Nicolas Quint (línguista, doutorado, investigador, 13 livros publicados, entre os quais Gramática da Língua Caboverdiana): Esta última seria a minha posição. Compreendo perfeitamente este receio porque o português é a língua materna ou veicular de mais de 200 milhões de pessoas no mundo e o crioulo tem um número reduzido de falantes, por volta de 1 milhão de falantes, incluindo a diáspora. É evidente que há muitas vantagens sociais que levam as pessoas a querer aprender e falar o português. Aliás, creio que ninguém em Cabo Verde está a pensar em substituir o ensino do português pelo ensino do crioulo. Mas é preciso ter cuidado. Se se ensinar apenas o português corre-se o risco de ver o crioulo desaparecer. Pode não ser daqui a 100 ou 200 anos, mas um dia vai acontecer. Uma língua que não se ensina de todas as formas está condenada no mundo de hoje. Os cabo-verdianos devem aproveitar as duas línguas que fazem parte do seu património cultural. Acho que não há nenhum impedimento de se optar a aprendizagem paralela das duas línguas. Um ensino bem construído e bem programado do crioulo ajudaria a tornar as crianças e o resto da população conscientes de que estão a lidar com duas línguas diferentes e provavelmente ajudaria muita gente a falar melhor o português pois teriam uma base sólida para depois se abrirem para outras línguas.
Fonte: A Semana online
Pergunta: o que nos assusta tanto ao tratar da Língua Caboverdiana?
5 comentários:
Cesar, a resposta está nesse post. Quando se diz que tudo isso implica "Um ensino bem construído e bem programado do crioulo". Estamos a anos-luz dessa possibilidade.
Aqui nos States nunca o ensino do criolo teve sucesso. Por isso quealgumas escolas que ensinavam os alunos em bilingue acabaram com o programa.
Aponta um unico caso de sucesso do ensino do criolo nos states. Apenas um. Sabe perfeitamente que nao existe. A tua justificacao para o ensino de criolo, como forma de ultrapassar uma complexidade imaginaria, é assustador. Quero ver onde vao aranjar a varinha magica para conciliar varios variantes, e a capacidade de cada um evoluir sem a imposicao ou supremacia de outro. Para que a oficializacao seja viavel, muita coisa vai ser filtrada, e possivelmente descaracterizar algumas variantes a favor de outro. O criolo com regras fixas vai tornar-se chato, e de chatice ja basta o Portugues.
Cesar, um aparte.. em Portugal não existem "variantes" de português. Existem pronúncias. É muito diferente. E não quero passar a ideia, de forma nenhuma, que estou contra qualquer avanço de ensino do crioulo (oficial já é há muito tempo). Para que conste, digo-o mais uma vez: penso em crioulo, sonho em crioulo e falo com as minhas duas filhas em crioulo. Abr.
Caro João,
Não gostava de “arranjar sarnas para me coçar” mas... Já agora, mais um aparte… todos sabemos que Portugal Continental tem variantes dialectais… que não é mesma coisa que “pronúncias”, que também existem.
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