27.2.09

As bases do conhecimento

"O ensino da matemática e da língua portuguesa continua a ser o calcanhar de Aquiles do nosso sistema de ensino"
Min.Educação, jornal 13h, RCV, 26/2/2009

Ora, aí está uma constatação carregada de significado: quer dizer que o nosso calcanhar de Aquiles é precisamente em duas disciplinas basilares, sobre as quais as demais se assentam. Aliás, a língua vem primeiro; a língua, diz a linguística, é a ossatura do conhecimento; é pela língua que apreendemos o mundo, transmitimos o nosso sentimento, que recombinamos o conhecimento e modificamos o mundo. Parece-me por demais óbvio que a questão da língua, falo da língua materna, naturalmente, é o cerne da questão.

Temos uma situação de dualidade de línguas, super complicado de gerir: por um lado, é evidente que a língua portuguesa é um bloqueio à entrada da escola, por outro lado só temos material pedagógico em língua portuguesa. Mesmo que arranjássemos um combinação de: ensino oral em caboverdiano; ensino escrito em português (estratégia aliás que muitos professores, à revelia do Min.Educação, usam nas salas, para passar melhor a mensagem); o facto é que alguma engenheria teria que ser feita aqui. Mas, mais custoso que fazer essa engenharia é adiar essa questão sine die. O ensino da língua portuguesa podia beneficiar de uma melhor comunicação dentro das salas; o ensino da matemática é super dependente da boa compreensão da língua, portanto sairia a ganhar.

Contribuições, please.


26.2.09

Panfleto electrónico

Lembro-me, em tenrinha idade, de um reboliço à volta de milhares de papéis espalhados pela cidade do Mindelo, que me disseram se tratar de "panfletos". Falava-se à boca miúda, em círculos discretos, que os panfletos denunciavam o regime, que se tivesse cuidado com a polícia secreta e mais uma data de histórias fantásticas. Desde então retive uma coisa: panfleto não é coisa boa, pode dar cadeia, porrada, choque eléctrico e outras formas de retaliação. Hoje, na era da Internet, este conceito que veio baralhar as noções de "controle", o panfleto político se dissimina à velocidade da luz, incontrolável, para todo o mundo, por e-mail, por blogs, por sites, por SMS, etc.

O mais recente panfleto, que já deve ter circulado por toda a rede do Estado, por várias caixas de correio, dentro e fora do país, é de arrepiar os cabelos da cabeça ao c...Pode até se tratar de oportunismo político, como alguém já disse, mas que tem muito gato morto, fedendo, escondido por aí, tem de certeza! Tchekem aqui (link: http://karadilata.blogspot.com)

Como é cidadãos???

Bravura e covardura

Chris Crites

Admiração absoluta para a jornalista Margarida Moreira, que se mostrou em frente às câmaras de televisão, toda destruída por agressão doméstica. A sua atitude mostra coragem, por se mostrar no estado que estava e por denunciar este monstro, a violência doméstica, que habita entre nós, impune, não assumido, que aflige a famílias de todas as classes.

Pais se acham no direito de espancar os filhos. Homens se acham no direito de espancar as mulheres. E mulheres, algumas, se acham no direito de espancar os maridos. E tudo no silêncio dos lares e da sociedade. Margarida, a tua atitude tem um valor elevadíssimo.

24.2.09

Tempo de alerta

A manchete do "Expresso das Ilhas" deixa-me imensamente preocupado: "Cabo Verde Investimentos em turbulência". Acusações de clientelismo, tráfico de influências e corrupção activa. Um cheirinho a "job for the boys". Um mau presságio.

Qualquer coisa paira no ar. Arrepiantemente lembro-me do período 95-2000 da anterior governação, em que o país estremeceu, com uma sucessão de escândalos, venda do país a retalho, crise financeira interna, instituições a se acusarem gravemente...enfim, o Estado vacilando. Será só mera coincidência? Existirá uma síndrome do 2º mandato? Os boys estão arrumando as suas reformas?

É tempo de alerta para os bravos ou de se fingir de parvo para os covardes.

Negro escuro

Afinal, em relação ao Festival Mundial de Artes Negras, FESMAN 2009, Cabo Verde não só vai participar, como vai acolher parte do festival! É esta a notícia da Lusa, de 7 de Outubro de 2008, ou seja há 4 meses!! Há mais: vai ser criado um Comité de Preparação do Festival!!!

Das duas, uma: para um gajo como eu, que anda metido em organizar anualmente um encontro de arte na Praia, que pôs como objectivo na vida participar do maior evento de arte do país, o Mindelact, pelo menos de dois em dois anos, que anda rodeado de pessoas informadas, ou devo estar terrivelmente desatento (improvável), ou o Min.Cultura anda a brincar às escondidas.

As minhas perguntas filosóficas: por estas alturas já não devia ser público, ou mais público, esta participação? Não devia estar anunciado no sítio do Min.Cultura (lógico!)? Não devia ter saído nos jornais? Que Comité é este? Quem escolhe os membros do Comité? Será que vão fazer a panelinha que bem recentemente lançou um concurso, deliberaram e chumbaram o único concorrente? Vão ser pagos os membros deste Comité? Quanto? Vai haver concurso público para os artistas? São os mesmos membros do Comité que vão apreciar as propostas? Será esta mesma panelinha que vai julgar sobre: arte contemporânea, teatro, moda, cinema e demais modalidades?

Do mesmo camarote que assisto a novela Murdeira, vou assistir esta também.

23.2.09

Blog joint: (in)segurança

Os nossos filhos precisam nascer e crescer no seio de famílias sãs. Isso se consegue com pais bem formados e realizados economicamente e socialmente. Os nossos filhos precisam ir a escolas que sejam prolongamentos desses ambientes sãos. Isso se consegue com professores bem formados e bem pagos e com matéria de ensino veiculadora de valores. Esses meninos, ao crescerem, precisam ter valor para a economia e precisam ter emprego. Isso se consegue com um ensino útil, que não passa totalmente pelo ensino universitário, que lhes torne produtivos, para que façam crescer, realmente, a economia. Esses homens, depois, precisam ver o resultado do seu trabalho em suas pessoas e na sua sociedade. Em seguida construirão lares sãos e terão filhos em condições dignas.

