Voltando à polémica do Primeiro-Ministro e dos thugs, porque parece que a pessoas que criticaram essa iniciativa estão a ser mais atacadas que o próprio Primeiro-Ministro. Reafirmo o que penso. O encontro chocou-me. Pareceu-me altamente demagoga e extemporânea. Duvido dos seus resultados práticos e não me parece que um das mais importantes instituições do Estado devesse abrir um precedente desses.
Em primeiro lugar, estamos a reconhecer um redondo falhanço de Estado ao elevar os thugs (esta expressão imprecisa) ao estatuto de "instituição". Uma das confusões dessa noção de thug é saber-se afinal o que é thug? É uma pessoa em delito com a sociedade, é um forma de ser, é uma forma de vestir, ou o que é na verdade? Começa por aí, que trabalho sociológico delimitou essa noção de thug? Dizem-me que há thugs bons e maus. Onde está a fronteira?
Em segundo lugar, o Primeiro-Ministro escolheu um grupo de pessoas para se encontrar, pulando toda a hierarquia da função social do Estado. Pulou ministro, presidentes de institutos, ONGs, etc., e foi ao terreno directamente, como se ele estivesse em campanha. Reparem que é diferente um Primeiro-Ministro visitar uma instituição, ou um grupo, e assumir a direcção pessoal da problemática dessa instituição. Agora digam-me, e se todas as organizações da sociedade civil começarem a exigir que o Primeiro-Ministro desça ao terreno para resolver os seus problemas?
Se o Primeiro-Ministro estivesse realmente engajado em enfrentar esta problemática social, existe toda uma rede de instituições para lidar com isso. Talvez essa rede não esteja a funcionar e o Chefe do Governo deva repensá-la. Talvez devêssemos pôr em causa todos os institutos públicos e a própria política social do Governo. Mesmo que o Primeiro-Ministro insistisse a assumir a direcção dessa problemática, porque não procurou as inúmeras associações civis, nos bairros, de pessoas idóneas, que já estão no terreno há muito tempo e que são representativas de verdade de uma determinada população?
Estamos face a um grave problema de exclusão social neste país. Essa exclusão se exprime pela elevada taxa de desemprego, pelo alto déficit habitacional, pela inexistência de equipamentos básicos para a maioria da população (de referir que só na Praia, mais de 50% das casas não tem casa de banho); essa exclusão se exprime também geograficamente, com a pobreza a identificar-se com áreas inteiras das cidades, com as encostas, as ribeiras e os piores terrenos, enquanto que os melhores são vendidos a empresários nacionais e estrangeiros para a especulação. Essa exclusão é também de informação, lazer e cultura. Enfim, tenhamos a coragem de assumir a pobreza ainda gritante deste país. Mas assumi-la de forma elevada e não com essas acções publicitárias.
Uma pergunta: onde anda o Chefe da Oposição no meio disso tudo? Que alternativas tem a Oposição em vez de estar a propalar que o Governo está esgotado? Onde está o famoso Governo Sombra? É muito confortável para a Oposição ficar sentadinho a ver a caravana passar, mas que saibam que a situação deste país é igualmente da sua responsabilidade.
4 comentários:
Este encontro vai ficar na antologia das maiores anormalidades políticas de um governo democraticamente eleito, em Cabo Verde. Esta acção merecia a demissão conjunta das hierarquias do poder judicial e dos orgãos de polícia, noutro país claro...
Vamos ver o que vai dizer o nosso PM quando morrer o primeiro polícia, ou até mesmo um juiz.
Paulo
Paulo, cruz, credo, abrenúncio!!... Que não cheguemos a esse ponto.
De todo o modo quero ver os resultados práticos disso tudo. Falaremos sobre isso mais a frente.
César, estranho a razão da tua admiração. Uns são marginais que cultivam a violência e muitos até estão armados com armas de fogo, os outros são profissionais com a missão de repor a lei e a ordem, que o fazem com o risco da própria vida. A questão é só: quando teremos a primeira vítima?
Paulo
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