30.11.09

Segunda-Versão

Aguardou que tudo se acalmasse, a televisão, os pratos, os meninos, os carros que passavam na rua, aguardou fingindo dormir, rezando por dentro, a pedir a deus que a perdoasse o pecado ao aceitar aquele pequeno pedaço de papel, que viu de soslaio tratar-se da palavra satânica, mas que não teve forças para esconjurar quem assim a pôs em contacto com o diabo, e em vez disso, como que arrebatada de paixão, guardou o pequeno anúncio, despachou as horas do dia, fez o almoço, deu de jantar à família, lavou a loiça, deitou-se cedo e aguardou que tudo se acalmasse. Enfim só os roncos da casa, pode tirar o papel, fazendo ainda uma pausa para avaliar o impacto junto a deus de uma tal incursão, assegurando-lhe que continuava devota e temente, mas que talvez ele quisesse que ela procurasse alternativas, que talvez ele não se importasse com um certo grau de desvio, assim a sua vida fraca e desesperada a obrigava. Leu.

MESTRE CURANDEIRO, que pode resolver todos os seus problemas seja qual for, tais como: encontrar trabalho, viagem, visto, inveja, pressão alta, quer ter filhos, dor de coluna, homem com problema de tesão, faz mulher voltar para homem que separa e o contrário, cura mulher com problemas vaginais, mulher que não consegue sentir prazer com homem, venda de propriedades, aumentar as vendas nos seus negócios, separação de amantes do seu marido, problemas espirituais e quaisquer outros problemas na sua vida…Resultado em pelo menos em 24h.

As palavras tesão e vagina irromperam-lhe um calor avassalador nas faces, sentiu-se húmida sem controlo do corpo, precipitou-se para o quarto de banho, depressa antes que pudesse estar possuída de loucura, chorou, lavou-se, continuou em cascatas de lágrimas para mais uma boa metade da noite, lamentando a sua sorte, a ausência dos odores do seu homem na sua pele, os odores de outras mulheres que era obrigada a respirar tantas noites seguidas, chorou até de madrugada. Mal pode dormir, levantou-se antes de todos como sempre, fez as preces, o pequeno-almoço, deu de comer a marido e filhos, que partiram para as suas vidas, sem sequer reparar que os seus olhos eram buracos ainda mais cavados.

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