A (in)segurança é um resultado directo do nosso projecto de sociedade. Ou somos uniformemente pobres, ou somos uniformemente ricos, ou somos razoavelmente diferentes, ou somos realmente diferentes, o que interessa é que essa relação se processe em condições reconhecidas por todos como justas. Não acredito em sociedades seguras em que falte a justiça, em sentido mais amplo do termo; em sentido filosófico do termo. Ou acreditamos nisso ou matamo-nos uns aos outros.

Para o perigo que vêm de fora, pelos mares, pelo ar, pelas nossas fronteiras, aí sim, mandem a tropa toda, mas acabem com essa ideia das bases militares, que isso são outros quinhentos.

20.2.09

Murdeira

"MP avança contra o Ministério do Ambiente"
In A Semana, 20/2/2009

...reservem-me um lugar no camarote para assistir.

Sexta-feira, outra vez!!?

Claudio Parentela

Uma sexta tem sempre um bom motivo para se estar contente. Essencialmente é o dia em que vamos ver gente, rir, ser parvos, gastar, ouvir uma musiquinha, por aí fora. Ainda por cima é fim-de-semana de Carnaval, festa que gosto, não pelo omnipresente samba, mas pelo fantasiar da vida.

Carnaval é uma coisa que gostaria de ver estudada em Cabo Verde. Embora já esteja existindo há já algum tempo, não é no entanto um manifestação cultural visceral, como a Tabanka ou o San Jon. Parece-me ser mais um fenómeno do aparecimento de cidades. Está se formando junto com as cidades. Parece-me que ainda busca identidade; procura se justificar. Tenho assistido na cidade da Praia este percurso de, do quase inexpressivo, desenvolvendo aos poucos, com a contribuição do "pessoal do norte", por um lado, e com uma tentativa de "africanização", por outro lado. O facto é que é uma manifestação tolerante a várias mudanças, o que pode ser uma oportunidade para, explícitamente, se criar um produto novo. É facto também que, estando em formação, o seu estudo pode contribuir para perceber a própria transformação da sociedade.

De uma maneira geral a Cultura precisa de investigação, missão aliás declarada do Min.Cultura e não cumprida, sucessivamente.


19.2.09

Nós, Negros?!

www.newtown.co.za

Vai acontecer em Dakar, de 1 a 21 de Dezembro o FESMAN 2009 - Festival Mundial de Artes Negras.

O nosso vizinho Senegal, é um importante país do ponto de vista artístico e intelectual, em África e no mundo todo. Só que é negro demais para nós e não a conseguimos ver; ou nós sofremos de astigmatismo mental, fenómeno que nos dificulta a visão e a compreensão de coisas que estejam muito perto.

FESMAN ocorreu pela primeira vez em 1966, por iniciativa de um grande pensador negro: Leopold Shenghor, que criou o conceito de Negratitude, junto com Aimé Césaire e Léon Damas, conceito esse completamente ignorado (não ensinado) em Cabo Verde, salvo raríssimos interessados. Este Festival mobiliza à sua volta importantes nomes do mundo, brancos e pretos, como Duke Ellington e André Malraux, no passado; Manu di Bango, Danny Glover, no presente.

E Cabo Verde no meio disso tudo? Dak'art, FESPACO, FESMAN e outros importantes eventos de arte em África não nos interessa ou não temos categoria para lá estar ou somos tão somente incompetentes? Será que o Ministro da Cultura sabe que África existe? Ou não sabe é que arte existe? Ou sabe as duas coisas e já estará cozinhando a sua panelinha? Que panelinha é essa? De familiares e amigos, de artistas mais negros possíveis ou vai sozinho fazerr os discurrsos rridículos que costuma fazerr em nome de Cabo Verrde. Ou não vai, como não vai a nenhum evento artístico cá em casa e ponto final?

Ciclos vitais, musicais e morais

Revista Beast

Nasceu Matteo, meu sobrinho por compadrio, filho do compadre Nuno e da comadre Mariangela, mentes iluminadas, arquitectos, urbanistas, autores de um estudo, junto com Paollo, outra mente iluminada, sobre a requalificação urbana de zonas degradadas desta cidade multicultural e multiproblemática. Decorrente das suas investigações, conceberam Matteo, que vai ter dois países, três línguas, uma alma crioula e uma mente multidimensionada. O mundo se redefine de cada vez que nasce um menino.

Cantou no Centro de Estudos Brasileiros, Alberto, filho de Mário Lúcio e sobrinho de Princisito, para ser mais específico. Tem fibra o rapaz! A sua música não é, nem telúrica como a do tio, nem existencial, como a do pai; é uma música fresca, de um rapaz em início de vida adulta, que não passou pelas agruras, nem do pai, nem do tio, vê muita TV, fala Internet, é alegre, é urbano, é talentoso, tem um mundo pela frente e gente conhecida e importante para dar um help. Um estrela a se firmar neste pequeno cosmos crioulo.

Alunos em Porto Novo desmaiam de "fraqueza", segundo o jornal "Expresso das Ilhas". Serão filhos de pais muito pobres, sem dinheiro, sem comida, multiproblemáticos, sem nenhuma dimensão, senão uma única, a telúrica. A própria escola e associações da sociedade local, consternados, se juntaram para prover aos mais criticamente problemáticos desses problemáticos, uma refeição, visto que, como esta onda de País de Rendimento Médio, as cantinas escolares vão deixar de receber doações em comida.

Abriu a Universidade de Santiago, cidade da Assomada, concelho de Santa Catarina. Segundo os seus promotores, três visionários, um dos quais presidenciável, vai ser um orgulho para todos os filhos da terra e um importante passo para o reforço da identidade caboverdiana. Já sei que vão ter oito (!) cursos de licenciatura. Fiquei sem saber mesmo é onde vão sair com tantos professores, mestrados no mínimo, se a escola tem bibliotecas, laboratórios e afins. Fiquei sem saber se a universidade, que abriu num passe de mágica cumpre com todos os requisitos de qualidade definidos pelo Ministério de Educação. Sei que, de certeza, é onde vai parar os alunos fracos de Porto Novo e de todo o país, que mesmo sendo fracos e de pais multiproblemáticos, lá arranjarão os milharzitos de contos para deixar nos cofres desta...Sociedade de Educação, Ciência e Cultura.

