"Cabo Verde é o país mais europeu de África"
Alberto Navarro (SAPO CV)
Este tipo de afirmação e outras, como a do Dr.Mário Soares que valia mais a Cabo Verde ter-se mantido nação portuguesa, estão na lógica das frases que Salazar proferia para convencer o mundo que na "Guiné Portuguesa" havia paz social, que "Angola é nossa", que Cabo Verde é Portugal, etc. Foram essas afirmações que os Nacionalistas contrariaram para poder ganhar a guerra da Independência. Mas o que me incomoda mais que essas afirmações fáceis e gratuitas, são os dirigentes e intelectuais caboverdeanos que no momento em que os seus pares europeus dizem essas coisas, ficam caladinhos. O meu medo é acreditem mesmo nessas afirmações ou, pior, que não tenham argumentos para rebater.
Agora pergunto, qual é o sentido da frase acima? Se é por causa da língua, não senhores, a nossa língua não se parece com o português; se é por causa da música, não senhores, a nossa música não se parece com a europeia; se é por causa da vida social, sim, é parecida; se é por causa da paz e da democracia....espera, isso não é uma invenção europeia; isso da paz e da democracia, ou a falta delas no nosso continente, não tem a ver com Europa (a civilização, subentende-se), mas sim tem a ver com processos históricos, governos africanos corruptos e governos ocidentais hipócritas, que ao mesmo tempo que reclamam por democracia, vendem armas.
A frase pode ser engraçada, como dizer que Lisboa é uma cidade muito africana. Só que para o nosso caso, onde o debate da identidade está carregada de contradições, essas frases parecem-me completamente evitáveis.
11 comentários:
Prezado César, esse tipo de frases é proferido apenas animar os "pretinhos" que sempre sonharam viver na metrópole. É só pisarmos o chão da Europa para sentirmos que um crioulo, um nigeriano e um maliano pertencem ao mesmo grupo étnico. O resto é bazofaria de crioulo.
Mantenhas
Álvaro
Prezado César, esse tipo de frases é proferido apenas animar os "pretinhos" que sempre sonharam viver na metrópole. É só pisarmos o chão da Europa para sentirmos que um crioulo, um nigeriano e um maliano pertencem ao mesmo grupo étnico. O resto é bazofaria de crioulo.
Mantenhas
Álvaro
Sempre vi com olhar de desconfiança o conceito “Caboverdianidade” pois a mim parece-me que este conceito para alem de expressar a ideia da nossa idiossincrasia, negava nossas raízes (africanas principalmente) . E cultivava ainda mais esse conflito de identidade. Cultiva ainda mais os nossos complexos. Essa tal Caboverdianidade leva muita boa gente a pensar erroneamente que estamos atrás da Europa e um passo a frente do resto do nosso continente.
Depende do ponto de vista. Cada um vê o que lhe convém ver, ou o que as suas capacidades lhe permitem ver.. por ex. alguns podem jurar que cv é o pais chinês de áfrica...
Pois Álvaro, eu também tenho a sensação que nos dizem isso, porque sabem que nos cai bem. É uma comparação positiva, digamos.
Essa do funaná produto do vira tá o máximo! Tiro-lhe o chapéu.
Para mim a questão da identidade, o que me incomoda não é a valorização dos aspectos europeus, porque tê-mo-los na verdade, a começar por esta língua que estou a escrever, que não é a minha língua natural, mas que é um potente instrumento que domino; o que me incomoda na verdade é o, quanto mais afastado de África, melhor. Podia nem ser tanto por nós, mas ao menos por respeito por um continente que sofre muito e merecia um pouco menos de ignorância.
Madeirense, o Mário Soares deve ser perdoado, porque a sua alma já não consegue ser mudada. Grave é quando pessoas novas continuam a perdurar os pensamentos de Mário Soares e os da sua geração.
Esta discussão é sempre difícil no entanto.
