Ser político e não pertencer a partido nenhum, pode sim senhor!
Após a leitura do colosso de José Vicente Lopes, "Nos bastidores da Independência", penso ter percebido um pouco mais da nossa história política recente. Sempre ouvi falar de maoistas e trotskistas, achando piada aos nomes, que parecem saídos de algum filme de propaganda. Agora percebo melhor a questão, estando mesmo assim longe de a descascar. Isso será matéria para estudiosos da política, daqui a alguns anos, com mais distância dos factos.
No entanto a minha leitura é que, os que eram chamados de "trotskistas" representariam uma elite, de homens fortemente politizados, mas com outras vertentes de formação pessoal, com valias culturais fortes, apreciadores da literatura, do cinema, da música erudita, bem falantes, bem articulados, que terão "complexado" a malta que vinha do mato, que tinha uma práxis política muito mais directa e pragmática. Trotskistas podem ser considerados utópicos, enquanto que os radicais do partido podem ser considerados realpolitik. Os trotskistas acabam por sair do partido (PAIGC), por incompatibilidade. Aparecem mais tarde nas fileiras do MPD, mas logo se incompatibiliam com a linha centralizadora de Carlos Veiga, a lembrar a velha nomenklatura e, mais uma vez, saem, ou são corridos, ou como preferirem.
Grande coincidência ou não, os trotskistas são grandes homens deste país, com partido ou sem partido. São homens admiráveis em si, pela sua Cultura e o seu percurso intelectual. Por mim deveriam continuar a ter uma intervenção altamente política, mas que evitem os partidos. Parece estar demonstrado que, em termos de associativismo, espírito de cidadania, trabalho de grupo, visão de conjunto e capacidade de projecção, ainda estamos longe. Os partidos são só uma parte bem visível deste nosso carácter anti-democrático.
1 comentário:
História é história e acho que as pessoas não devem pagar a factura da história para sempre. A verdade é que a nossa história política nasceu sob uma forte influência comunista, fossem eles maoístas ou trotskistas. Era própria da altura; estávamos a combater o imperialismo, que nos detinha colonizados. Entretanto, na prática, jogamos com todos os quadrantes. Nos dias de hoje, acho que todos merecem uma segunda chance de ter outro pensamento, desde que ajam de acordo com o novo pensamento.
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