30.12.08

O(s) erro(s) de JMN III

O erro da falta de política para a Língua não é só de JMN. É de toda a nação, desde a independência até esta data. Sabemos, a questão é sociológica: o português foi e continuou a ser a língua da autoridade, da educação, da intelectualidade, da elegância do expressar, da distinção, ou, numa só palavra, a língua da dominação.

Sabemos também que, a Língua é o elemento de base de qualquer Cultura. Ou seja, sabemos que estamos perante uma Cultura distinta, quando esta apresentar uma Língua completa. Existe uma Cultura CV porque temos uma língua CV, que é radicalmente diferente da língua PT na sua estrutura, embora partilhem muito etimologia. Assim ficamos com um problema que nos atrasa, culturalmente: sentimos em CV e sistematizamos em PT; algo fica pelo caminho, de certeza. Vejamos: os cabovedianos tem uma oralidade muito desenvolvida; somos os maiores da anedota, das estórias, dos contos. Constatamos muitas vezes que, se o caboverdiano escrevesse tudo o que pensasse, teríamos a maior das literaturas. Mas isto é sério! Realmente temos uma literatura débil, porque, penso eu, quando passamos da oralidade para a escrita, temos de empreender um grande esforço de tradução para uma outra língua, que não dominamos propriamente, resultando numa literatura "engessada".

A questão é da maior gravidade quando se trata da educação das crianças. Quem disse que os meninos do interior de S.Antão, S.Nicolau ou Santiago, estão aptos para iniciar a sua educação formal em português?

Os problemas já conhecemos todos. O que fazemos é que é a questão. Ou seja, que política para a Língua? Que acções? Que atitudes?

Uma primeira atitude é deixar de prestar homenagens em ocasiões pontuais e passar a assumir o Caboverdiano nas reuniões ministeriais, nos gabinetes, nos tribunais, na televisão e em qualquer esfera social importante. Que tal um curso de Língua Caboverdiana para diplomatas? Que tal escutar o que se passa na Internet, na forma como os adolescentes estão a resolver a língua? Que tal ver como se escreve o CV num telemóvel? Que tal reunir os utilizadores profissionais da Língua (escritores, radialistas, publicitários, compositores, músicos) e ouvir o que eles tem a dizer?

Que tal se passasse a escrever em Cabovediano neste blog? Pois, aqui entra a segunda parte da questão: o português. É a língua que escrevemos desde da escola primária, pela vida fora. Pela escrita é mais difícil romper. Considero que abordar a questão pela escrita fica mais difícil. Estando a defender convictamente o CV, escrevo em PT. Aliás, escrevo muito rápido em PT. É um treino, é uma ferramenta que tenho e deverei deitá-la no lixo. Esta é uma das questões que os mesquinhos costumam agarrar para confindir o debate, mas eu não abro mão do português, não abro mão do caboverdiano, estou a ver se faço um curso de francês, o meu inglês já está a precisar de uma actualização e se pudesse aprendia chinês, que vai ser necessário quanto a China se tornar a 1ª potência do mundo. Separemos a questão de Identidade da questão da Utilidade.

A minha sugestão é que se trabalhe firmemente na questão oral, que se "liberalize" o Caboverdiano socialmente, mas, principalmente, que se ataque a questão de frente. É o dossier mais complicado da Cultura, mas temos de ter coragem para a assumir.

1 comentário:

geracao20j73.blogspot.com disse...

A língua cabo-verdiana, César só não é institucionalizado a nível politico por que existe bloqueios por parte de uma certa elite urbana e que simbolicamente sentem uma luso cabo-verdiano. Estou a falar lusos tropicalistas. É uma questão histórica, na verdade enquanto Nação este é o nosso calcanhar de Aquiles. Subtilmente o colonizador consegui nos dividir, o povoamento das ilhas do barlavento baseou-se nos critérios da divisão de Cabo Verde. Por isto não ponho muita fé na coragem politica dos nossos políticos, acredito que as coisas acontecem assim como tem estado a acontecer socialmente a língua cabo-verdiana vai se impor. É mais fácil o social sobrepor a politica do que o contrario acontecer. Um bom 2009