18.2.09

Lingada

Vamos lá ver: ninguém disse que para promover a língua Caboverdiana todos devem passar a escrever em Caboverdiano. Nenhuma língua do mundo, mas nenhuma mesmo, se aprende a escrever e ler, de um dia para o outro. É preciso escola; é preciso gramática; é preciso prática. É super, super, super falso esta questão que se levantou à volta do ALUPEC.

Primeiro: é uma chachada a oficialização do ALUPEC. Sabemos que a questão do Caboverdiano é mais de cariz sociológico, do que técnico. Por decreto governamental, decisão centralizada na Praia, isto não vai funcionar. Badios gostam de "k"; Sampadjudus não gostam tanto; eu me chamo "César"; não me incomodaria de ser chamado de "Sezar", mas muito se incomodam. A língua é a matriz de toda a Cultura e a estrutura através da qual nos realizamos enquanto civilização; tratar esta questão com um decreto é a mais descabida das ideias, aliás já costumeiras pelos lados do Min.Cultura.

Segundo. O ALUPEC é uma boa proposta, que precisa ser trabalhada. Mas, atenção, é muito difícil digerir um texto grande em Caboverdiano, pelas razão enunciadas acima. É uma estratégia desastrosa começar agora a versar enormes textos em Caboverdiano. Há imensas coisas a fazer antes de chegarmos ao ponto de produzir altas prosas. As minhas sugetões:
  • A criação de um Instituto da Língua, para os dois, pois que essa questão da língua é um problema SÉRIO, causa do nosso atraso intelectual. Vá lá, contestem!
  • Ensino do Caboverdiano para estrangeiros. Há dias veio um estrangeiro ter comigo e perguntou-me, irritado: "porque não falavam em português naquele programa da televisão?"...Era o que faltava!
  • Começar a passar a grafia do Caboverdiano em pequenos textos: publicidades escritas, pequenos anúncios, em sites, etc.
  • Abrir concursos de criação artística em Caboverdiano, mas de alto nível, para não cairmos no populismo.
...Enfim, vá trabalhar Sr.Ministro e acabe com esta política do show!

Quando for grande quero ser Presidente

Acompanhamos, serenos e impávidos, ao alastrar de um regime déspota e desastroso no Zimbabwe. O presidente vive em estado palaciano e choca os relatos dos seus luxos, enquanto o país vive em estado de emergência, com as doenças a dizimar pessoas, a inflação a atingir níveis irreais, as populações a serem obrigadas a fugirem do país e a cidadania a ser completamente esmagada. Que isso tem a ver conosco? Nada! Somos o país que tem dificuldades em se identificar com África, quanto mais com essa África distante.

Hugo Chavez quer permanecer no poder até 2049?!!! Para conseguir isso faz votar um "referendo" que lhe permite emendar a Constituição, nos artigos que lhe restringia essa permanência?!! Em que mundo louco é este que vivemos? E o regime de Cuba congratula-se?!! Claro! E nós, dizemos o quê? Nada! Que temos a ver com isso.

Cá no burgo, as Presidenciais despontam-se, com mais ou menos artimanha. David Hopffer Almada prossegue a sua chantagem emocional: "reafirmo a minha disponibilidade ao cargo de Presidente da República, mas somente na condição de ser apoiado pelo partido; candidatura independente, não!" Entretanto José Maria Neves, presidente do PAICV, mostra-se "indisposto" com a candidatura de Aristides Lima. Isto quer dizer o quê? Que então o seu candidato é Hopffer? Este homem que virou às costas ao partido, na sua pior fase, que candidatou à Presidência em 2001 como independente, sendo miseralvelmente derrotado, que regressa ao partido, na sua mó de cima e agora "exige" apoio do partido?!

É claro que estes três caso não tem absolutamente nada a ver, para que fique claro, excepto o facto de, em política, nacional ou internacional, temos de criticar em massa, afim de garantir a moralidade da Política, que neste séc.XXI está em profunda crise, em alinhamento com a preocupante crise económica internacional, que ainda está só na fase dos espirros. Que temos nós a ver com isso tudo? Tudo!

17.2.09

Amor em tempo de velhos

Quem leu o livro, odeiou o filme; que não leu, amou. O facto é que é um filme, tecnicamente, lindo e Javier Bardem é um dos maiores actores da actualidade. O meu momento: o amor na velhice. Despertou-me o tema: a velhice.

Quem são os nossos velhos? Como são? Como vivem? O que fazem? Namoram? Dão-se uma segunda, terceira ou quarta chance? Vão a ginásios? Saem em cruzeiros? Vãos aos restaurantes e cinemas? Há algum visitante do Bianda que trabalhe com esta população e que tenha algo a dizer?

E nós, jovens hoje? Como estamos a envelhecer? Estaremos a projectar a nossa vida para daqui a 40, 50 anos? Como vai ser a estrutura da população neste horizonte temporal? Que vamos representar para a economia e para a sociedade? A reforma será decente? A Previdência Social vai se aguentar? O facto de aumentar muito as doenças coronárias, os cancros, as diabetes e outras doenças de sedentarismo, não será um muito mau presságio, para um população que se diz a toda hora, jovem? E como vamos de saúde mental? Somos sãos?

16.2.09

Indiferença

"O naufrágio da embarcação de imigrantes clandestinos, ontem à noite, perto de Arrecife, na ilha de Lanzarote, arquipélago das Canárias, fez 19 mortos e três desaparecidos, disse à AFP uma porta-voz da sociedade nacional de operações de salvamento no mar. " In Público, 16-02-2009

Até quando o mundo vai ignorar este drama humano do séc.XXI? Alguém já tinha perguntado: as Nações Unidas faliram?

Enfim, o mundo e as suas contradições.

Ressaca

Revista Beast
Já faz sentido falar em classe média em CV, não? Pelas minhas definições é um franja da população, normalmente assalariada, que consome determinados artigos, tipo apartamento, carro, toda a gama de dispositivos electrónicos, viagens, artigos esses muitas vezes financiadas a crédito bancário. Em outros países, essa classe tem um consumo também considerável de bens culturais: filmes, livros, música, arte "falsa" (serigrafias, posters, etc). Parece que é neste ponto dos bens culturais que a nossa classe média se distingue...pela negativa.

