eu (fingindo autoridade): Mas diz-me, onde se aprende isso tudo?
Naia: Ora, os meus colegas dizem palavrões a toda hora!..(a safadinha se safou)

4.11.13

Poliamor

[Poliamor me lembra Lúcia, não tem como!]

Polienamorado pela minha terra. Me sentindo amando várias ao mesmo tempo, sem possibilidade qualquer de dedicar mais amor pra uma que pra outra. S.Vicente é ilha-mãe, inquestionável, Santiago é aquela mulher do calor, Sal é uma amante, Boavista é a outra, Fogo é aquela que nunca na vida se esquece, Maio é doce e discreta, S.Antão tem essa maneira de te agarrar, S.Nicolau ainda veste saias longas e sorri com a frescura de uma montanha virgem, Brava é essa moça linda, com ares de adolescente, sempre.

Mas como todo quem ama, sofre, assim me mata todos os dias a violência contra as ilhas. Os crimes ambientais são silenciosos e sorrateiros, embrulhados em elaboradas teorias jurídicas. O desprezo pelo património físico cultural é prova de selvajaria. Cabo Verde tem uma violência surda e letal, contra a natureza e o património cultural. E o pior é que tá tudo dentro da legalidade!...

21.10.13

Pit Stop

Artista: Sharon Hayes
Ready...
Fim-de-semana é um pit stop. Pit stop é aquela parada que acontece em 6 segundos em que os carros de fórmula 1 põem combustível, trocam rodas e ainda algum pedaço do carro que se tenha danificado. Mas FDS é pit stop em versão longa. Vamos à praia, verificamos o corpinho, testamos uns olhares, vamos ao shopping, sim, essa moda parva também já está cá, mas só que é preciso dizer que sempre fomos ao shopping, que antes era chamado de mercado, feira, sucupira, ya e outros nomes quanto a mim mais calorosos. A diferença agora é que se chama "shopping" que isso do inglês dá aquele toque tal. E a diferença é que no shopping andamos de forma engraçada, com uma certa pose, com um sorriso bobo na cara e fingimos que vamos comprar. Vamos ao cinema 2D e 3D, que essa parte eu gosto, mas o "nós" aqui é realmente bastante restrito. A transformação da cidade também tem a ver com essa delimitação estrita de espaços e essa estratificação clara da sociedade. No entanto na cidade da Praia continua a faltar dramaticamente espaços de qualidade, para um público exigente, em termos de cultura.

Steady...
Dia 18 foi Dia Nacional da Cultura. Foi interessante verificar que um pouco por todo o país os municípios organizaram eventos para assinalar o dia. Ou seja, moda pega e há modas que vêem por bem. Da qualidade já falamos daqui a pouco. 

Go!
Maus sinais vêem das relações Cabo Verde - Guiné-Bissau. De forma completamente artificial, vozes vão plantando a discórdia, entre povos, que na realidade do dia-a-dia, das relações humanas, dos contactos e dos afectos, não vivem na discórdia. A sociedade nos dá ferramentas técnicas e intelectuais, para devolvermos elevação de discurso e ação e não para expressar as nossas próprias frustrações e motivações, que nada tem a ver com o bem-comum. Mas felizmente que, de um lado e do outro da (pseudo)barricada há gente a trabalhar para realçar o que de bom (muito maior do que há de não bom) existe entre nós.

Restart.
Guiné-Bissau, como em Moçambique, países pobres, onde as populações atravessam vicissitudes várias, uma pergunta se impõe: de onde vêem as armas?

13.10.13

Sembène strikes


A quem interessa um “cinema negro”?
Este é o título de um artigo de Júlio César dos Santos e Rosa Maria Berardo, enviado a mim por Janaína Oliveira, minha amiga historiadora, que pesquisa a questão da invisibilidade do cinema negro e cinemas africanos.

As denominações "negro" e "cinema negro", causam imediatamente desconforto. Como causaria desconforto a denominação "cinema branco". O facto é que existe um cinema branco, ou orientado por brancos, ou feitos à medida de brancos, ou, aqui sim problemático, que não incomode os brancos. Olhando para o filme Emitai, do mestre Sembène, que mete o dedo de forma violenta na ferida do colonialismo, ou, digamos as coisas, da escravatura recente, percebemos que a pergunta "a quem interessa um cinema negro?" é uma questão com vários desdobramentos. O filme Emitai de Sembène foi tão cáustico que foi banido do seu próprio país, já independente! Razão para indagar a quem não interessou que esse filme passasse. Emitai é um filme que conta a história que não se quer contar. Traz um episódio bárbaro, esses tantos que aconteceram em todos os nossos países, como os massacres de Pidjiguiti ou Batepá, ou ainda o muito mal contado trabalho forçado em S.Tomé e Príncipe. Vi o filme e acordou-me sobre o facto que, de novo temos dominação europeia nas nossas sociedades. Na minha terra, os donos das maiores empresas são, outra vez, os europeus, o que provoca automaticamente a formação de uma elite que tem uma cor. E uma vez mais o intermediário dessa classe de facto dominante, é uma elite local, subserviente e sustentada por esse sistema, chamado de "investimento externo". No dia-a-dia vou vendo o lento ressurgimento de tensões baseadas na classe-etnia. E oiço comentários que me faz pensar que isso ainda vai acabar mal, outra vez. Pois, Emitai acorda essas consciências e quase que apela para uma militância, quando, uma vez mais fazendo uma crítica cirúrgica das próprias tradições africanas, nos apela a reformular os nossos modos de pensar e estar para melhor enfrentar a hegemonia estrangeira. Pois então, a quem interessa um cinema que acorda fantasmas, ou periga a "tranquila convivência multi-étnica nas nossas sociedades atuais"? A quem interessa manter as memórias vivas? A quem interessa ensinar a história na perspectiva oposta? Para quê mexer nisso tudo?..Talvez devêssemos perguntar ao judeu porque insiste em manter o holocausto vivo, ou o japonês porque mantêm Hiroxima na memória, ou até mesmo o francês porque insiste em lembrar o nazismo.

