Tem mal escrever como se fala num café ou em casa? O que faz com que a palavra escrita tenha que ser catequética?
É abismal a distância que vai do nosso mundo oral ao escrito. Oralmente, somos faladores, divertidos, sarcásticos, maus, ao passo que quando passamos à escrita somos uma coisa chata, que tem que ser formal, ser sistemática, senão tem classificação menor, não vale. Será por isso sermos paupérrimos de literatura? Pois que, da passagem do oral à escrito, fica-nos o mundo todo pra trás.
Na rua, em casa, no trabalho, na intimidade somos pornográficos a toda a hora, facilmente mandámos à merda, quando não é a mãezinha que entra na conversa sem o mínimo de sacralidade, porra então nem sequer é palavrão. Mas, na escrita somos os pontífices do catolicismo e, sei, as palavrinhas merda e porra já te causaram desconforto, porque é assim, é estranho vermo-nos ao espelho escrito.
Deve ser por isso que, não poucos estrangeiros, tendo primeiro conhecido o nosso país por escrito, pelas nossas belas descrições de morabeza, pelos nossas leis tão avançadas e bonitas, pelo romanceio de histórias suaves e gente castiça, se espantem a sério quando se confrontam com uma grande crueza que somos. E de palavras principalmente.
2 comentários:
O meu convite para lerem a minha opinião sobre estas coisas de escrever: http://sarabudjadeideias.blogspot.com/2009/09/pseudo-pessoas.html
Be my guest.
É um espacinho p'ró sereno, na sua essência, mas de vez em quando resvala p'ró corrosivozinho. (muito muito inho, 'qu'eu sou calminha e pouco dada a dedinhos em riste!)
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