Encerrou o Berlinale, festival de cinema de Berlim. Sigo cada passo por Internet: os nomeados, os vencedores. Este ano venceu um filme do terceiro-mundo. Penso em nós, nesta angustiante ausência do cinema, em que nos dias que correm, país que não tem cinema, a fazer ou a ver, é como estar de fora do diálogo cultural mundial. O cinema é a maior forma de expressão político-cultural da contemporaniedade. É claro, a desculpa começa imediatamente pelo dinheiro, mas sendo assim, também não se justifica trazer Mantorras, Eusébios e Cias e mais uma série de "prioridades". Questão de visão e nível cultural, neste caso não da população em geral, mas sim da classe média, que é o mercado, de produção e consumo, para esse tipo de realização. Lembremos também que classe média coincide com classe (dirigente) política.

Por falar em políticos, Nuías Silva elegeu-se presidente do JPAI. Salta-me a questão das Jotas, que não se libertam do modelo da JAC-CV, eternas dependências do partido "adulto". Não tem personalidade, não têm acções, não contestam. São úteis em tempos de campanhas e são pequenos tranpolins. No caso de Nuías, pergunto-me: qual das duas organizações vai sofrer de falta de disponibilidade de tempo e energia: a Caso do Cidadão, ou a causa que acabou de abraçar? Ou não será bem uma causa?

Passou também o angustiante Dia dos Namorados. É como o angustiante Natal. Para além da irritante falta de gosto decorativo, esta mania actual de nos distinguirmos por determinados consumos. Afinal, a questão não é falta de dinheiro; é de prioridade mesmo.

13.2.09

Sexta-feira!!

Imagem:Jens Walter Ulrich

Hoje na estrada, vinha um Volkswagen Toureg V8 e um BMW X6 à frente de mim e dois Toyotas Land Cruiser V8 atrás, um dos quais do Estado. O que está errado nesta cena? O meu carro que não é desses? A terrível ostentação em terra de pobreza? A impunidade? Ou o Estado também a entrar na onda? Que algo está errado, está!

Enfim, passei por Quebra-Canela, a ser invadido aos poucos pelo asfalto e betão. O mar está lindo de morrer. O centro comercial de Quebra-Canela continua a crescer, literalmente dentro do mar e eu só quero ver o tráfego automóvel e a lixarada que vai gerar ao entrar em funcionamento. Já ameçaram avançar com mais mega-projecto para a zona, inclusive as terras estão todas compradas.

O Ministro do Ambiente faz-se de morto, até que a onda passe. Ou talvez saiba que a contestação de alguns blogs e ambietalistazinhos não tenha eco nenhum e prossegue, na filosofia da vaca. Enquanto isso o seu confrade da Cultura fala que se farta e produz as mais curiosas teorias, que lembram George Bush. Vai uma sapatada?!

Hoje é dia de happy-hours, de paródias, de nenhum cinema, de nenhum teatro, talvez alugue um novo filme pirata e fique em casa, resistindo a ir aos mesmos lugares, entornar cervejas e acordar no dia de amanhã arrependido. Mas se ficar em em casa, como vejo as pessoas desta cidade?

Adoro uma sexta!

12.2.09

Filmes da minha vida

Procurem este filme!..Façam o que tenham que fazer: peçam aos vossos familiares no estrangeiro que vos mande; vão a todos os video-clubes da vossa cidade; procurem uma cópia pirata na Internet; peçam aos amigos;...façam qualquer coisa, mas não deixem de ver este filme. Não vou dar nenhuma dica, por mais que esteja doido por fazê-lo, para não estragar o efeito surpresa. Merecido cada prémio que já ganhou. E vai a caminho do Óscar. Um dos maiores filmes que já vi nos últimos 2 anos.

Às vossas marcas, Excelências


Cheira a poder!

Existe coisa mais tonificante, vitamínico e motivador que poder? Caso contrário não seria fonte de várias estórias, mais sórdidas, menos sórdidas, mais intencionais, menos intencionais, mais patrióticas ou nem por isso. Talvez por currículo, tão somente, que faz bem à carreira e aos negócios. Os ideiais é que estão cada vez mais difíceis de encontrar nesta história de poder.

Os candidatos presidenciais posicionam-se. David Hopffer Almada dá o toque, com uma tirada chantagista ao partido: sou candidato se o partido me apoiar, mas aviso, não sou candidato de nenhum partido, sou de todos(!?). A isso eu chamo de posicionamento estratégico indefinido de motivações estranhas e objectivos inconfessos. Silvino da Luz achou piada à onda de se canditatar e não é que se candidatou mesmo! Pelo menos já sei que o homem consegue sorrir; ou será um implante cirúrgico? Carlos Veiga fica numa onda de: "gente, se insistirem muito eu me candidato, mas só porque insistem, tá?!". E finalmente uma candidatura com elevação, feita sem chorinhos e dúvidas existenciais, a de Aristides Lima, embora se conteste os seus apoiantes, apoiando-o explicitamente. É o meu favorito até então. E como gostaria de ver Jorge Carlos Fonseca disposto a correr! Ficaria com dois candidatos favoritos.

Estou de camarote para assistir a divina comédia humana desportiva de alta competição. Fair play, ok?!

11.2.09

Raiz do mal

Massimiliano Boschini

Ontem via nas notícias deputados que denunciavam a situação sócio-económica alarmante que vive S.Vicente. Grande novidade, pois! Diziam também que há mais de quatro anos que S.Vicente aguarda os grandes projectos turístico-imobiliários. S.Vicente tem uma taxa de desemprego na ordem dos 27%. A indústria (?) está esgotada. O comércio desmantelou-se.

