12.4.10

Primeira,Classe

Sou fã absoluto do Kriol Jazz Festival, este evento de feliz criação e com duas edições já para contar a história. Sou fã de Jazz, a música da liberdade, no sentido da sua criação, nos campos de trabalhos forçados em que a única força de consolo que os negros podiam ter era cantando, e no sentido interno dessa música que se recria a cada execução. Jazz é crioulo de nascença e condenada a ser crioula para sempre. Não há música mais universal que o Jazz.

Vi a cara bonita do Primeiro-Ministro no Uhau!, a revista social que faltava a esta nova sociedade burguesa, uma montra que se fazia necessária a essa gente que pode (e deve) comprar coisas e amizades e pretendem demonstrá-la, uma espécie de ritual de ascensão social. Não vi muitas dessas caras bonitas no maior evento cultural da cidade por agora, o Kriol Jazz Festival. Talvez essas caras se considerem bonitas demais para não se mostrarem em festivais ou talvez as suas caras só sejam bonitas com make-up e um toque de photoshop em revistas sociais. Ou talvez tão somente não quiseram dar ainda mais brilho à malta do MPD da Câmara Municipal que andaram esses dias de peito inchado e, convenhamos, com razão.

Como disse Djinho, os Manhattan Transfer fazem o check-sound na pracinha da Escola Grande e parece uma coisa banal. Quem podia imaginar que os sons que nos fizeram sonhar por anos, em vinil, em cassetes, agora em CDs, podiam algum dia estar aqui na pracinha Escola Grande e pudéssemos num esticar de braço apertar a mão a um desses avozinhos cheios de genica que cantaram e levaram a audiência à êxtase? Manhattan Transfer foi o orgasmo do festival. Quando cantaram Birdland, um dos mais iconográficos temas dos Weather Report, foi mesmo aquele momento de corpo a tremer e cãibras nos dedos dos pés.

Por dois dias as famílias sentiram-se seguras num perímetro fechado da cidade, para trazerem também os seus filhos, as suas mães e avós, para verem um momento de qualidade raro por cá. Pena que, 1 - só se possa sentir seguro nesta cidade fechando um perímetro e exagerando a presença policial porque de todo o modo vão estar a circular notáveis elementos da sociedade; 2 - só existam raríssimos momentos de qualidade que atrai gente de real valor, que me perdoem ou não a arrogância, gente com uma ponta de bom gosto. De todo o modo, sendo raros esses momentos, faça figas para que torne a acontecer no ano que vem.

Não gostei mesmo foi da política dos espaços dentro do festival. Concordo que possa haver bilhetes sentados e de pé, mas a disposição espacial prejudicou muito os ouvintes de pé. Podemos melhorar esse aspecto. As jam sessions deste ano também não chegaram à unha das do ano passado.

Feliz, é a palavra que me define neste momento.

4 comentários:

Tarrafal disse...

Caro César, concordo perfeitamente contigo. Tomara que aconteça outro no ano que vem. Parabéns ao pessoal da CMP.

Isa Elias disse...

Grande Festival, paisagens sonoras incriveis!!! É pena a politica etilista da parceria CMP e Harmonia, ao fazerem publicidade enganosa (não explicaram às pessoas que o centro da Pracinha iria ser vedado para os lugares sentados)e ao tirarem toda a dinâmica ao Festival! Para além disso dizem que a CMP pagou 10 mil contos para trazer o Festival à Cidade, onde muitos pagaram e assistiram o Festival de lado, e outros muitos que estavam no centro em frente ao palco eram convidados. É esta politica cultural que queremos? Eu digo NÃO!

Talasnega disse...

Foi bom mais uma vez o krioll jazz. Parabenizo aos que um dia tiveram a feliz idéia de trazer até nós (ao vivo) esse tipo de festival que reune a boa musica, logo bons musicos( muito estudo, muita pesquisa e dedicação), porque nem tudo está e vem do sangue.
Pena, foi mesmo a má organização do espaço.Diria mesmo publicidade enganoza e de consumo, que nos fez acreditar por algum momento que estariamos junto ao palco a curtir um bom som e a ver um bom espectaculo na sua plenitude.
A teoria elitista não combina com a essencia do jazz e nem com a emancipação de uma cultura da educação musical que tanto se tem apelado por nossas bandas.Muito bem que se tenha q pagar pela boa música e que se cobre preços diferenciados para a variedade de bolsos.Mas temos que garantir para todos os que pagaram um bom espectáculo( Visto e ouvido).As barraquinhas por exemplo podiam ficar noutro sitio a não ser à frente a obstruir a visão dos que ficaram de pé.

Esperemos que para a próxima, pois nós já estamos a contar com ele, possamos melhorar alguns aspectos relacionados com a organização.Quanto ao jam session fiquei com a manha do ano passado. O toque de improviso pairava no ar em todos os sentidos.

Anonymous disse...

É pena minha gente: O jazz so pertenceu ao povão somente na sua criação... já hoje ele é tido como musica erudita e portanto elitizada.