O Vereador estava vestido como deve ser, roupas de gabinete, e tinha as mão cruzadas atrás das costas, em gesto de não interromper quem fala.
Uma mulher interceptou-lhe o caminho entre a saída da Câmara Municipal e o destinho que ía seguir. Deu-lhe beijinhos. O Vereador sorriu, colocando-lhe uma mão paternal nos ombros, Salve! Como está? Estou bem Vereador...olhe tenho aqui um assunto. Foi tirando papéis da bolsa, dois ou três maços, segurou um com o queixo, enquanto esfolhava o outro, começou a bater com o dedo num parágrafo, e num passe, trocava o maço que tinha segurado com o queixo para uma mão e outro para debaixo do braço, não perdendo a linha, continua a mostrar parágrafos,percurtindo os dedos no papel. O Vereador recolheu as mãos paternais para atrás das costas, fechando devagar o sorriso, como que evitando qualquer interrupção na convita debitação de palavras da mulher, que não se ouvia de longe, mas que se adivinhava nas rugas da sua testa. Não sei, acho que ela terá mesmo tirado uma lágrima. O Vereador a olhava quase lhe vendo o interior dos olhos, abanando a cabeça como fazem os padres.
Talvez o Vereador chege em casa e conte à sua mulher do ocorrido, após todos os arranjos domésticos, banho, jantar, TV, e já trocando as intimidades da cama. Talvez demore mais minutos a dormir hoje. Provavelmente irá se lembrar em especial da mulher, daqui a uns anos, no momento de distribuir lotes de terrenos, sacos de cimento, ou ferro, em campanha.
7 comentários:
poxa césar confesso que gosto de ler os teus post, que são de um realismo tocante. Sei que não podia esperar de ti outra coisa, porque és um excelente fotógrafo e com isso adquires um olhar, uma observação particular daquilo que muitos não querem ver. continua manifestando a tua cidadania com convicção e isenção que tens mostrado porque mesmo não querendo muitos decisores lêem as tuas pastagens, e um dia hão de reflectir sobre aquilo que tem feito ou que pensam fazer.
Um comentário fora da sua postagem. Desculpe-me.
Sou brasileiro e tenho uma filha que vive em Cabo Verde. Gosto de ler muito sobre este povo, assim compo ela gosta daí.
Você cita, ao lado, os "Crimes Culturais (Impunes)" e dentre eles, "Língua Caboverdiana, votada à confusão e à ignorância". Não entendi. Você poderia explicar.
Gostei de ler o seu blog. Muito bom.
Abraços, Mauro Cherobim
concordo com a opinião do MRVADAZ. Não deixa de ser pura fixação num passado que muitos de nós não viveu, para se estar a dizer que a língua de Camões é uma imposição. Imposição é o decreto que nos obriga a utilizar o Alupec mesmo sob contestação de muitos(maioria). Um descomplexado usa o Português sem problema, afinal ela também nos pertence, não há nenhum caboverdeano que não encontrou a língua Portuguesa. Eu defendo o ensino do Português assim como defendo que se deve ensinar crioulo sim mas com base no mesmo alfabeto, e que seja respeitada todas as variantes no que diz respeito a publicação de manuais, de oportunidade de ser expressada e usadas na comunicação social.Para que o Alupec se o Alfabeto que serve par escrever o Português, francês, inglês, etc é o mesmo que nos permite escrever o crioulo?
A imposição foi consequência "natural" do colonialismo. Todos os países colonizados foram-lhe imposta a língua do colonizador. Não vejo grandes polémicas por aqui. Reparem que não estou dizendo que hoje haja uma imposição dessa língua. Mais uma coisa, eu também defendo muito o português, como defendo os edifícios e demais coisas resultantes do colonialismo, porque são Património Cultural nosso, independentemente do que este na sua origem.
Cada debate no seu lugar.
A propósito desta passagem "mas todo o mundo fala em crioulo (que eu prefiro dizer "caboverdiano" por um questão de prestígio).": 1º crioulo é uma língua (ou dialecto)que resulta da mistura da língua autóctone com uma outra língua e que se torna língua materna. Portanto, em Cabo Verde fala-se crioulo cabo-verdiano e não crioulo (simplesmente). Por isso, não é uma questão de prestígio mas de precisão. pois, existem vários outors países que falam crioulo (outros). 2º ou usas "cabo-verdiano" (com hífen e "i") ou caboverdeano (tudo junto, com "e").
Obrigado pela precisão.
Desculpem a minha ignorância quanto ao assunto em questão, mas se nós começamos a "crioulidade" enquanto língua, não vejo qual é o mal em dizermos apenas crioulo.
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