S.Vicente, a terra do meu umbigo, mexe com o meu sistema. Quando saí de S.Vicente ainda havia sinais de que outrora foi uma ilha importante. Depois vim a saber pelos livros de história (que não se ensina na escola) que realmente S.Vicente teve um breve e esplenderoso período de prosperidade, à volta da navegação marinha transatlântica e da stockagem e comercialição do carvão. Mindelo foi a primeira cidade moderna de Cabo Verde. A vida social era interessante: só lembrar que o golfe, o ténis, o cricket, os grémios, os bailes, o cinema, o teatro, a música, a literatura, etc., faziam parte da vida social do Mindelo. Foi este S.Vicente que se projectou em todo o Cabo Verde como imagem de superioridade e que nos legou a espírito cosmopolita. Mas, entretanto, a pobreza sempre este ali. Entretanto os proveitos económicos da época alta nunca foram aplicados para diversificar a economia e acompanhar a evolução dos mercados e da tecnologia. O que foi uma asfixia lenta no tempo colonialista, foi uma morte e enterro no tempo da "economia centralizada".

Afinal em S.Vicente, apesar das chorudas receitas desse tempo, não houve desenvolvimento económico. Apesar do cosmopolitismo e da sofisticação de uma (pequena) sociedade, não houve desenvolvimento social. Hoje, temos uma ilha a chorar por uma novo milagre vindo de fora. Uma ilha, com história, com cabeças pensantes, num mundo de oportunidades, a chorar por socorro.

E para o resto do país, quando acabarmos de vender tudo e privatizar tudo, vamos viver do quê?

10.2.09

Filmes da minha vida

Já percebi porque este filme não foi nomeado para os Óscares: os americanos não gostam de ser confrontados com as suas histórias sórdidas. Ninguém gosta, diga-se de passagem. E porque também os Óscares não premiam literalmente a arte, infelizmente, este filme não passou. Ou talvez esteja a ser preconceituoso e precipitado, porque ainda não vi os nomeados todos. Mas, se os nomeados forem todos superiores a esta obra-prima, então estamos perante uma safra sem precedentes na história de Hollywood.

Argumento (história verídica) de tirar lágrimas a qualquer durão. Realização paciente de Clint Eastwood. Actuações convincente de Angelina Jolie, de arrasar de John Malkovitch e outros. Direcção de arte impecável. Fotografia a cair para o cinema noir. Enfim…uma obra!

Não concorreu aos Óscares mas ainda vai a tempo de Palmas, Globos, Ursos e tantos outros prémios.

Filmes da minha vida

Já percebi porque este filme não foi nomeado para os Óscares: os americanos não gostam de ser confrontados com as suas histórias sórdidas. Ninguém gosta, diga-se de passagem. E porque também os Óscares não premiam literalmente a arte, infelizmente, este filme não passou. Ou talvez esteja a ser preconceituoso e precipitado, porque ainda não vi os nomeados todos. Mas, se os nomeados forem todos superiores a esta obra-prima, então estamos perante uma safra sem precedentes na história de Hollywood.

Argumento (história verídica) de tirar lágrimas a qualquer durão. Realização paciente de Clint Eastwood. Actuações convincente de Angelina Jolie, de arrasar de John Malkovitch e outros. Produção impressionante: o filme se passa nos anos 20/30. Fotografia a cair para o cinema noir. Enfim…uma obra!

Ensaio sobre a cegueira

Este filme é muita areia para o camião de Fernando Meirelles. A mensagem subtil de Saramago, a cegueira humana, não enquanto deficiência física, mas enquanto deficiência moral, foi retratada num filme-espectáculo, facto que me pôs com reservas a gostar dele. Questão de gosto pessoal: esperava um script mais costurado e uma realização mais subtil. Mas...questão de gosto pessoal.

Ética da Decisão

Imagem: Multifafe Inc.

Cabo Verde assina e ratifica a Convenção da Biodiversidade, documento saído da super importante Cimeira da Terra, Rio de Janeiro, Brasil, 1992, versando o tema do Desenvolvimento Sustentável. É assim, finalmente países de todo o mundo concordam que o Desenvolvimento Económico tem que se ladear do Social e do Ambiental, senão a termo falhará. Isso é muito mais verdade em caso de países pobres.

Decorrente disso e como bons meninos do mundo que somos, criamos em 2003 a "Rede Nacional das Áreas Protegidas", depois de um aturado estudo realizado por uma equipa multidisciplinar (biólogos, geólogos, sociólogos, economistas, etc), com a cooperação essencialmente das Canárias. Ora, "Áreas Protegidas" vão desde de "Paisagem Protegida" até "Reserva Natural", dependente do seu grau de biodiversidade, ou riqueza cultural, e da sua necessidade de protecção. Ainda dentro das Reservas, existem as Integrais, Parciais e Temporais. Murdeira foi classificada como "Reserva Natural"; nem Integral, nem Parcial, nem Temporal; só Reserva e aqui começa uma pequena confusão de linguagem.

A lei da Protecção Ambiental de 2003 era forte e concisa. Sobrepunha-se a outros instrumentos, como as ZDTI (Zona de Desenvolvimento Turístico Integrado) e as ZRPT (Zona de Reserva e Protecção Turística), elaboradas pela Promex/Cabo Verde Investimentos, como quem diz Ministério da Economia. Ou seja, temos aqui uma clara "interferência" do Ambiente no negócios turísticos. Então, com o (demasiado) poder que a Constituição dá ao Governo, este em 2006 (decreto-lei 44/2006), ALTERA a lei de 2003, transferindo a competência de decisão de novo para o Ministério da Economia, em caso de sobreposição de Área Protegida e ZDTI/ZRPT. Engraçado não!

Esta famosa alteração da lei 3/2003, que terá causado o maior rebuliço pelos lados do Min.Ambiente, mas rebuliço esse inútil, já que desprovido de argumentos e luta apropriados, é um caso de se perguntar da ética de determinadas decisões. Sabendo que em termos de política ambiental somos ainda um desastre, a alteração desta lei soa a falta de consideração ao trabalho técnico de todos os especialistas e países envolvidos; soa a distorção do conceito de Desenvolvimento Sustentável; soa a desvio dos objectivos da Convenção da Biodiversidade. Sabendo que a actividade económica é n vezes mais garantida e promovida que a protecção ambiental e ao estudo sociológico, esta alteração soa a liberalismo primário.

Nos questionemos!

9.2.09

Blog joint: Sobre o Turismo


Turismo sim, claro!


Só queria que, para cada resort, hotel ou condomínio de luxo, se projectasse uma zona residencial decente para as populações locais; que os construtores cumprissem a lei e tivesse como alojar os milhares de trabalhadores das obras; que se construíssem também hotéis e residenciais económicos, para os turistas que não tem muito dinheiro, como nós de cá.