10.10.13

Like Sembène

Ourmane Sembène precisa nos falar de coisas, mas não coisas quaisquer e sim coisas profundamente engajadas, politicamente engajadas, ideologicamente engajadas. O homem é da geração da "libertação de África", nos vários sentidos que essa palavra pode assumir. É contemporâneo de Cabral, Fanon, Senghor, entre outros nacionalista africanos e lhes é tributário, como atesta na sua declaração, no início do seu filme "Emitai": "Dedico este filme a todos os militantes da causa africana". 

Em Moolaadé, Sembène  precisa nos falar de uma das mais graves violações de direitos humanos da atualidade: a mutilação genital feminina. Essa mutilação se justifica na tradição/religião, da mesma forma como se justificava a morte de jovens Incas, para lhes arrancar o coração para oferecer aos deuses. Ora aí está um bom ponto: tradição e religião não são imutáveis. Quando uma prática não mais serve a nenhum propósito, rejeitamo-la. E é isso que Sembène  faz em relação ao tema, com força, determinação e usando eficazmente a arte. Ora, como fazer arte, com os seus preceitos próprios, de harmonização, de busca estética, de expressividade, etc., e ao mesmo tempo veicular um discurso ideológico, forte e marcado? É aqui que começa o maravilhamento sobre o cinema de Ousmane Sembène.

Sembène em Moolaadé, antes de mais, perscruta a sua cultura ancestral nos seus mais ínfimos significados. Desmonta esses significados diante dos nossos olhos, como um mecânico desmonta o motor de um carro, enquanto nos explica a função de cada peça. É com esse vocabulário de significados que ele constrói um potente discurso, questionando a própria tradição. Tão forte que quem vê fica logo também engajado, numa posição ou noutra. Depois vem o cineasta/artista, na forma como ele constrói a narrativa, plano a plano, não desperdiçando recursos, num método quase teatral, em quadros onde tudo circula na perfeição, que até corre o risco de artificia-los, alternando ritmos e intensidade, ou seja, usando a totalidade da linguagem cinematográfica, demonstra como ele domina o seu métier. Em resumo, ver este filme é uma inspiração para todos que gostam de um cinema socialmente ou politicamente engajado, ao mesmo tempo que vemos uma obra visualmente linda.

30.8.13

Sextavado

Artista: Ericka Beckman

Sexta é dia de agito no quadrante in da society. Sucede a quinta, que por relação íntima é conhecida precisamente por sextinha, e precede o sábado, dia em que gin tonic tem sabor a águas translúcidas verde-esmeralda num dia solarengo e manso de praia. Ideal mesmo para o agito é iniciar na sextinha, com as habituais convocatórias no Feice (batismo crioulo de Facebook). Feice na verdade é a maior revolução tecnológica para o crioulo, depois de trapiche. Não se conhece outro invento na atualidade que tenha mais utilidade que Feice. Numa mesma plataforma pode-se identificar a roupa, o sapato e o penteado que o outro está a usar, sondar as disponibilidades para um flirt, incendiar relações, marcar encontros e pesquisar as tendências da night. Adicionalmente, dá para enviar uma frase de preocupação ecológica ou de auto-ajuda, ou ainda, tangencialmente, expressar o horror pela guerra. Para completar as maravilhas do Feice, tudo fica registado, de fotos, a vídeos, a flagras e a declarações, para análise cuidadosa de segunda a quarta. Domingo não existe.

Sexta é quintessencial para gente chique. É dia de perfume e vestidos em vapores. Dia de lábios, olhares, profusão sensual. Dia de risadas, frases ocas, dia de beat. Segundo as estatísticas, álcool vende sete vezes mais que cultura. Economia alcoólica, assim pode-se dizer, num balanço da semana.

28.8.13

Quarta-Parede

Artista: Ei Arakawa

Reality Show?? Quem deu este nome a esses programas de voyerismo audiovisual, em que metem uns desgraçados dentro de uma casa, fazendo-lhes pressão psicológica, a ver a merda que sai?

