29.12.08

O(s) erro(s) de JMN II

Chega de brincar aos "amigos da Cultura". Qualquer sociedade que se preze tem um política cultural séria, assim como tem políticas fiscal, orçamental, de educação, de saúde, etc. A questão é: quais as consequências de não ter uma política cultural? Ou, ainda mais básico: o que é uma política cultural?

Vejamos, a palavra "política" é aplicada aqui no sentido de ter visão, estratégia, acção e avaliação de uma actividade/assunto de interesse público. Isto quer dizer que, para a Cultura, significa saber o que queremos dos nossos valores culturais: língua, semiótica, património arquitectónico, história, simbologias, arte, artesanato, museologia, investigação. Que me desculpe o Primeiro-Ministro, "contar com os artistas" é uma visão terrivelmente redutora da Cultura. Aliás, Arte muitas vezes está até em contradição com a Cultura, porque a contesta e a "vandaliza". E é bom que assim seja, porque Cultura é status quo e Arte é insatisfação do status quo. É também evolução da Cultura, ao forçar os seus limites. A relação é inversa: são os artistas é que precisam deseperadamente de uma política cultural (educação, investigação, produção,...) para que se desenvolvam e para que funcionem de verdade como esta força catalizadora da Cultura. Por enquanto somos uns artesãos pacóvios, até mesmo na música, que gostamos de apontar como "força cultural".

É verdade que os artistas, por desespero de causa, tem actuado como "especialistas" da Cultura, mas está muito errado. Para uma política cultural séria, ao nível do Estado, outros actores entram em cena: historiadores, linguístas, antropólogos, sociólogos, filósofos, investigadores de uma maneira geral. Os artistas, bem como todos os agentes culturais, terão obviamente uma palavra a dizer, mas os dossier são complexos e especializados, de maneira que precisam de uma acção complexa e especializada. Por isso é que preciso uma política, ou políticas: para a Língua; para o Património; para a Educação da Arte; para a Investigação Cultural; (principalemnte a História) para os Equipamentos Culturais (teatros, cinemas, salas de música, galerias, museus, etc); para o financiamento da Cultura (sem essa de economia da Cultura).

Sr. Premier, mais uma vez, se não se assessorar como deve ser nessas questões, o Sr vai se meter numa grande alhada, porque é neste sector, Cultura, onde se concentram grandes inteligências de um país, o que parece ridiculamente paradoxal. Ou seja, os "homens da Cultura" estão se fazendo de moscas mortas, mas experimente entrar por essas ondas de "homenagens" à Cultura e vai ver como afinal eles tem dentes. O que pode acontecer é que não os mostrem abertamente, porque já provaram os covardes que são, mas arranjarão maneiras esquivas e mesquinhas de o fazer. Neste sentido sou um dos seus maiores amigos.

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