Só queria poder continuar a viajar para qualquer ilha, falar em minha língua, pagar com a minha moeda, ser recebido em qualquer estabelecimento, poder lá estar, poder pagá-lo e sentir-me em casa.

Só queria que indústrias locais fossem estimuladas a nascer e desenvolver, ou a organizarem-se os que já existem. Queria poder dizer que ao menos os ovos, os frescos, o peixe e os mariscos são de produção local. Queria poder dizer que a maioria dos profissionais qualificados a prestar serviço nessas unidades, sejam eles arquitectos, engenheiros, decoradores, economistas, contabilistas, etc., fossem na sua maioria nacionais.

Só queria que, para cada voo charter carregado de velhas que vem comprar sexo, um outro voo partisse para assistir um grande momento cultural, do género carnaval, um festival de música ou teatro, ou assistir uma manifestação de tabanka.

Só queria que, em vez de jovens prostitutas e drogados, aparecessem jovens com vontade investir, tivessem corredores para o fazer e mercado para actuar, ajudados por um programa qualquer de empreendedorismo.

Só queria um Turismo respeitoso do ambiente natural e cultural, que soubesse combinar a necessidade económica, com a transparência absoluta das oportunidades de negócio, que se fizessem constantemente estudos sociológicos e ambientais, a fim de irmos, aos poucos, determinando exactamente o tipo de turismo que nos serve, em quantidade e qualidade.

Por enquanto não posso pensar em tirar umas férias na ilha do Sal; envergonho-me do que acontece na Boavista; desiludo-me dos jogos escuros de interesses; sofro com a delapidação da natureza e com a Cultura a ser tratada de "Entretenimento Cultural".

Sigam este tema em


Manifesto Bianda

Taken from Beast magazine

Tenho um blog porque, como já disse um filósofo, só sabemos o que podemos descrever; o acto da linguagem, seja ela escrita, imagética, sonora, ou de outro tipo qualquer é uma tentativa de compreensão da vida, enquanto ser, estar, fazer. Faço este exercício essencilamente para aprender. O meu blog não é: nem um confessionário; nem um purgatório; nem um cagatório; nem uma tese; nem uma teoria; nem sequer é verdade. É um exercício do eu e permite um exercício dos outros, pela sua interactividade. Mas, é nesta parte da interactividade que surgem os problemas. Porque as pessoas, os meus visitantes, ainda não entenderam que as regras da convivência social também se aplicam à Internet, sob pena de desvirtuarmos a comunicação. É nesta ordem de ideia que resolvi tornar mais apertado a moderação dos comentários neste blog.

Os comentários na verdade põe-nos numa posição de questionamento: ninguém pode ter a certeza de que digo a verdade quando digo que publico todos os comentários. Não há como verificar. Esta decisão é estritamente pessoal e é a razão maior de um blog só ter um valor individualista. O único decisor e juiz nesta causa sou eu. E decidi, para tranquilidade da minha consciência: comentários da treta não passam mais. Incluidos nesta categoria: insultos e considerações pessoais. E há já casos (Al Binda) que já vão directamente ao lixo, sem que sequer tome conhecimento. E com que critérios? Só eu posso decidir.

6.2.09

Silêncios escuros

Porquê nos calamos? Que fantasma é esse que nos faz temer dizer as coisas abertas aos quatro ventos. Do que descobri de Murdeira é só silêncio. É só coisas ditas de forma incompleta, como se intenções malignas estivessem a guiar as nossas condutas. Porquê este clima de insinuações? Porquê vem um jornalista, um profissional da informação, neste espaço pedir o anonimato. Quem nos persegue? Eles ou nós próprios? Quem é por nós e quem é contra?

No caso da Murdeira o silêncio do Ministro do Ambiente é particularmente desconfortante. Ele está a ser interpelado e não fala. Ou está à espera de ser convidado formalmente a depor?! Não, Sr.Ministro, os blogues são vozes que interpelam. Peço que venha a público e nos tranquilize. O seu silêncio é até uma muito má estratégia para o seu marketing político, porque permite a formação de ninhos para especulações. Por que te callas Excelência?

5.2.09

Moderação

Sobre o caso da Murdeira, porque fui investido a falar disso, quanto mais consulto sensibilidades diferentes e profissionais diferentes, fico mais com a sensação que o que nos falta é muita informação. Falta-nos problematizar as coisas. Falta-nos problematizar a intervenção no Ambiente, mas falta-nos também problematizar a viabilidade da protecção do Ambiente, que se debate com a mesma ordem de dificuldades que se debate a Cultura: financiamento. Ou seja, protecção do ambiente é caro, somos pobres, precisamos captar recursos, mas essa captação tem que permitir a transformação do Ambiente sem a aniquilar, pois claro.

Ainda falta muito para se ter uma visão clara da problemática. Por isso o Biandicator aqui ao lado mudou de crítico para moderado.

Filmes da minha vida

Poderia dizer "actores da minha vida", mas tão a ver a dificuldade que um macho crioulo tem a dizer essas coisas, não é? Pois, machos crioulos são tão macho que iriam suportar mal ver um homem, Ben Kingsley, 65 anos, a beijar outro homem, Dennis Hopper, 72 anos, na...boca!

Este é um dos filmes que nos deixam dias a pensar. Um belíssimo drama de amor entre um professor (Ben) mais velho 30 anos que a sua aluna (Penelope Cruz). Mas é também uma história de amor fraterno entre dois grandes amigos (Ben e Dennis). Definitivamente já não se escrevem história de amor com happy-ends e vidas perfeitas. Uma história real, com linguagem real, de vidas imperfeitas, pessoas imperfeitas, como nós.

Mas essencialmente este filme é a prova que o cinema ainda, como o teatro, é uma arte humana, que depende essencialmente da performance dos actores. Os actores preenchem cada milímetro deste filme, muito especialmente Ben Kingsley. Estou completamente rendido ao seu talento. Por coincidência nos últimos dias vi 3 filmes dele e 3 registos de actor completamente diferentes e todos incríveis. Um mafioso falhado em "You kill me"; um terrível traficante em "Trasnsiberian"; e este potente "Elegy". Ele é capaz de fazer de Moisés em "Moisés", Ghandi em "Ghandi", um pacato pakistanês em "Uma casa na penunbra", um judeu perseguido em "Lista de Schindler", ou seja o que for.