Há 50 anos Martin Luther King tinha proferido o discurso "I have a Dream". No mundo já chamado por alguns de pós-contemporâneo, em que a interacção homem-máquina é o grande buzzword, estamos ainda a assistir a episódios de um racismo que vem das estruturas das famílias brancas bem nascidas, dos filhos bem criados e médicos negros, vaiados por serem...negros e cubanos. Esta batalha ainda se trava ferozmente, quando já temos televisões interativas, web sites interativos, carros interativos, telefones inteligentes, casas inteligentes, caixas automáticas interativas e até um eletrodoméstico, que custa dez vezes o salário mínimo cabo-verdiano, que está a desafiar os chefs de cozinha, que faz tudo, do descascar, temperar, ao assar. Amy Jane, minha amiga senegalesa, encheu a boca de uma indignação contida e disse-me que Cabo Verde não respeita a CEDEAO. Minha boca permaneceu fechada da pura constatação.

Entretanto ali na esquina ultimam-se os preparativos para a 3ª guerra mundial, com consequências imprevisíveis para as nossas economias, para a segurança mundial, para o ambiente e para o próprio mundo, já que se prometeu uma força bélica jamais vista no mundo, promessa essa feita num tom de surpresa Kinder. Os senhores do mundo continuam a brincar de Lúcifer, a ver quem consegue primeiro arrebentar com isto de uma vez por todas. As baratas, segundo dizem, serão as únicas sobreviventes a um cataclismo atómico. As baratas esperam a sua vez.

Para terminar, voto na Lizy para regressar à Casa do Líder, versão crioula de reality show. Ela é autenticamente e idiossincraticamente crioula e é uma injustiça que tenha sido expulsa da Casa. Juro!

13.8.13

Música na Rádio II





















[Hip-Hop]

N'ka kre fika ku bo
Pamó n'ka ta amou
Bu txoman di idiota
Ma n'ka kre fazi ku bo
Kuze ki txeu omi ta fazi ku txeu mudjer
Si bu odjan ku nha pikena
Mó ki bu ta xinti?
...

(Tradução pra lusofonia)
Não quero ficar contigo
Porque não te amo
Chamaste-me de idiota
Mas não quero fazer contigo
O que muitos homens fazem com muitas mulheres
Se me vires com a minha namorada
O que sentirás?

(Destaque do autor do artigo)
Mó ki bu ta xinti?

Músicas na Rádio I


[Funaná]
Bu kre rabenta ku mi, bu kre rabenta ku mi
N'pou karu na strada
N'pou dinheru na bolsu
N'dou tudu dokumento
Minina bu kre rabenta ku mi
...

(Tradução pra lusofonia)
Queres acabar comigo...
Pus-te um carro na estrada
Pus-te dinheiro no bolso
Dei-te todos os documentos
Menina queres acabar comigo

(Destaque do autor do artigo)
N'dou tudu dokumentu

Emoções novas no horizonte


Em modo espera. À espera da chuva, da viagem, de acontecer os acontecimentos importantes que se apontam no horizonte. À espera de rever os amigos, me re-encher de emoções novas. Limpando o equipamento, calibrando as máquinas, verificando a afinação dos mecanismos. Testes. Verificação das hipóteses. O céu está carregado de água, que balança, balança e mantêm todos de olhos no céu. Mas não cai. Balança. Todos esperam. Esperam a água, as cheias. Esperam nem pouca água, nem demasiada água. Espero que o lixo não desague no mar, que árvores não caiam, que pessoas não desesperem. Esperamos, esperamos. Emoções novas no horizonte.

9.8.13

Ramadan

Imagem: euronews.com

Feliz por iniciar o meu trabalho com as comunidades africanas imigradas em Cabo Verde. Hoje na Cidade da Praia, centenas (ou milhares) de fiéis muçulmanos marcaram o fim do Ramadão. Fui numa das concentrações, no largo do Estádio da Várzea. Parei em silêncio a observar, ouvir e sentir. Estou longe de ser um fã das religiões, principalmente porque dão azo a maus usos, ou não seriam as grandes barbáries humanas - da inquisição, à escravatura, o nazismo e o terrorismo - todas feitas em nome de Deus de uns, ou contra Deus de outros. No entanto, em qualquer espaço onde se celebra um culto religioso, emana uma espiritualidade, que vem da comunhão de pessoas em gestos fraternos uns em relação aos outros, que até parece que o ar muda. Quem não consegue sentir essa vibração, presumo que não consiga sentir vibração outra nenhuma.

O crescimento do Islamismo em Cabo Verde espanta, não pela sua dimensão, mas porque andamos distraídos e, de repente, quando os fiéis se concentram e mostram a força dos números, vem a constatação: Cabo Verde é também agora um país muçulmano. Quando vejo as benesses que a Igreja Católica usufrui do Estado dito laico, ainda, depois de acabar a escravatura, terminar o colonialismo, questiono-me como será quando o Islamismo for, digamos, 10% da população. E sei que estarei vivinho para testemunhar esse tempo. Só não sei se será de tolerância ou estupidez.