Caro César, para as pessoas novas e com isto refiro-me aquelas que não viveram o império colonial e a guerra, Cabo Verde é um país africano como qualquer outro. Quanto muito, sabem que faz parte do CPLP e que lá se fala também português, sendo também um bom sítio para passar umas férias relativamente baratas na praia, tudo o resto nem querem ouvir falar.
Saudosismo, ligação sentimental etc etc com tudo o que tem de negativo, mas também nalguns casos positivo, só as gerações que hoje têm mais de 50 anos, é que ainda têm esses sentimentos.
Será por isso e por estar “gagá” é que o Mario Soares fez essas declarações? Duvido...como digo, ele num dá um ponto sem nó.
Madeirense
Qual seria o país mais americano da África? Ou o país mais asiático da Europa? Se as pessoas têm necessidade de fazer um tipo de "ranking" dos países africanos nestes termos, pelo menos poderiam primeiro procurar saber alguma coisa sobre a África ao ponto de entender que o facto dos caboverdianos se vestirem mais como os portugueses do que, digamos, os guineenses, tem mais a ver com a geografia, a falta de matérias-primas locais e os resultados históricos duma economia que, por Cabo Verde ser arquipélago, sempe esteve muito mais ligado comercialmente a Portugal do que ao resto do continente africano - inclusive, a manufactura local de vestuários, a uma dada altura, chegou a ser punível com pena de morte, embora raramente fosse aplicada. De qualquer maneira, apenas quem olha a superfície das coisas poderia acreditar numa coisa dessas, mesmo tendo a necessidade de saber qual é o país mais "europeu" da África.
Quanto à afirmação musical, convém ler o que o Tinhorão escreveu no seu riquíssimo livro sobre as origens da música portuguesa, e pode-se ver que justamente o contrário é, de forma geral, a verdade.
Jeff
A mim me dá fastio cada vez que nos comparam com as Canárias. A nossa História, como se formou a nação caboverdeana não tem nada ou quase nada a ver com a das Canárias. Enquanto não refletirmos sobre o que somos e o que valemos nunca vamos deixar de lado essa mania de dizer que os outros fazem melhor ou que temos um continente "preto" na mochila. Podemos fazer melhor se acreditarmos na nossa capacidade de actuar no mundo aceitando a totalidade que nos faz unicos e partilhar isso com a Humanidade inteira. Aprender com os outros sim mas não fazer como se fossemos carneiros. Bolas!
(há muito a dizer sobre o assunto!)
moreia
prezado Cesar, li com atenção o seu post e achei-o interessante, não obstante de estar a procura de uma esplicação para esta mania dos caboverdeanos em se ofender com tudo aquilo que os estrangeiros falam sobre Cabo Verde. Eu sou Caboverdeano, logo não sou nem Europeu nem Áfricano. Não posso ser Áfricano por estar perto desse continente e ter vindo de uma costela dos seus habitantes, nem ser Europeu por ter vindo da outra costela dos Portugueses. Afinal o Mundo não é Europa, não é China, ou outra nação qualquer que tenha saido a conquista. Mas o que nos inquieta afinal? Vem uma Brazileira e diz algumas verdade sobre a nossa culinária os mais atentos explodem, depois chega outro do Brazil e fala da nossa lingua e roupa de chines, nova esplosão sem vitimas mortais e agora chega o Mario Soares, que antes era referenciado como um dos melhores Politicos e humanistas Euriopeu a dizer umas poucas e boas, eis que a terceira guerra mundial se tornou uma iminencia.
Meu caro César, confesso que me alertas-te para algo que não tinha pensado antes, ...a facilidade com que se fala de Cabo Verde." tens completa razão, muitas vezes deixamos a impressão que não temos capacidade de fazer e ou pensar. Pedimos demais, afinal cada dia que passa endividamos mais ainda, e parece que iremos ou estamos pagando com a nossa alma, digo isso quando vejo políticos pondo a venda a alma e a mãe.
Olá César, tenho uma compilação de dados estatísticos sobre Cabo Verde aqui. São do Banco Mundial. Cumprimentos.
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