E a eterna questão do cinema em CV. Enquanto isso valem-nos os ilegalíssimos video-clubes.

4.2.09

Blog joint: Welcome

Ao Tide, do blog http://pedrabika.blogspot.com que se juntou à iniciativa. Para que saibam, ele foi um dos primeiros a fazer uma proposta do género blog joint. Na altura estávamos todos greens nessa de blogs.

Notas políticas

Imagem: Franco Rancoroni

MPD se põe em pole position. Meta: liderança do partido, ou seja, poder em 2001.

Jorge Santos é o grande contestado e com razão. O homem tem uma história e uma actuação política que não deve servir de exemplo aos iniciantes, embora muitas das figuras proeminentes do actual MPD igualmente tenham passado por um momento de vacilo. Mas o que importa é que não consigo ver um líder em Jorge Santos e pelos vistos muitos dos seus correligionários também não.

Fernando Elísio Freire, que muitos estão a indicar como indicado, já negou ter tal ambição. Pois, é preciso medir a ambição, tendo consciência de si. Além do mais, quero acreditar que o MPD tem outras alternativas de mais peso.

José Luís Livramento se posicionou e acho que é um bom candidato, mas não abona a si o facto de ter voltado as costas ao partido em dado momento, de se ter frontalizado a Carlos Veiga na altura, de maneira não muito elegante e de agora voltar à casa de partido, todo sorrisos e a passar uma mãozinha nas costas do mesmo Carlos Veiga, atitude esta que já é um padrão ventoínha.

Ulisses Correia e Silva é apontado por muitos como a melhor opção de momento. Subscrevo. Mas aqui há uma jogo de dilemas: ganhou as autárquicas no maior burgo do país, a vantagem não era estrondosa e as nacionais são um jogo diferente: ele não goza de tanta popularidade assim, não consegue ser um tipo simpático e se renunciasse à CMP poderia voltar contra si uma parte dos apoios que teve.

Entretanto os pesos pesado do partido, Jorge Carlos Fonseca, Carlos Veiga, José Filomeno, Olavo Correia, José Tomás Veiga e outros cabeçudos, continuam na penumbra a ver onde o sol vai nascer.

Humberto Cardoso é um outsider jogando por dentro. O homem mexe-se de forma esquiva, mas vai se adivinhando a direção que quer tomar. A cartada da Constituição não será inocente. Tem despontado a cabecinha e já levou um cascudo, a ver se alinha. De qualquer modo, espero que ele não tenha a mais modesta ideia de que pode liderar o partido. Ele é um antítese de líder.

Regra geral o MPD é um partido em crise de identidade. A sua instabilidade não inspira alternativa em 2011, pelos menos por agora. Do outro lado tem um PAICV, demasiadamente radicalizada na figura de JMN, com alguns safanões internos, mas que goza de uma grande mobilização em torno do partido, que muitos interpretam como fanatismo. Eu 2011, já adivinho, terei no menu: de um lado, um partido vacilante e remendado, mas absolutamente essencial à alternância política; do outro lado, um partido que, a ganhar um 3º mandato prenuncia tempos políticos perigosamente monocromáticos.

A Política é a massa e o pavio do mundo.

Diálogo fechado

Imagem: Jens Walter Ulrich

Eles, os velhos, dizem: eles são jovens, inconsequentes, não sabem o que dizem, o que fazem, nem podem imaginar o que foi transpirar para conseguir um lugar ao sol. Eles não podem conceber o que seja a falta de liberdade, berram e querem ter razão, mesmo que os seus modos não abonem ao seu favor.

Eles, os jovens, dizem: eles são velhos e caducos, ultrapassados pela velocidade e vigor dos tempos, incapazes de se adaptar às novas maneiras de estar e de pensar. A eles foi roubado a liberdade, lutaram e libertaram-se das prisões, mas tiveram a sua capacidade de criticar destruída para sempre. Eles dão lições de moral, mesmo que as suas vidas não inspirem nenhuma moral.

Eles, o velhos, dizem: eles não têm desígnios e vivem os dias e as noites como se não existisse o dia de amanhã. Eles tem uma vida desprovida de objectivos.

Eles, os jovens, dizem: eles abandonaram os seus ideiais e agora constroem as suas pequenas vidas, à volta de pequenos impérios, não importando se as suas acções são nocivas ou não. Eles tem uma vida desprovida de princípios.

No meio dos dois existe uma vácuo, que podia ser preenchido com a vivência de uns e o vigor de outros; com os aprendizados de outrora e as novas maneiras de hoje; com a emoção de outros tempos e a ciência da modernidade; com a multiplicação das inteligências, independentemente das idades.

3.2.09

Pequenos estúpidos

Imagem: Adrian Johnson

A dicotomia entre a nossa dimensão imaginária e a nossa dimensão real aumenta a cada dia, a cada vez que vem um organismo internacional dizer: "hei, vocês são o máximo". E continuamos a achar que temos um grande país, enquanto que, o que temos é: um lindo, maravilhoso, fofo, mas minúsculo país.

Aqui, todas as escalas de medição das actividades humanas são distorcidas por pequenez de universo. A economia é maioritariamente condicionada por factores externos; a economia informal tem um peso brutal; todos os factores de produção são precários e todos os meios são escassos. A sociedade é vulnerável a migrações, influências externas, falta de crítica interna, modificando-se indefinidamente, como modifica a economia. Mas existem sistemas ainda mais frágeis, tais como a Cultura e a Natureza. A falta de uma identidade e vida culturais fortes torna a Cultura vítima dos tempos e das modas. A falta de uma política ambiental determinada e concisa, pode levar a que, o que é um recurso hoje, amanhã não o seja, porque, simplesmente, desaparece.

O que representa um sopro em outras partes aqui é ventania. As ilhas, nas dimensões que temos, são pequenos corais em face à escala da actividade económica mundial, na sua voracidade e capacidade de transformação. Aqui, a dimensão impõe-nos a questão: qual é tamanho suportável das actividades que queremos implementar.

