Volta e meia temos que tocar no assunto: arte contemporânea em Cabo Verde; o que é isso? Onde está? Parece paradoxal que a arte contemporânea, que se define como a arte que saiu das academia, e logo dos dogmas e segredos académicos, para se identificar com a vida, com a sociedade, com os problemas mundanos, que seja possível de fazer tanto dentro de uma galeria, como numa praça pública, que pode usar materiais nobres, como pode durar só algumas horas, e no entanto é um conceito perfeitamente confuso, até mesmo entre os estudiosos. Mas o facto é que ela existe e pode ser identificada. Não sabemos bem por que mecanismos, mas quando estamos perante arte contemporânea sabemos reconhecê-la. Tem um traço que a marca de forma indubitável: o desenvolvimento do conceito. Uma performance com um copo de água pode se tornar instantaneamente em arte contemporânea, desde que o artista consiga desenvolver um conceito a partir daí. Já não chega ter “jeito” para alguma forma de expressão; é preciso aprender a desenvolver o conceito na arte e essa é a marca indelével da arte contemporânea.
O conceito na arte, não é obra de um talento extraordinário ou oculto. É produto do ensino, de uma cultura de fazer e refazer a arte, de workshops, de interdisciplinaridade, de trabalho, muito trabalho; de errar e tornar a tentar, mas sobretudo de compreender o conceito por trás, se é sustentável ou não. Não necessariamente explicável, mas definitivamente sustentável. É nesse prisma que se torna difícil falar em arte contemporânea em CV. Num país onde não existe um ambiente de qualidade, de diferenciação positiva, onde o prestígio social pode ser conquistado sem muito trabalho, com base em valores completamente mercantilizados, um país sem quaisquer políticas públicas para o desenvolvimento da arte, onde a classe média-alta compra banalidades e as exibem em casa como “arte”, nunca se pode definir como um país que tem uma arte contemporânea. Podemos até identificar artistas contemporâneos, ou manifestações de arte contemporânea, mas não uma arte contemporânea CV (corpo e diferenciação).
Toda essa dor, porque vi uma incrível obra de vídeodança, com o nome de “Kaspar Konzert” e fico maluco com o estado mental em que certos países já atingiram, permitindo um ambiente de tamanha criatividade, e nós aqui com a mesma conversa de chácha.
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