Avatar, o grande "sucesso" cinematográfico da actualidade custou mais de 300 milhões de USD, o que equivale a 24 milhões de contos CVE, fazendo as contas com o dólar a 80$ CVE, ou seja metade do orçamento do Estado CV para 1 ano de funcionamento! Tão a ver o que é isso? Esse dinheiro paga todos os professores, todos os médicos e enfermeiros, todas as despesas de funcionamento dessas duas instituições, durante 1 ano!...E no entanto uma porcaria de argumento!
Hollywood impôs uma bitola industrial ao cinema, até que a Nova Vaga, aí pelos anos 50, veio acabar com essa visão. Hollywood hoje está a enfrentar problemas, precisamente de orçamento. É um cinema caro, que só se mantêm se as bilheteiras estiveram sempre a somar avultadas somas, o que vai se tornando mais difícil, por causa da crescente de outros medias, da multiplicidade de outros cinemas e outros factores mais. A solução apontada por alguns produtores da Hollywood para sair da crise é a aposta nessas super vistosas produções que tornaram a atrair multidões para as salas de cinema, naquela da novidade. Mas a fraqueza do argumento de Avatar parece-me inaceitável face ao dinheiro que custou. Tenho de me render à sua beleza visual, incomparável no seu refinamento de imagem de síntese, o que faz avançar a tecnologia, mas esse cinema continua a privilegiar o entertenimento em desfavor da arte, que me faz cada vez mais um não-adepto dessa visão do Cinema.
Tetro, o novo filme de Francis Ford Coppola, tem um orçamento de 5% de Avatar, nem sequer entrou para os Óscares, e no entanto é uma belíssima peça cinematográfica. Aqui não vale o argumento de que é um questão de gostos. Que eu saiba um bom filme ainda se define pelos seus parâmetros clássicos: argumento, realização, interpretação, produção, fotografia, sonoplastia, sendo os mais importantes. Tetro tem isso tudo no topo de excelência. Mas é um filme no sentido clássico do termo, filme de autor, sem grandes truques visuais para manter a audiência acesa, uma estória dramática, dura, humana, de uma maestria de realização, que também faz avançar o Cinema.
Entre um fazer da arte que custe tanto dinheiro e um fazer que exija força de imaginação, sendo eu habitante de um país pobre, de um mundo tremendamente desigual, amando profundamente o cinema como amo, defendendo que temos de fazer também o nosso cinema, escolho sem pestanejar, um fazer da arte em que o seu valor intrínseco seja maior que todos os demais valores. Podemos fazê-lo...e vamos fazê-lo.
2 comentários:
Entendo a sua frustação em relação ao Avatar, e isso tem mais a ver com gosto pessoal. Mas acho que monosprezou por demais o filme. Digo isto porque o Avatar marca ínicio de uma nova era na índustria cinematográfica, e muitos consideram James Camerom um autêntico visionário. Se tivesse visto o filme em 3D entendias melhor do que estou a falar :). Començaram a desenvolver filmes em 3D nos meados do século passado, e só agora Cameron conseguio desenvolver uma nova geração de camaras estereoscopicas, especialmente para realizar filmes em 3D e daí o alto custo. Para apreciar um filme de genero Sci-Fi Thriller, tem que ser um amante de efeitos especiais.
Entendo perfeitamente a "revolução" que Avatar operou. O filme, mesmo em 2D é lindo, do ponto de vista exclusivamente visual. Mas essa guerra é antiga e tem a ver com o modelo de cinema. Sou assumidamente do cinema de autor, sem purismos intelectuais, nem modéstias cínicas. Sou mais por uma arte desprovida de recursos. Sou pelo lema de Glauber Rocha "Uma câmara na mão, uma ideia na cabeça"
...E como disse, sendo eu de um país pobre e vivendo numa era de tremendos desajustes sociais ao nível mundial.
Lembro do filme icónico de Ridley Scott, The Blade Runner, que foi um escândalo de orçamento na altura, mas também fez avançar a tecnologia. Também Cameron fez Titanic, igualmente pobre de argumento, que fez avançar a tecnologia. Mas em todos esses "avanços" sinto que a arte em si, neste caso a arte dramática, ficou onde estava. Só temos um pouco de magia, MUITO cara.
Obrigado
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