(im)Pertinente

Quem disse que Al Binda é impertinente? Pois, está provado, todo o ser humano, por mais que coloque as coisas de uma forma que nos pareça estranho, tem sempre uma coisa boa para apresentar. Aqui vai uma muito útil contribuição de Al Binda:

"Aqui tens César as normas juridicas que têm a ver com a tematica do ambiente. E'um gesto de um liberal que sabe ir à procura de documentos coisa que muitos dos teus amigos nao souberam fazer, limitando-se a dizer balelas em vez de participarem como deve ser no debate... e também para chatear o teu amigo Carlitos!

Ei-los:

LEI N°86/IV/93 (ir ler..)
  • Dec-legislativo n°14/1997 (ir ler..)
  • Dec-lei n°29/2006- Estabelece o regime jurídico da avaliação do impacto ambientaldos projectos públicos ou privados susceptíveis de produzirem efeitos no ambiente.
  • Lei n.º 102/III/90 , de 29 de Dezembro que Estabelece as Bases do património cultural e natural
  • Decreto-Lei n.º 3/2003, de 24 de Fevereiro que estabelece o Regime Jurídico das áreas protegidas
  • Decreto-Lei n.º 40/2003, de 27 de Setembro que Estabelece o regime jurídico da reserva natural de Santa Luzia
  • Decreto-Lei n.º 5/2003, de 31 de Março que define o Sistema nacional de protecção do ar.
  • Decreto n.º 31/ 2003 de 1 de Setembro que Estabelece os requisitos essenciais a considerar na eliminação de resíduos sólidos urbanos, industriais e outros e respectiva fiscalização, tendo em vista a protecção do meio ambiente e a saúde humana
  • Decreto-Lei n.º 6/2003, de 31 de Março que Estabelece o regime jurídico de licenciamento e exploração de pedreiras
  • Decreto-Lei n.º 2/2002, de 21 de Janeiro que Proíbe a extracção e exploração de areias nas dunas, nas Praias e nas águas interiores, na faixa costeira e no mar territorial.
  • Decreto-lei nº 81/2005 de 5 de Dezembro que estabelece o Sistema de Informação Ambiental e o seu Regime Jurídico
  • Decreto-Lei n.º 22/98, de 25 de Maio que aprova as normas mínimas relativas à elaboração e aprovação de projectos de construção, à insonorizarão e às condições de segurança dos estabelecimentos de funcionamento nocturno de diversão.
AL BINDA"

2.2.09

Deslocações

A exposição "Deslocações" (que acontece no CCP-Praia, de 27 Jan a 13 Fev), que tem viajado por Brasil, Moçambique e agora Cabo Verde, apanha-nos como um comboio que vai juntando pessoas ao longo do seu percurso. O tema da exposição centra-se nas migrações, que é o fenómeno que tanto têm mudado as nossas cidades, que tantos males têm causado, desde das vidas humanas que se perdem no mar, à rejeição que tem que sofrer o migrante, mas também com tantas riquezas que produz desde da diversificação de formas, imagens e sons, até ao recriar de culturas novas, inéditas, originais.

Se nós, caboverdianos, não nos pomos a pensar tanto nas migrações é porque somos a própria definição de "migração". Parece ser esta a nossa vocação universal: recombinar pessoas, recebendo-os de toda a parte, cruzando-as e reenviando-as por toda a parte. Participo nesta exposição com parte da colecção "Bianda", que é um trabalho sobre gente crioula, sobre a massa que somos feitos, nós que somos gente em permanente deslocação.

"Deslocações" é uma reflexão sobre nós.

Pobres estúpidos

Revista Beast
Pobreza aliada à estupidez é uma ameaça.

Ouvi um comentário (oral, que ainda existe, eheheheheh): se vale a pena tanta preocupação ambiental numa terra de pobres. Considero que isso é das mais perigosas formulações que podemos fazer. Antes de mais, alguns exemplos de desastres ambientais (sim, temos), que me lembro:


Da minha infância. A baía do Porto Grande, uma das mais belas baías do mundo, é um mar estéril e impróprio ao banho, derivado da intensa actividade do carvão naquela baía, do ínicio a meados do séc.XX. É onde se deitava o lixo também (caizim); era uma latrina pública; era onde se dava banho a cães sarnentos. O fundo marinho é uma camada de crude e lama; invasão de algas; etc.

A "foz" da Praia Negra na cidade da Praia, onde se situam indústrias: Ceris e outras. Poluição ao segundo. No mesmo local desemboca um enorme caudal de sujidade no tempo das chuvas que deixa a baía de Gamboa em estado drámatico.

As construções na Quebra Canela, que são um prenúncio terrível quanto a mim.

A terrível destruição das plantações da Santa Cruz, pela invasão da água do mar, derivado da delapidação da areia das encostas. Perguntem porque 1 banana passou a custar 20$. A destruição de quase todas as praias do litoral de Santiago

As milhares de toneladas de lixo altamente poluente que a cidade da Praia produz, derivado da construção civil. Já agora, como fazem no Sal e Boavista com toda aquela construção. Lixo caseiro, que cresceu exponencialmente, devido aos supermercados e fixação das populações nas cidades.

Sem falar nas espécies em perigo. A "cagarra", que José Melo teve o grande mérito de conseguir a sua protecção; a tartaruga que ainda não está salva. Também já ouvi rumores que andam embarcações por nossas água a pescar sem regras, neste mar do mundo que já vai ficando sem peixes. Em 50 anos o mar reduziu a sua população de peixes violentamente.

Enfim, esta lista é só um exercício de memória. Há outros tantos casos: praias escondidas que são depósitos de ferro-velho; florestas que são depósitos de restos da construção civil; etc.

No caso da Murdeira, pode ser que se venha a construir a marina mais clean de todo o planeta. Pode ser que não exista terríveis perigos, mas só pelo facto de termos uma péssima política ambiental, deixa todos de cabelo em pé a rapidez com que se quer fazer a coisa.

Ainda por cima quando, até os Estados Unidos, acordam para a questão ambiental, nós achamos que não devemos ter essa preocupação?! Ainda se os investimentos fossem para o benefício da população, vá lá. Ou considera-se o proibitivo custo de vida do Sal e as barracas da Boavista como "benefício social"?

Já somos pobres. Temos que também ser estúpidos?