6.9.10

A política em placas

No meu país o desporto se faz em placas. Na falta de dinheiro para construir polidesportivos e ginásios genuínos, são feitas pequenas áreas cimentadas, a que se dá o nome de “placas desportivas”. Existe de todo o tipo e formato. Podem ter vedação ou não, baliza ou não, tabela de basquetebol ou não, terem as linhas divisórias no chão, ou não. Podem simplesmente se resumir à área cimentada e à declaração de que se tratam de infra-estruturas desportivas.

Concelho ou vila que se digne do nome deve ter placas. Político que se preze deve mandar construir uma. A cada rotação do poder, aparece uma nova placa, acabando assim o país por se dotar de uma infinidade de placas. Existem por todo o sítio. Tanto podem estar no meio de plantações em espaços rurais, como podem se irromper no areal de uma praia, ou estarem no meio do trânsito da cidade. O país e as cidades cresceram, os desafios aumentaram e os políticos seguiram em criatividade as demandas dos novos tempos. Nas cidades surgem placas mais sofisticadas, equipadas com bancos inclinados e barras paralelas, para a prática da musculação. Um político teve a ideia de pintá-las das cores do partido, então veio o adversário, que se apercebeu da importância estratégica das placas desportivas e mandou construir uma, ainda mais sofisticada, com equipamentos de ginásio de verdade, bancos almofadados e um piso fantástico, de uma cor ostensivamente verde, que tanto pode significar a esperança, imitação de relvado ou literalmente a cor do partido.

Ninguém ousa dizer que não existem políticas públicas para o desporto, que vem imediatamente um dirigente político a contar as placas construídas. E pela evolução do fenómeno é de se esperar que no futuro venham ter recepcionistas, treinadores, médicos, chuveiro e sauna. E isso tudo ao ar livre.

4 comentários:

Anónimo disse...

HAHAHHAHAHAHA!!!


Assim se ganha as eleições nas Cidades de Cabo Verde.....

Belo texto. È "tudo" o que os jovens pedem aos Presidentes das Câmaras Municipais.Não esqueças de escrever sobre as "malditas" antenas parabólicas.
O povo caboverdiano consola com muito pouco e é muito pouco exigente.


Sofia

Anónimo disse...

Ó Cesar não te vi nas manifestações dos trabalhadores da CVtelecom.

De que lado estas.

Não me digas que és daqueles que os grevistas prometeram ovo podre?

Anónimo disse...

Nha broda, anton e ka na Kabu Verdi ki nu sta?!...

Bon artigu!

Mantenhas li di Merka.

Anónimo disse...

Oi, César. Estás "placado" desde 06 de Setembro. Não escreveste mais nada. O Bianda descansa nos fins de semana?...